segunda-feira, 25 de abril de 2016

Temporada 2016

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (23/4/2016)

Crítica/ “A cuíca do Laurindo”
A malandragem em várias frentes

É sem dúvida, uma comédia musical à brasileira com forte sotaque carioca. O personagem central e o instrumento mencionados no título, não deixam dúvidas sobre o que o autor Rodrigo Alzuguir escolheu como locação. A trama fala de um certo malandro, hábil instrumentista e diretor da fictícia escola de samba Lira do Amor do morro da Mangueira que, nos idos de 1940, se envolve com duas mulheres. A existência de Laurindo é inspirada na música “Triste cuíca”, de Noel Rosa (1935), reaparecendo depois em forma de citação em composições de Herivelto Martins e Wilson Batista. Mas se a lembrança dessa figura se concentra no ambiente da época, com o repertório musical e acontecimentos do período, a dramaturgia se distribui por tantos gêneros, que acaba perdida nos seus várias alvos. A história do musical é desdobrada em melodrama passional, show de gafieira, farsa de mistério e cortina de revista, numa multiplicidade de rumos que alonga o espetáculo e desvia atenções. Alzuguir demonstra cuidado e critério como pesquisador, ainda não tenha maior intimidade com a escrita teatral. A fartura de estilos cria uma narrativa híbrida, na tentativa de ajustar ao entrecho sobrecarregado de idas e vindas, o bem selecionado roteiro musical. O sentido dispersivo com que o texto é conduzido, se transfere à direção de Sidnei Cruz e à cenografia de José Dias. O diretor ativa, ainda mais, a pluralidade de gêneros embutida na história com movimentação um tanto anárquica das cenas que não alcançam fluência entre diálogo e música. O dispositivo cenográfico é utilizado também de modo confuso, com os atores ocupando o espaço, em subidas e descidas, sem quaisquer justificativas. O figurino de Flavio Souza não escapa do convencional e a iluminação de Aurélio de Simoni fica restrita à correção. A direção musical de Luís Barcelos e a participação dos cinco instrumentistas exploram, moderadamente, a diversidade rítmica. Do elenco disciplinado, sobressaem a comicidade de Claudia Ventura e a presença malandra de Alexandre Moreno.