Crítica/
Uma História Oficial
Jogo de cena de dramaturgia dinâmica |
A Cortejo Cia. de Teatro que
apresenta Uma História Oficial no Teatro da Casa Laura Alvim é
originária de Três Rios, onde está fixada e desenvolve seu trabalho há três
anos. Com parte do elenco formado na cidade e em Juiz de Fora, o
grupo dirigido pelo carioca Rodrigo Portella deixa visível a integridade de
florescente trabalho teatral fora do eixo. Pelo que o grupo permite entrever
neste espetáculo que traz ao Rio, há preocupação em situar-se na região em que produz sob perspectiva de uma cena realisticamente fantástica que se
confunde com traços de uma cena política.
São projeções difíceis de encontrar transcrição num palco mais livre de
condicionantes, mas pela demonstração de Uma
História Oficial, o grupo ultrapassa essas balizas e cria dramaturgia
dinâmica como um jogo narrativo. A partir de um cone de trânsito é construído o
desenvolvimento dramático e desencadeada a movimentação cenográfica. A multiplicação dos gestos dos atores e
das portas e de outros poucos elementos desvenda os mecanismos do teatro através
da simplificação de seus recursos. Os atores desmontam seus truques e a trama se desconstrói de suas
condicionantes (o absurdo e o politico), tornando-se arejadamente autocrítica. Montagem interessante que
demonstra a qualidade de sua investigação e que, espera-se, avance numa próxima
encenação.
Crítica/ A Entrevista
Convenção teatral sem invenções e tropeços |
Como tantos do mesmo
alcance, o texto em cartaz no Teatro das Artes, baseado em filme, procura com
diálogos ágeis e situação contrastada e final surpreendente segurar a plateia.
A eficiência desse gênero se prova pela oportunidade de reunir casal de atores
com boa contracena e referências a personagens facilmente indentificáveis. Na
adaptação brasileira, repórter de política no desvio é destacado para
entrevistar atriz de televisão com novela no ar. O mútuo preconceito (ele se
considera desprestigiado por conversar com a celebridade da vez; ela se esforça
para demonstrar que não é a garota burrinha) vai se desfazendo com as
confissões que fazem um ao outro, e que serão objeto de provocação de um contra
o outro. Nada muito original, seguindo convenção de escrita sem invenções e tropeços.
A montagem de Susana Garcia atende a embalagem da produção, com o cenário de
Flávio Graff, a iluminação de Paulo César Medeiros e o figurino de Kika Lopes.
A diretora faz com que tudo funcione com a fluidez da comunicação direta. É o
que a dupla Herson Capri e Priscila Fantin se empenha em atingir com suas
interpretações.
Crítica/ Thérèze Raquin
Novelão com marcas do tempo |
As razões pelas quais um
texto é montado nem sempre ficam claras quando o espetáculo chega ao público.
Quais teriam sido os motivos que levaram a Cia Limite 151 a encenar a adaptação
teatral do romance de Émile Zola, exemplar do naturalismo francês do século
XIX? Certamente, não teria sido reproduzir o impacto causado pela obra na época
do autor. Muito menos, buscar o melodrama como nem mesmo as atuais novelas de
televisão ousam fazê-lo. Fica, então, a perplexidade diante da montagem em cartaz
no Teatro do Fashion Mall, em que se evidenciam o anacronismo e o descompasso
diante da tentativa ingênua de encenar um romance com profundas marcas do
tempo. O resultado da investida conduz à melancólica visão primária de um texto
do qual o diretor e os atores parecem interpretar como uma burocrática sequência
de quadros diligentemente ensaiados. João Fonseca nada mais faz do que organizar
a cena, conduzí-la sem emprestar-lhe maior significação ou análise que sustente
o comportamento dos personagens. Não é tarefa fácil frente ao que Zola oferece,
mas o diretor não demonstra o mínimo esforço para dar vida aos aflitivos
sentimentos de Thérèze e seu amante. Cenário, figurino, iluminação, atores estão
harmonicamente empenhados em encenar o anacrônico.
Crítica/ Caixa de
Areia
Jô Bilac, autor de Caixa de Areia em cartaz no Teatro do Sesi, surgiu há pouco mais de
quatro anos como revelação da dramaturgia carioca. A superficial habilidade com
que manipulava o universo de Nelson Rodrigues, repetiria em narrativas inspiradas
em histórias de suspense e comédias em torno de manifestações da cultura pop.
Com tantos e tão irregulares textos, Bilac amplia com esta atabalhoada e
inexpressiva peça os seus contraditórios recursos de dramaturgo. Há a pretensão
de trabalhar a estrutura narrativa como veículo da ação dramática, conotada
como a própria forma de se contar. Na frustrada Caixa de Areia, Jô Bilac
abusa no uso dos frágeis instrumentos da sua escrita para sobrepor narrativas
com múltiplas intencionalidades, todas obscuramente desenvolvidas em imagens, debilmente simbólicas e
textualmente vazias. Como falta ao autor domínio e medida das suas ambições,
revelam-se as fraturas que marcam a ação, incapaz de compor uma unidade que
explicite alguma idéia menos aleatória do que o genérico sobre morte, critica e
disfunções familiares. A direção dupla de Jô Bilac e Sandro Pamponet só atropela
o texto, com o acréscimo de mais elementos desviantes, como máscaras e ocupação
do proscênio, que colaboram ainda mais para ressaltar a confusa dramaturgia. O
elenco – Taís Araújo, Júlia Mariani, Cris Larin, Luiz Henrique Nogueira e
Jaderson Fialho – interpreta com a cautela da dúvida o que lhe parece distante.
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