Aurora da minha vida: Marieta Severo, Analu Preste, Cidinha Milan e Mario Borges (1982) |
Havia muito de intuitivo e biográfico na criação
de Naum Alves de Souza. Da trajetória percorrida da infância no interior
paulista à maturidade artística, consolidada na capital, o professor, autor,
desenhista, figurinista, cenógrafo e diretor recriava lembranças como matéria
prima de formas e palavras que desvendava no impulso das descobertas. A
religião e a escola que se impõem como dogmas, transformam orações, hinos e
bandeiras em alegorias de emoções reprimidas e sanções sociais. O universo
familiar com seus códigos dissimulados, é confrontado com a crueldade das
banalidades. Os fantasmas pessoais são sombrias e tristes memórias de pecado. E
o mundo que chegava pelo rádio, ganha o afeto da nostalgia. Na construção dessa
dramaturgia memorialística e de imagens de múltiplos traços, o pluriartista se faz
na prática de experimentar meios expressivos e na tentativa de investigar
sentimentos. Dos tempos de professor de arte para crianças, criação do grupo cult paulistano Pod Minoga, e nas assinaturas da cenografia do show
“Falso brilhante”, de Elis Regina, e do visual minimalista de “Macunaíma”, na
direção de Antunes Filho, a atuação de Naum se mantinha com a mesma discrição
de sua personalidade tímida e reservada. O núcleo de sua dramaturgia – “No
Natal a gente vem te buscar”, “A aurora da minha vida” e “Um beijo, um abraço,
um aperto de mão” – tão expositiva nas suas características pessoais, não se contradiz
com a timidez do autor, mas o aprisionou nas próprias recordações. Ainda que
tenha escrito outros tantos textos (“Suburbano coração”, “Nijinski”), roteiros
(“Dona Doida”, “O Grande Circo Místico”), a essência da sua produção dramática
está concentrada na década de 1980, no período em que era disputado por
atrizes-empresárias que desejavam mantê-lo em cena a cada nova escrita. A
partir dos anos 1990, dedicou-se mais à direção de textos que, por coincidência
ou não, parecem se harmonizar com sua sensibilidade autoral (“Longa jornada de
um dia noite adentro”, de Eugene O’Neill, “Pequenas raposas”, de Lillian
Hellman).