quinta-feira, 21 de março de 2013

11ª Semana da Temporada 2013


Crítica/ Realismo
Brincando em cima da realidade 
O jogo que o autor escocês Anthony Neilson propõe nesta peça, em cartaz no Teatro da Justiça Federal, é uma brincadeira em torno de título enganador. Partindo do realismo, afinal há uma trama a ser desenvolvida, Neilson inverte a lógica do real para misturar presente com lembranças, que por sua vez se confundem com aquilo que se é agora. A interferência dos tempos, que funcionam como paralelismo narrativo, se apoia em estrutura dramatúrgica segura e tecnicamente bem elaborada. Pode-se discutir o emprego de depurados recursos em comédia de alcance pouco extenso, que no entanto chega à plateia pela facilidade com que cada um pode entrar no jogo através das várias percepções que se venha a ter da cena. Somente uma comédia com uma história em camadas? Um quebra-cabeças divertido de jovem entediado numa noite de sábado? Brincadeira que namora o absurdo? A tradução de Felipe Vidal é a possibilidade inicial de envolvimento do espectador com qualquer desses níveis perceptivos, não só pela fluência e familiaridade, como também pela adaptação coloquial, pontos decisivos para nos aproximar do humor britânico. O diretor Tato Consorti segue a mesma trilha, com pegada leve, mas firme, e viés abrasileirado na impostação interpretativa. Essas características ficam ainda mais evidentes na atuação de João Velho que dosa certa comicidade perplexa com naturalismo no desenho do personagem. E também na maneira como Consorti tira partido de humor que nos parece tão próximo, quase chanchada, como na cena da máquina de lavar e na presença do gato.     

Crítica/ Sexton
Acumulando informações pela superfície
Sexton do título desta montagem em cartaz no Teatro III do CCBB é o mesmo do sobrenome da escritora americana Anne, que viveu de 1928 a 1974, que além de escrever poesia teve vida atribulada, repleta de tentativas de suicídio, que acabou por consumar com monóxido de carbono. Amiga de intelectuais que orbitavam pela mesma sombria angústia, entre eles, Sylvia Plath, a personagem escolhida pelas autoras Helena Machado e Juliana Gandolfe para o desequilibrado texto dramático é projetado sob a perspectiva de seus atos, mais do que na convergência entre vida e criação. Praticamente desconhecida no Brasil – apenas dois de seus livros foram publicados por editoras nacionais – Anne Sexton é mostrada numa sucessão de atos de destempero, de dissociação mental e de inconsciência de realidade que a dupla de autoras acumula como em uma pesquisa. A impressão é de recolha de informações em que se privilegia os aspectos mais contundentes de uma existência, mas sem estabelecer integridade com a criação literária. O que emerge da sua obra, residualmente incorporada à narrativa, deixa a impressão de ser bem menos vigorosa do que seus distúrbios emocionais. A  montagem que vem de Brasília, dirigida por Rodrigo Fisher, não atenua a exterioridade e o tom de compilação biográfica que pairam sobre texto e que se estendem à encenação. Há indisfarçável procura de inventar que resulta, tão somente, em expor a pouca maturidade do diretor e a incapacidade do elenco em atender e acompanhar a totalidade dessas invencionices. Os atores não sustentam as cenas, pretensamente virulentas, interpretando-as de maneira dramática e superficial, invalidando a tentativa de as fazer emocionalmente contundentes. Há uma atmosfera amadorística que pode ser atribuída à pouca e rala experiência e formação dos seis esforçados, mas ainda limitados, atores em cena.
       
                                                  macksenr@gmail.com