Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (23/4/2016)
Crítica/ “A cuíca
do Laurindo”
É sem dúvida, uma comédia musical à brasileira
com forte sotaque carioca. O personagem central e o instrumento mencionados no
título, não deixam dúvidas sobre o que o autor Rodrigo Alzuguir escolheu como
locação. A trama fala de um certo malandro, hábil instrumentista e diretor da
fictícia escola de samba Lira do Amor do morro da Mangueira que, nos idos de 1940,
se envolve com duas mulheres. A existência de Laurindo é inspirada na música
“Triste cuíca”, de Noel Rosa (1935), reaparecendo depois em forma de citação em
composições de Herivelto Martins e Wilson Batista. Mas se a lembrança dessa
figura se concentra no ambiente da época, com o repertório musical e
acontecimentos do período, a dramaturgia se distribui por tantos gêneros, que
acaba perdida nos seus várias alvos. A história do musical é desdobrada em melodrama
passional, show de gafieira, farsa de mistério e cortina de revista, numa
multiplicidade de rumos que alonga o espetáculo e desvia atenções. Alzuguir
demonstra cuidado e critério como pesquisador, ainda não tenha maior intimidade
com a escrita teatral. A fartura de estilos cria uma narrativa híbrida, na
tentativa de ajustar ao entrecho sobrecarregado de idas e vindas, o bem selecionado
roteiro musical. O sentido dispersivo com que o texto é conduzido, se transfere
à direção de Sidnei Cruz e à cenografia de José Dias. O diretor ativa, ainda
mais, a pluralidade de gêneros embutida na história com movimentação um tanto
anárquica das cenas que não alcançam fluência entre diálogo e música. O
dispositivo cenográfico é utilizado também de modo confuso, com os atores ocupando
o espaço, em subidas e descidas, sem quaisquer justificativas. O figurino de
Flavio Souza não escapa do convencional e a iluminação de Aurélio de Simoni fica
restrita à correção. A direção musical de Luís Barcelos e a participação dos
cinco instrumentistas exploram, moderadamente, a diversidade rítmica. Do elenco
disciplinado, sobressaem a comicidade de Claudia Ventura e a presença malandra de Alexandre Moreno.