sexta-feira, 17 de maio de 2013

18ª Semana da Temporada 2013


Ivan Sugahara em Duas Direções

Crítica/ Sarau das Putas
Impressões ligeiras sobre "a vida fácil"
Pela origem (uma residência artística) e título ( um sarau), a montagem em cartaz no Teatro Poeira já demonstra a extensão de suas ambições. O tema da prostituição foi tratado como almanaque de lugares-comuns sobre aquela que um dia foi chamada de “vida fácil”. Podem ser relacionados entre tantos reunidos nesta encenação, os das velhas prostitutas da belle époque francesa, os da defesa do prazer como valor intrínseco da profissão, os das fantasias masculinas mediando a relação com as mulheres, além de imagens e palavras que levam à nudez e à vulgaridade. Nesta montagem, dispensam-se comentários ou observações, substituídos pelas letras de músicas que concluem o que acabou de ser dramatizado. Aparentemente, os textos nasceram de impressões das atrizes sobre as prostitutas, e no caso de uma delas, há até a referência à bisavó que exerceu a profissão. Verdade ou ficção, o material reunido tem pouco expressividade dramática. Escritas pelo diretor Ivan Sugahara, Renata Mizrahi e Vitor Barbarisi, as cenas foram estruturadas sem interligação, restando um fiapo de narrativa e o ensaio de um percurso com algum clima, como na sensibilização do público de olhos vendados. São dois atos alongados, que parecem condicionar sua duração à necessidade de acomodar todo o elenco. O primeiro ato, repleto de chavões que o imaginário registra das “mulheres da vida”, é, de certo modo, atenuado no segundo, com alguma variante na tipificação como são tratadas as personagens. Aqui e ali, pode-se sentir que um texto teve tratamento mais elaborado, mas são raros e diluídos em meio a tantos outros convencionais. Uma boa cena é a da cadeirante, que estabelece potente imagem em um momento, e reaparece em outro, num flash de humor cruel. Sugahara persegue o clima de sarau com as músicas encerrando os quadros, mas como as atrizes têm reduzida capacidade para o canto, as mudanças  das intérpretes e das histórias ficam atrofiadas no roteiro sequencial. Das treze atrizes, a maioria ainda em processo de formação, se destacam Laila Garin, por presença mais firme, Laura Limp, pela maneira como conjuga beleza e ambiguidade, e Carolina Ferman por transitar pela fantasia e hipocrisia.
  
Crítica/ Tarja Preta
Conversa de bêbados em torno de rótulos
Adriana Falcão imprime ritmo descritivo à palavra, que ganharia viço em cena se melhor escolhida e adaptada. Em Tarja Preta , em cartaz no Teatro do Leblon, a cronista desenvolve situação que contrapõe dependente de álcool e outras drogas e medicamentos a seu cérebro, algo crítico, mas bombardeado pelos efeitos deste consumo excessivo. Bêbada, mantendo-se em constante estado de suspensão, com o cérebro-alter-ego insistindo em chamar-lhe à realidade, sobrevive mal a separação  amorosa, que a lança a zonas alcoólicas de rejeição e a rótulos escuros de baixa estima. Tarja Preta se cristaliza neste quadro e avança pouco no espaço mais amplo do humor ativado por costumes, cacoetes e comportamentos capturados na atualidade. É difícil sustentar o embate da mulher com seu cérebro e mantê-lo interessante no palco com estímulos tão restritos. O diálogo se assemelha a conversa de bêbado, e a evolução narrativa emperra no raso impulso da trama. O diretor Ivan Sugahara tenta colorir o quadro monocromático, inventando pantomima que agite a fixidez da tênue batalha. A longa cena inicial dos personagens trocando passos, exibindo alto grau etílico, usando de gesticulação clownesca para encontrar o humor inexistente, é um esforço da direção para dar algum sopro ao modesto texto. O esforço, no entanto, se perde pela falta de melhor material que o leve adiante. Os atores, apesar da corrida para agarrar qualquer trilha de humor, esgotam seus recursos pela ausência de fôlego do que lhes é dado como base para interpretação. Érico Brás se apóia em linha circense, como na cena de vestir o calção. Letícia Isnard, combina preparo corporal e presteza nas falas, insuflando alguma vitalidade e expandindo, com esperteza interpretativa, a relevância de um simples tipo.     
                                          macksenr@gmail.com