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Crítica/ Como
Vencer na Vida Sem Fazer Força
Como fazer amigos e influenciar pessoas |
Comédia musical de ambições contidas, Como Vencer na Vida Sem Fazer Força é
típica produção da época de sua estreia. Na década de 60, quando ocupou teatro
da Broadway, estava em gestação o que seria conhecido mais tarde como livros de
autoajuda. O título já sugeria a ideia de manual de como subir na empresa,
recorrendo a expedientes nada recomendáveis. O limpador de janelas vai subindo
nos andares da corporação à medida em que subterfúgios o impelem para o alto. O
rapaz com ar tímido e aparência frágil parece se utilizar dos ensinamentos de
outra cartilha muito popular que ensinava Como
Fazer Amigos e Influenciar Pessoas. Com ambientação levemente crítica aos
mecanismos empresariais e com a ingenuidade que reveste a evolução esperta do
alpinista social, o musical tem trilha e coreografia agradáveis e tipos que se
distribuem pela trama divertida. Na versão brasileira, em cartaz no Oi Casa
Grande, Claudio Botelho, uma vez mais, demonstra a sua verve na transposição
das letras e na tradução dos diálogos. Da invenção da World Rebimboca Company aos
truques verbais para acomodar as letras à sonoridade nacional, Botelho reafirma
a intimidade que estabeleceu entre a musicalidade original das palavras e a
fluência com que são ouvidas na nossa língua. A cenografia de Rogério Falcão,
com a imponente entrada art-deco do edifício da empresa, os painéis móveis que compõem
os diversos ambientes e o hall dos elevadores, com a bem desenhada iluminação
de Paulo César Medeiros, criam, ao mesmo tempo, uma cena límpida, decorativa, ampla
e funcional. A coreografia de Alonso Barros se inspira na criada por Bob Fosse,
com os corpos quebrados, mãos em
movimentos circulares e de sapateado nos conjuntos. Os figurinos de Marcelo
Pies seguem também as referências da encenação americana, mas com a introdução
de cromatismo em algumas roupas com bom efeito no conjunto. A regência de Zaida
Valentim encorpa o som das bem humoradas canções. Charles Möller coordena com
afinado mecanismo de direção a bem azeitada parte técnica e o elenco. Ainda que
Luiz Fernando Guimarães e Gregorio Duvivier não sejam tecnicamente dotados como
cantores, a participação de ambos como atores-comediantes suprem as dificuldades.
Luiz Fernando recorre a cacos demais para contornar essas limitações, enquanto
Duvivier agarra o personagem com extrema sagacidade, fazendo-o maliciosamente
oportunista. Adriana Garambone, como a amante-burra, se utiliza de tonalidade
vocal de irresistível efeito cômico. Andre Loddi e Patau se destacam entre os
atores e Gottsha empresta com presença e voz ponderosa vida a uma das
secretárias. Ada Chaseliov e Letícia Colin têm boas intervenções. Os demais apóiam
com eficiência o humor, as canções e as coreografias deste simpático musical.
Crítica/ As
Mulheres de Grey Gardens
Incluído naquele gênero de musical que vagueia
entre referências biográficas e melodramas psicológicos, As Mulheres de Grey Gardens, em cartaz na Sala Baden Powell, vai a
East Hampton para retratar a relação doentia de Edith Bouvier e sua filha,
primas de Jacqueline Kennedy. Vivendo em uma mansão, mãe e filha circulam pela
alta-roda sem esconder as fraturas da convivência estabelecida por vínculos de
dependência, competição e mútua destruição. O casamento desfeito da jovem Edith
com Joseph Kennedy, através de maledicência da destemperada Edith-mãe,
desencadeia a dissolução do sentido de realidade, provocando o isolamento de
ambos na propriedade de Grey Gardens, agora deteriorada, acumulando lixo e
detritos. O casarão em ruínas é reflexo da decadência das suas patéticas moradoras. Texto, música e
letra procuram se equilibrar num gênero nem sempre maleável a contornos
dramáticos. A biografia das personagens, que gravitaram em torno da celebridade
da ex-primeira dama americana, parece ter sido a razão pela qual os autores
decidiram por elas. Mas por que, então, em um musical? O detalhamento da ação,
que se alonga no primeiro ato e se arrasta no segundo, esgota o interesse pela
narrativa. As firulas do relacionamento não cabem nas letras e no estilo
documental, diluídas em situações secundárias e canções inexpressivas. O segundo
ato, um tanto mais consistente pelo impacto cenográfico e por maior concentração
dramática e músicas menos banais, igualmente prolonga demais a ação. Há pelo
menos três finais possíveis, antes de que se encerre o espetáculo. Esse musical
gauche, longo, são três horas com
intervalo, e de pouca comunicabilidade, tem direção de Wolf Maya, incapaz de
driblar os problemas de texto e trilha. Maya fica restrito a administrar as dificuldades da montagem.
A cenografia de Bia Junqueira resolve a mudança de ambientes, recorrendo a
projeções e criando teatralíssima instalação,
iluminada com sensibilidade por Luiz Paulo Nenen. Os figurinos de Marta
Reis, a direção musical de Carlos Bauzys e Daniel Rocha, a orquestra de onze
instrumentistas e a coreografia de Márcia Rubin mantêm padrão profissional, mas
o espetáculo não alça voo, preso ao solo árido de sua desestruturada origem.
Soraya Ravenle exibe suas qualidades de cantora num papel em que é difícil encontrar
nuances. Suely Franco compõe física, vocal e emocionalmente uma figura
expressiva. O demais atores – Carol Puntel, Guilherme Terra, Sandro
Christopher, Pierre Baitelli, Jorge Mays, Danilo Timm, Raquel Bonfante, Sofia
Viamonte, Mirna Rubim e Thuany Parente - desempenham com eficiência as funções de
cantores e intérpretes.
macksenr@gmail.com