quinta-feira, 1 de agosto de 2013

27ª Semana da Temporada 2013


Musicais em Vários Formatos

Crítica/ Jim
Gestos mimentizados de clone existencial

Walter Daguerre, autor deste recital dramático sobre o cantor do The Doors em cartaz no Teatro Leblon, envolve a figura de Jim Morrison no clima rock'n'roll de sua curta e destemperada vida, projetando-o em personagem nascido no mesmo ano de sua morte. A identidade construída por esse clone existencial, que procura reviver a rebeldia do ídolo, recorrendo a citações de poetas cultuados por Jim, reproduz atitudes e revive semelhanças. Numa atmosfera em que se misturam tempos e biografias para encontrar as similitudes, Daguerre reforça a associação das duas figuras, forçando a extensão do temperamento radicalmente criador de Morrison à mediocridade do fã sem rebeldia e causa. A presença da personagem feminina se reduz a projeção sem filtros de uma vida em outra, acentuando o tom meramente biográfico que, ao que parece, foi o que o autor pretendeu ultrapassar. Paulo de Moraes amplia encenação para o show de rock e a exaltação musical, tratando as firulas existencialistas do texto como introdução à poesia e à intensidade das apresentações do cantor Morrison no palco. A iluminação de Maneco Quinderé é decisiva para essa atmosfera. A direção musical de Ricco Vianna e a banda também têm papel preponderante no desenho da imagem de show evocativo. Eriberto Leão mimetiza corporal e vocalmente a figura de Jim Morrison, desempenhando com intensa força as canções e a letras da atormentada e fugaz estrela pop.           

Crítica/ Forrobodó – Um Choro na Cidade
Ingenuidade matreira de fundo de quintal
A burleta de Carlos Bettencourt e Luiz Peixoto, com músicas de Chiquinha Gonzaga, direção de André Paes Leme, em cartaz no Teatro Ginástico, teve versão em 1995 assinada pelo mesmo encenador. Há 18 anos, a adaptação de Paes Leme insuflava agradável sopro de novidade à peça escrita em 1912, revisitando a ingenuidade matreira e a caricatura amável de participantes de um baile popular. Nesta montagem, o diretor ambienta a trama numa gafieira sem localizar em que momento, e sem evocar a época em que Forrobodó estreou. O figurino é a demonstração dessa atemporalidade. Mas ao experimentar postiça participação da plateia, convidando alguns espectadores ao palco, revela a própria desconfiança na linha adotada de trazer a narrativa para imprecisa roda de samba, chorinho e maxixe de fundo de quintal para a atualidade. O elenco nem sempre projeta bem as canções, não só por limitações vocais, como por interpretar de maneira muito empenhada as letras. O esforço quase sempre conduz os atores-cantores ao exagero. Com ressalvas para Marcos Sacramento, que se impõe pela ponderosa voz, e para Érico Brás, pela agilidade de dominar uma comicidade popular. Destaques da montagem: a direção musical de Maria Teresa Madeira e os arranjos de Leandro Braga.

Crítica/ Para Sempre, Abba
Hora da saudade para sessentões
É como show que esse musical em cartaz no Teatro Clara Nunes acaba por se realizar, apesar de tentar dramatizar coletânea de músicas do grupo Abba. O grupo sueco, que se popularizou na década de 70, é mais um fenômeno de vendas do que propriamente notável pela qualidade do repertório. Com suas músicas fáceis, letras pouco inspiradas e monotonia das composições– ao ouvi-las em conjunto, essas características se acentuam –, a transformação de canções inexpressivas em espetáculo não deixa de ser um desafio. Rodrigo Cirne, roteirista e pesquisador musical, apostou na lembrança daquela geração que comprou os discos do Abba e em alguns hits do conjunto para armar uma vaga imagem – hóspedes e empregados de um hotel – e quadros temáticos – apresentações e chegadas, flerte, paixão, decepção, celebração, etc – para ilustrar a sequência de músicas. Não há, propriamente enredo, mas entrecho visual, apoiado em exuberância e volume de figurinos. O diretor Tadeu Aguiar administrou o material disponível, procurando dar vida cênica às canções. Com coreografia convencional, direção musical que atende às exigências das composições e elenco de bons cantores, a montagem deve embalar a memória adolescente dos hoje sessentões.

Crítica/ Randevu do Avesso
Divertimento malicioso para além do tempo
A ideia é acondicionar a revista em invólucro atualizado. A estrutura explora o gênero, através de um fio de história em que, absurdamente, os personagens são os órgãos internos do corpo de um estrela do music hall. Em quadros cômicos e musicais, números de plateia e velhas piadas de duplo sentido, essa revista pelo avesso repete com reduzida inventividade e sem o vigor da recriação supostos exemplares da Praça Tiradentes e arredores. Por mais desencontrado que possa parecer esse revival de espírito e brilho apagados, a equipe demonstra empenho em se lançar na empreitada. O texto de Cláudia Mauro, desequilibrado, a música original de Claudio Lins, empenhada, o figurino de Claudio Tovar, farto, e o cenário de Nello Marrese,   sobrecarregado, mostram dissintonia com o gênero. Os atores, com maior ou menor capacidade para o canto, com mais ou menos, segurança para o improviso, desempenham seus tipos em várias cenas, a maioria um tanto alongadas, o que estende a duração da montagem para além do tempo desejado para um divertissiment malicioso. O caráter de revista de bolso não é suficiente para acomodar Randevu do Avesso ao espaço do Café Pequeno: o espetáculo extravasa os limites exíguos do teatro.
  
                                                      macksenr@gmail.com