quarta-feira, 27 de março de 2013

12ª Semana da Temporada 2013


Mais Musicais no Mercado

Crítica/ Como Vencer na Vida Sem Fazer Força

Como fazer amigos e influenciar pessoas
Comédia musical de ambições contidas, Como Vencer na Vida Sem Fazer Força é típica produção da época de sua estreia. Na década de 60, quando ocupou teatro da Broadway, estava em gestação o que seria conhecido mais tarde como livros de autoajuda. O título já sugeria a ideia de manual de como subir na empresa, recorrendo a expedientes nada recomendáveis. O limpador de janelas vai subindo nos andares da corporação à medida em que subterfúgios o impelem para o alto. O rapaz com ar tímido e aparência frágil parece se utilizar dos ensinamentos de outra cartilha muito popular que ensinava Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas. Com ambientação levemente crítica aos mecanismos empresariais e com a ingenuidade que reveste a evolução esperta do alpinista social, o musical tem trilha e coreografia agradáveis e tipos que se distribuem pela trama divertida. Na versão brasileira, em cartaz no Oi Casa Grande, Claudio Botelho, uma vez mais, demonstra a sua verve na transposição das letras e na tradução dos diálogos. Da invenção da World Rebimboca Company aos truques verbais para acomodar as letras à sonoridade nacional, Botelho reafirma a intimidade que estabeleceu entre a musicalidade original das palavras e a fluência com que são ouvidas na nossa língua. A cenografia de Rogério Falcão, com a imponente entrada art-deco do edifício da empresa, os painéis móveis que compõem os diversos ambientes e o hall dos elevadores, com a bem desenhada iluminação de Paulo César Medeiros, criam, ao mesmo tempo, uma cena límpida, decorativa, ampla e funcional. A coreografia de Alonso Barros se inspira na criada por Bob Fosse, com os corpos quebrados, mãos em movimentos circulares e de sapateado nos conjuntos. Os figurinos de Marcelo Pies seguem também as referências da encenação americana, mas com a introdução de cromatismo em algumas roupas com bom efeito no conjunto. A regência de Zaida Valentim encorpa o som das bem humoradas canções. Charles Möller coordena com afinado mecanismo de direção a bem azeitada parte técnica e o elenco. Ainda que Luiz Fernando Guimarães e Gregorio Duvivier não sejam tecnicamente dotados como cantores, a participação de ambos como atores-comediantes suprem as dificuldades. Luiz Fernando recorre a cacos demais para contornar essas limitações, enquanto Duvivier agarra o personagem com extrema sagacidade, fazendo-o maliciosamente oportunista. Adriana Garambone, como a amante-burra, se utiliza de tonalidade vocal de irresistível efeito cômico. Andre Loddi e Patau se destacam entre os atores e Gottsha empresta com presença e voz ponderosa vida a uma das secretárias. Ada Chaseliov e Letícia Colin têm boas intervenções. Os demais apóiam com eficiência o humor, as canções e as coreografias deste simpático musical.      

  
Crítica/ As Mulheres de Grey Gardens

Biografia gauche no solo  árido do melodrama
Incluído naquele gênero de musical que vagueia entre referências biográficas e melodramas psicológicos, As Mulheres de Grey Gardens, em cartaz na Sala Baden Powell, vai a East Hampton para retratar a relação doentia de Edith Bouvier e sua filha, primas de Jacqueline Kennedy. Vivendo em uma mansão, mãe e filha circulam pela alta-roda sem esconder as fraturas da convivência estabelecida por vínculos de dependência, competição e mútua destruição. O casamento desfeito da jovem Edith com Joseph Kennedy, através de maledicência da destemperada Edith-mãe, desencadeia a dissolução do sentido de realidade, provocando o isolamento de ambos na propriedade de Grey Gardens, agora deteriorada, acumulando lixo e detritos. O casarão em ruínas é reflexo da decadência  das suas patéticas moradoras. Texto, música e letra procuram se equilibrar num gênero nem sempre maleável a contornos dramáticos. A biografia das personagens, que gravitaram em torno da celebridade da ex-primeira dama americana, parece ter sido a razão pela qual os autores decidiram por elas. Mas por que, então, em um musical? O detalhamento da ação, que se alonga no primeiro ato e se arrasta no segundo, esgota o interesse pela narrativa. As firulas do relacionamento não cabem nas letras e no estilo documental, diluídas em situações secundárias e canções inexpressivas. O segundo ato, um tanto mais consistente pelo impacto cenográfico e por maior concentração dramática e músicas menos banais, igualmente prolonga demais a ação. Há pelo menos três finais possíveis, antes de que se encerre o espetáculo. Esse musical gauche, longo, são três horas com intervalo, e de pouca comunicabilidade, tem direção de Wolf Maya, incapaz de driblar os problemas de texto e trilha. Maya fica restrito a administrar as dificuldades da montagem. A cenografia de Bia Junqueira resolve a mudança de ambientes, recorrendo a projeções e criando teatralíssima instalação, iluminada com sensibilidade por Luiz Paulo Nenen. Os figurinos de Marta Reis, a direção musical de Carlos Bauzys e Daniel Rocha, a orquestra de onze instrumentistas e a coreografia de Márcia Rubin mantêm padrão profissional, mas o espetáculo não alça voo, preso ao solo árido de sua desestruturada origem. Soraya Ravenle exibe suas qualidades de cantora num papel em que é difícil encontrar nuances. Suely Franco compõe física, vocal e emocionalmente uma figura expressiva. O demais atores – Carol Puntel, Guilherme Terra, Sandro Christopher, Pierre Baitelli, Jorge Mays, Danilo Timm, Raquel Bonfante, Sofia Viamonte, Mirna Rubim e Thuany Parente -  desempenham com eficiência as funções de cantores e intérpretes.       
 
                                                     macksenr@gmail.com