domingo, 12 de maio de 2013

17ª Semana da Temporada 2013


Crítica/ Pequenas Tragédias
 
Pushkin para além das medidas
De tragédias clássicas, Alexander Pushkin fez teatro de textos curtos, apropriando-se de personagens como Don Juan, Fausto e Mozart para dramatizar o literário. Quatro das peças breves do autor russo – O Convidado de Pedra, Conversa Entre o Livreiro e o Poeta, Mozart e Salieri e Cena de Fausto – estão em cartaz no Porão da Laura Alvim, em versão artesanal de Fabiano de Freitas. Pushkin, essencialmente romancista e poeta, não por acaso foi buscar na literatura os elementos para a sua dramaturgia de condensada influência na palavra escrita. Seu teatro, que traz forte conotação do literário, se ressente desta interferência ao ponto de se tornar mais audível do que físico. As cenas são tertúlias em que a voz é mais palavra do que ação, em que o embate dos personagens se realiza no plano verbal. Maior dificuldade de encenar Pushkin, o difícil encaixe da letra se transformar em cena, é por outro lado mérito para aqueles que decidem montar seus textos. Revelá-los e enfrentar as desafiantes condições para leva-los ao palco, são qualidades com que se defronta quem deseja experimentar as possibilidades do teatro. A equipe reunida para esta produção tem a seu favor o impulso de trazer essas narrativas à plateia atual, ainda que as tenha explorado de forma convencional. Como o espaço do Porão é exíguo, a proximidade ao público desvenda, expondo sem intermediações, as eventuais fraturas da concepção, deixando à vista interpretações pouco contidas, iluminação por demais interveniente, e movimentação dos atores sem variações. Com as limitações espaciais e expansões conceituais, a montagem de Fabiano de Freitas intenta projetar o que cada um dos pequenos textos trazem como substrato dramático. Vai além das medidas razoáveis, mas, ainda que com parcialidade, transmite o espírito das histórias. O casal de atores – Ana Carbatti e Renato Carrera -, em que pese a sobrecarga artificialmente construída nos diversos papéis em que se transfigura, procura com empenho tornar modular o que apenas consegue fazer linear.        

Crítica/ Silêncios Claros
 
Clarice aquém da intensidade
Por mais que a obra literária de Clarice Lispector possa ser, à primeira vista, pouco maleável ao palco, a constância com que seus contos e romances chegam ao teatro, demonstra a potencialidade expressiva de sua literatura em outros meios. Mais uma vez, Clarice inspira uma atriz a reunir contos – o Grande Passeio, Uma Galinha, A Fuga e Uma Tarde Plena – para em monólogo traduzir a rascante delicadeza na observação dos pequenos flagrantes da crueldade da aventura humana. É o que Ester Jablonski encena no Parque da Ruínas em quatro momentos de mulheres que olham para o abandono e morte, para o prosaico e cotidiano, para as lembrança e esquecimento. O espetáculo dirigido por Fernando Philbert é conduzido pela sensibilidade da atriz, criadora em parceria com Ítalo Rossi, do projeto. O diretor mostra-se como condutor da personalidade cênica da atriz: suave, discreta, introspectiva. A presença de Philbert se revela mais como organizador do que propriamente como regente. Ester Jablonski perpassa os contos com o cuidado de não provocar qualquer ruptura na busca da voz interior do bordado de Clarice. A atriz mantém integridade interpretativa em que não cabem variações ou ênfases, sombras ou iluminações, pausas ou arroubos. A atuação é conduzida por interioridade que, se não alcança a intensidade da origem literária, cuida de ser fiel à dimensão sensível de Ester.    

                                                       macksenr@gmail.com