Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (9/3/2016)
Crítica/ “33
variações”
São histórias paralelas que avançam com variações
musicais. A musicóloga Katherine Brandt, com estado de saúde precário,
investiga a razão pela qual Beethoven, também assaltado por doença, se entregou
a escrever 33 variações para piano da valsa do medíocre compositor austríaco
Anton Diabelli. A pesquisa de Katherine exige que se aproxime da funcionária da
biblioteca que a assessora, e que se afaste da filha, com quem tem conflitos,
reproduzidos na relação da garota com o namorado enfermeiro. Já Beethoven, entre
1819 e 1823, mergulha com furor na escrita musical para concluir a sua
compulsiva tarefa. O autor, Moyses Kaufman, demonstra a mesma persistência de
seus personagens, reunindo um volume de informações sobre eles que inunda a
ação dramática. Mas o real fluxo narrativo caminha de modo um tanto emperrado,
fixando-se em detalhes secundários, valorizando um contexto enganosamente histórico,
construindo um melodrama de circulação entre séculos. O paralelismo soa com
repetidas coincidências, justificando apenas parcialmente o título, já que o
texto está mais próximo da reiteração duplicada do que da variedade autônoma. A
excessiva duração da montagem, exigida pela prodigalidade de Kaufman, a obriga
a estender-se por dois atos e a movimentar a trama ao compasso da música, neste
caso clássica. E o diretor Wolf Maya, sem dúvida, apostou na música. A
participação da pianista Clara Sverner, que interpreta as variações de
Beethoven com técnica e sensibilidade, está assinalada como ponto central da
cena. Não só pelo espaço destacado da pianista no palco, como pela cenarização
e pausa sonoras que estabelece para sublinhar a sucessão de quadros. Mas o
diretor expandiu o papel da instrumentista
para compor a montagem no modelo dos musicais à americana. Não são poucas
e dispensáveis as projeções, as subidas malabaristas em panos do elenco de
apoio e as cenas meramente figurativas, que esvaziam a concentração no
entrecho. A única e eficiente lembrança aos musicais, deve-se ao final, quando
o coro ocupa as partes laterais da plateia, com efeito de impacto e, até certo
ponto, surpreendente. Pena que chegue atrasado ao espetáculo de pouca
comunicabilidade e nenhuma surpresa. A cenografia pesada de J.C. Serroni, bem iluminada por Aurélio de Simoni, ocupa o
palco do novo teatro Nathalia Timberg, que se mostra bem equipado tecnicamente
e que dispõe de palco propício a produção maiores. Como se estivesse voltado
para os musicais. Em atuações nem sempre
necessárias, os 14 figurantes se relevam excelentes cantores no coro que
encerra a genérica encenação. Gil Coelho procura dar alguma consistência
interpretativa ao ocasional enfermeiro. Gustavo Engracia impõe característica
física à composição do assistente de Beethoven. Flávia Pucci acentua o tom
choroso da filha. Lu Grimaldi sustenta a rigidez do comportamento da
bibliotecária. Tadeu Aguiar tenta reavivar o apagado Diabelli. Wolf Maya é um
Beethoven histriônico. Nathalia Timberg adota linha sóbria para a especulativa
Katherine.