Cinco Tons de
Musicais
Crítica/ Rock in
Rio – O Musical
Um show no palco e na avenida |
Para fixar a marca. Rock
in Rio é, originalmente, um
festival, que aos longos dos seus quase 20 anos se tornou uma marca com vários
subprodutos. O mais recente deles é o do formato musical, que ocupa o imenso
palco da Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. Numa ação de marketing, o Rock in Rio chega ao teatro
com a intenção de fixar a marca, utilizando-se da onda de popularização do gênero, tão em voga, atualmente, e assim complementar
a sua programação publicitária. O projeto-musical foi entregue na parte de
dramaturgia a Rodrigo Nogueira que criou narrativa em que os hits do festival
se acomodam a história de jovens universitários que curtiram as primeiras
edições. Na trama em que o casalzinho central vive traumas familiares, tendo
como pano de fundo o Brasil de 1985, os cantores e as músicas que fizeram parte
do repertório do Rock in Rio se distribuem pelos dois atos e pelas três horas
de espetáculo. O autor teve o cuidado de utilizar os mecanismos dos musicais –
entrecho relativamente ingênuo, tipos que circulam em torno dos protagonistas,
encaixe das músicas em contraponto à ação – e enquadrá-los no propósito de
reforçar o selo. Dramaturgia de encomenda para tratar do evento, de certo modo,
se distorce no primeiro ato quando a história do casal ameaça ganhar ares mais
adensados. Já no segundo, os desdobramentos do quadro inicial se enquadra
melhor na encomenda, para chegar ao encontro final da dupla, no inevitável happy end. No último e mais curto ato, o festival ocupa espaço maior,
reproduzindo as participações de nomes reconhecidos e até mesmo a cenografia da
área dos shows. Nogueira dá verniz ao pacote, sem maiores arroubos (o texto
evita ser soterrado pela avantajada produção) e inventivas (conserva-se no
estrito modelo de atender às normas do gênero). O diretor João Fonseca segue, cuidadosamente,
a proposta, dosando a trama e o show esfuziante. Seu espetáculo é generoso no uso dos recursos disponíveis.
O largo palco, a frenética mudança de cenas, a movimentação intensa dos
atores-cantores, o colorido dos figurinos e a explosão de luzes, além do forte
apoio da direção musical e da banda, refletem a bem administrada relação texto-montagem.
Do casal protagonista (Hugo Bonemer e Yasmin Gomlevsky) ao paterno (Lucinha Lins
e Guilherme Leme), dos amigos (Ícaro Silva e Bruno Sigrist) aos demais intérpretes
de personagens, deliberadamente esquemáticos, todos cantam e dançam com evidente
entusiasmo.
A ação de marketing da marca Rock in Rio se
estende ao carnaval. A escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel
leva à avenida o enredo Eu Vou de
Mocidade com Samba e Rock in Rio – Por um Mundo Melhor.
Crítica/ Ary
Barroso – Do Princípio ao Fim
Ao estilo dos originais dos anos 90 |
Para os nostálgicos. Diogo Vilela, autor e diretor deste musical em
cartaz no Teatro Carlos Gomes tentou encontrar um atalho para a biografia-padrão,
comum em encenações que homenageiam nomes da música popular brasileira. Em
profusão nos anos 90, o musical-biográfico tentava celebrar, mais do que
encontrar forma dramatúrgica que o caracterizasse autoralmente, preferindo
seguir fórmula na qual carreira e morte eram vistas em série e apresentadas
sequencialmente. O compositor Ary Barroso é focalizado neste musical, mas é invertida
a mão narrativa, apesar de o título anunciar o contrário. O autor de Aquarela do Brasil é mostrado no leito
de hospital no dia de sua morte, o mesmo em que o desfile do Império Serrano o
exaltava. Cercado de sambistas, a sua história evolui em paralelo ao estímulo
para que participe da homenagem. O tênue pretexto se reproduz sem maiores
nuances, tornando-se introdução para desfiar o repertório de Ary, alternado com
os momentos em que as composições se incluem na sua vida. A entrada e saída da
cama, onipresente em todo o espetáculo, reflete a acanhada estrutura dramática
que apoia, mecanicamente, a biografia. O autor não ultrapassa o limite da
pesquisa factual, ainda que o faça no sentido contrário. A trajetória pessoal e
musical de Ary se iguala, em tratamento, a dos musicais dos anos 90. A montagem
se condiciona à estrutura do texto, sem romper a fixidez da narrativa, reduzida
a ser ilustrativa. O espetáculo se estende demais em detalhes, voltando para a situação
inicial, o que o torna monótono e sem possibilidades de que a música insufle algum
vigor. A cenografia, o figurino e a coreografia, molduras essências para a
visualidade dos musicais, são por demais convencionais. A direção musical e
arranjos de Josimar Carneiro e os músicos, no entanto, reforçam a montagem com
sonoridade competente. Diogo Vilela desenha a figura de Ary Barroso através do
mimetismo, seja na tonalidade de voz ou na máscara, o que condiciona e limita a
sua interpretação. Os demais atores – Alan Rocha, Esdras de Lucia, Reynaldo
Machado, Carlos Leça e Marcos Sacramento – se empenham para equilibrar voz e
atuação. As atrizes – Ana Baird, Mariana Baltar e Tânia Alves – têm
intervenções mais vivazes.
