segunda-feira, 11 de abril de 2016

Temporada 2015

Naum Alves de Souza
Aurora da minha vida: Marieta Severo, Analu Preste, Cidinha Milan e Mario Borges (1982) 
Havia muito de intuitivo e biográfico na criação de Naum Alves de Souza. Da trajetória percorrida da infância no interior paulista à maturidade artística, consolidada na capital, o professor, autor, desenhista, figurinista, cenógrafo e diretor recriava lembranças como matéria prima de formas e palavras que desvendava no impulso das descobertas. A religião e a escola que se impõem como dogmas, transformam orações, hinos e bandeiras em alegorias de emoções reprimidas e sanções sociais. O universo familiar com seus códigos dissimulados, é confrontado com a crueldade das banalidades. Os fantasmas pessoais são sombrias e tristes memórias de pecado. E o mundo que chegava pelo rádio, ganha o afeto da nostalgia. Na construção dessa dramaturgia memorialística e de imagens de múltiplos traços, o pluriartista se faz na prática de experimentar meios expressivos e na tentativa de investigar sentimentos. Dos tempos de professor de arte para crianças,  criação do grupo cult paulistano Pod Minoga, e nas assinaturas da cenografia do show “Falso brilhante”, de Elis Regina, e do visual minimalista de “Macunaíma”, na direção de Antunes Filho, a atuação de Naum se mantinha com a mesma discrição de sua personalidade tímida e reservada. O núcleo de sua dramaturgia – “No Natal a gente vem te buscar”, “A aurora da minha vida” e “Um beijo, um abraço, um aperto de mão” – tão expositiva nas suas características pessoais, não se contradiz com a timidez do autor, mas o aprisionou nas próprias recordações. Ainda que tenha escrito outros tantos textos (“Suburbano coração”, “Nijinski”), roteiros (“Dona Doida”, “O Grande Circo Místico”), a essência da sua produção dramática está concentrada na década de 1980, no período em que era disputado por atrizes-empresárias que desejavam mantê-lo em cena a cada nova escrita. A partir dos anos 1990, dedicou-se mais à direção de textos que, por coincidência ou não, parecem se harmonizar com sua sensibilidade autoral (“Longa jornada de um dia noite adentro”, de Eugene O’Neill, “Pequenas raposas”, de Lillian Hellman).