quinta-feira, 18 de abril de 2013

Outros Palcos


São Paulo

Crítica/ O Rei Leão
 
Piscadela encantatória para o espectador
Extensão do desenho animado da Disney, o musical, igualmente saído dos estúdios do mago do divertimento, quase completa a cadeia produtiva, que deve ser completada, em breve, por alguma área de parque temático do conglomerado. Sob esta ampla estratégia marqueteira é que deve ser visto O Rei Leão, que chegou ao Teatro Renault (ex-Abril) correspondendo, plenamente, ao planejamento de atender aos bons sentimentos que precisam ser mostrados às crianças e a adultos infantilizados. Os personagens são animais de savanas africanas nesta fábula do leãozinho que, instigado pelo tio usurpador, foge assustado com a culpa que o parente atribui a ele pelo assassinato do pai. Vagamente inspirado em trama clássica, a transposição para o mundo animal e para o musical tornam esses  invólucros atraentes e degustáveis a plateias com códigos narrativos e de estilo que lhes são familiares. Como o objetivo é atender a tais condições, O Rei Leão se reveste de elementos que atraiam e sensibilizem, além de entreter, públicos de todas as idades, apresentando-se como um show capaz de embalar os sentidos, cortejando-os. E em parte consegue. O espaço cênico é ocupado por figuras visualmente feéricas. São máscaras e pernas de pau, bonecos presos aos corpos e panos que adquirem definidas formas, numa sucessão de efeitos que explodem em girafas, elefante, hienas, leões e tigres, criando movimentação que pisca, pela multiplicidade de imagens, de maneira encantatória para o espectador. Sem músicas muito marcantes e coreografia especialmente inventiva, o musical se esgota nesta exposição de ótimos figurinos e no preciso desenho de produção e marketing. O objetivo da Disney, portanto, está cumprido. Tal como no resto do mundo, onde foi encenado, também em São Paulo, O Rei Leão, que estreou há três semanas, tem mantidas lotadas sete sessões semanais num teatro de 1533 lugares com poltronas a preços que atingem até os R$ 270 .         

Crítica/ Facas nas Galinhas
 
Fábula medieval ao redor das boas intenções
O autor é o escocês David Harrover e este seu texto, em cartaz no Tucarena, conseguiu ultrapassar os limites geográficos de origem para se espalhar em várias montagens ao redor do mundo. Essa disseminação talvez se explique pelo caráter fabular da narrativa (lembra história medieval) e a simplicidade da trama, que contrapõe mulher, o marido e moleiro num jogo de revelações. O movimento da roda do moinho acompanha o trajeto desta mulher que, ao levar os grãos para a moenda, recebe lições de vida do moleiro solitário, considerado feiticeiro e assassino pelos aldeões. A habilidade com que o autor constrói esse percurso dramático não é suficiente para que esconder as boas intenções e a pueril poesia que assomam a vida da camponesa. A montagem de Francisco Medeiros é bastante conservadora, mantendo-se nos estreitos limites do bem acabado. O cenário de Marco Lima com a sua circularidade permite que a ação permeie diversos ambientes, reforçando o paralelismo simbólico da roda do moinho e da transformação da personagem. O efeito plástico da queda da farinha cria cortina esvoaçante de partículas brancas, e os objetos suspensos marcam, sonoramente, os quadros. Mas pouco mais desses detalhes visuais deixam entrever algo que escape da correção. O trio de atores – Eloísa Elena, Cláudio Queiroz e Thiago Andreuccetti – corresponde ao convencionalismo bem comportado que é o carimbo do texto e da encenação.  

Crítica/ Maria Miss
 
Guimarães Rosa com autonomia expressiva no palco
Do conto Esses Lopes, do livro Tutameia, de Guimarães Rosa, a atriz Tania Castello pressentiu a possibilidade de ganhar autonomia no teatro. Por anos acalentou a idéia de adaptá-lo ao palco, o que resultou em Maria Miss, em cartaz no Sesc Ipiranga. O material literário se mostrou sensível ao novo meio expressivo, e a transposição da história da moça vendida pelos pais a um viajante e submetida a seguidos maus-tratos, encontra ressonância em cena. Evill Rebouças que adaptou o conto, consegue fluência dramática sem perder as características de linguagem e de ambientação propostas pela escrita de Rosa. A diretora mineira Yara Novaes conduz com toques regionais as artimanhas de Maria para vingar-se daqueles que a negociaram, emprestando à encenação ritmo ágil e vibrante coreografia que não permitem que se esgarce o interesse. Tania Castello demonstra em cena que seu empenho em levar o conto ao teatro corresponde, na mesma intensidade, à adesão com que interpreta a mulher negociada. Cacá Amaral e Daniel Alvim se desdobram como vários membros da família Lopes.
                                                    macksenr@gmail.com