sexta-feira, 16 de agosto de 2013

29ª Semana da Temporada 2013


Crítica/ A Porta da Frente
Relações familiares confrontadas por vizinho  
Julia Spadaccini, autora deste texto em cartaz no Oi Futuro do Flamengo, está atualmente com outras duas peças em cena e nos últimos anos tem conseguido encenar sua intensa produção dramatúrgica. Em pouco mais de uma década, Spadaccini estabeleceu seu universo autoral numa constante e crescente afinação de meios e de ampliação de alcance de sua linguagem. A Porta da Frente confirma esse avanço expressivo e a tendência de fazer das relações familiares, material de desvendamento e exposição de conflitos. O dissonante casal - ele, medíocre corretor de imóveis, ela, neurótica dona de casa -, os desajustado filhos gêmeos - ela, obcecada pela aparência, ele, tentando entender-se num mundo que não se sente aceito -, são confrontados com a presença de vizinho crossdresser. A figura masculina vestida de feminino provoca reações em cada um, que interpreta com sentimentos de estranhamento e preconceito aquele que não consegue decifrar. À bisbilhotice seguem-se incompreensões e avaliações equivocadas que conduzem a ato definitivo. A narrativa se estabelece sobre situação desenvolvida sem tropeços, apoiada por diálogos com veracidade social, mas deixa a dúvida sobre os traços desse núcleo. Há uma certa esquematização na trama e caracterização aligeirada dos personagens. A dupla de diretores – Jorge Caetano e Marco André Nunes – mantém a montagem em ativo movimento, aproveitando os aspectos mais ágeis do texto. Os diretores valorizam o entrecho e suas pistas desviantes (ambiguidades e enganosas antecipações) até o final nada surpreendente. O cenário de Aurora dos Campos ocupa com eficiência o pequeno palco. O figurino de Rui Cortez sublinha com exagero as excentricidades da avó. Nina Reis e Felipe Haiut se amoldam a figurar os gêmeos. Maria Esmeralda Forte ressalta o ar de ausência da velha senhora. Rogério Freitas encarna com naturalismo o pai. Malu Valle é uma mãe de voltagem neurótica. Jorge Caetano interpreta com refinada sutileza o vizinho.   

 Crítica/ Síndrome de Chimpanzé
Filme B em plataforma espacial sem tecnologia
Confrontar-se com o texto de Alex Cassal, em cartaz no Espaço Sergio Porto, é verificar como o que pode apontar interessantes possibilidades, se esvai, facilmente, pelos diversos caminhos experimentados. Não se trata de discutir apenas o resultado, mas o percurso que parece ter se iniciado em uma direção, e que ao longo do andar enredou-se, perdida, por atalhos. Astronautas russos, solitários numa plataforma espacial, assistem ao fim da vida terrestre, monitorados por computador grande irmão, despregados da origem, reproduzindo relações que trouxeram na nave nesta viagem sem volta. Pretende-se com esse fio narrativo, pousar em espaços tão abrangentes quanto a sexualidade, a finitude, a ausência de perspectivas, a incerteza de continuidade, e algumas outras variáveis de risco da vida contemporânea. É bastante ambição para uma série de cenas que evoluem quase arbitrariamente, se desconectando como integridade narrativa, aparentemente sem que esta tenha sido a intenção. Cada cena ganha independência, isoladas e exibicionistas, perseguindo efeitos. Na origem da Síndrome de Chimpanzé estão a ingenuidade de histórias de quadrinhos para adolescentes de outras décadas e ficção científica dos antigos filmes b do gênero. Há a precariedade nestas inspirações que a montagem não aproveita como meio para encorpar a encenação. Reforça a brincadeira, ao contrário de assumir tom crítico em relação a esses meios, enfatizando somente os contornos um tanto kitsch. A cenografia artesanal acentua ainda mais as muitas precariedades da montagem. E não se compreende  a razão pela qual a tecnologia não é utilizada, já que poderia ser um acessório para comentar a inspiradora linguagem científica-ficcional. Os atores Felipe Rocha e Ricardo Linhares fazem demonstração de suas habilidades físicas em atuações performáticas. Stella Rabello se desprega da performance, mas não sustenta com atuação mais contida a cena que encerra, fragilmente, a montagem.           
                                                         macksenr@gmail.com