Crítica/ A
Família Addams
Fiel obediência ao caderno de encargos |
Para a família. Essa comédia musical, baseada
em seriado de televisão dos anos 60, que sobreviveu por três décadas, guarda
dessa origem os elementos que fixaram o sucesso duradouro desta família
bizarra. Na transcrição para a Broadway, os personagens centrais são mantidos e
os bordões que a série divulgou (o ritmo com o estalar de dedos, A
Coisa ) ganham trilha, que ainda não seja brilhante, pelo menos
segue convenção musical, ajustada ao espírito do texto. O convencionalismo
também é o que marca a trama, na qual a historieta familiar entre estranhos e caretas,
converge para a constatação de que as diferenças são de forma, e não de
conteúdo. No primeiro ato, quando se expõem as características incomuns dos
Addams e se brinca com humor um pouco mais crítico ao politicamente
correto, o musical se torna divertido. Já no segundo, quando esse humor fica em
plano secundário e quase desaparece (os autores não deixam esquecer que o
musical é dirigido a toda a família), a brincadeira perde a graça. A versão
brasileira de Claudio Botelho, em cartaz no Vivo, mantém a competência de suas
traduções e adaptações anteriores de material mais ambicioso. Os seus achados
verbais e as referências nacionais são sempre bem transpostas. E a competência
de Botelho se transmite a toda a montagem, que como não se pretende original ou
avançar para além do que efetivamente é, reproduz o caderno de encargos
original. A parte técnica, a cenografia, os bonecos, os efeitos especiais, o
desenho das perucas, a maquiagem, a orquestração, o figurino e o elenco,
correspondem àquilo que foi planejado e executado no teatro da Broadway. O
mérito está em que se faz por aqui, tão bem como se faz lá. Canta-se bem,
compõem-se as figuras com precisão, o espetáculo decorre sem qualquer falha
técnica, atendendo ao que se propõe: divertir a família. O planejamento
comercial enquadra o artístico. O circuito virtuoso se
completa.
Reprodução da crítica
publicada neste blog em abril de 2012
Crítica/ Tudo Por
um Popstar – O Musical
No palco à espera do mesmo sucesso editorial |
Para adolescentes. Baseado em livro homônimo de Thalita Rebouças,
esse musical adolescente em cartaz no Teatro Clara Nunes, foi produzido para
atender às expectativas do público jovem da autora de sucesso. E foi esse
sucesso editorial que provocou a extensão da frágil historieta de garotas do
interior que viajam ao Rio para assistir a show de grupo musical para o palco.
As confusões decorrentes desta vinda são o material ao qual Thalita recorre
para tipificar meninas movidas pela tietagem. O sucesso de vendas do livro
talvez possa informar bastante sobre o atual mundo adolescente. A transposição
para o teatro, por sua vez, talvez possa revelar a necessidade mercadológica de
estender o alcance etário do público através de um gênero em moda. O diretor
Pedro Vasconcelos organizou a equipe e levou à cena jovens atores que desempenham
o papel de uma certa imagem de adolescência. É o que fazem com disciplina e o
que, imaginam os produtores, a plateia deseja. Mas só ficaremos sabendo se essa
identidade acontecerá no teatro, se Tudo
Por Um Popstar prolongar no palco igual êxito do livro.
Crítica/ Shrek –
O Musical
O ogro em nova forma de animação |
Para as crianças. No palco do Teatro João Caetano se revive, agora
ao vivo, o que as crianças assistiram no cinema. A mesma história do ogro com piscadelas
para a beleza da diversidade se corporifica na versão cênica amoldada aos
cânones do musical. Figurino, caracterização e trama seguem o roteiro da
animação e não deixam dúvidas quanto a intenção de fazer igual, de aproveitar a trilha do filme. Com profissional
eficiência, cenários adequados e elenco ajustado, o diretor Diego Ramiro demonstrou
que nada está fora do previsto. Seguiu o que se planejou. O elenco brasileiro é
afiadíssimo, seja no humor de Rodrigo Sant’Anna, na figura bonachona de Diego
Luri, na voz de Sara Sarres e na habilidade corporal de Marcel Octavio. Com 130
minutos de duração, Shrek, numa
matinê de sábado, foi acompanhado por plateia infantil com interesse e atenção.
Será que espectadores foram conquistados para o futuro?
macksenr@gmail.com