domingo, 27 de janeiro de 2013

4ª Semana da Temporada 2013


Cinco Tons de Musicais

Crítica/ Rock in Rio – O Musical
Um show no palco e na avenida
Para fixar a marca. Rock in Rio é, originalmente, um festival, que aos longos dos seus quase 20 anos se tornou uma marca com vários subprodutos. O mais recente deles é o do formato musical, que ocupa o imenso palco da Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. Numa ação de marketing, o Rock in Rio chega ao teatro com a intenção de fixar a marca, utilizando-se da onda de popularização do gênero, tão em voga, atualmente, e assim complementar a sua programação publicitária. O projeto-musical foi entregue na parte de dramaturgia a Rodrigo Nogueira que criou narrativa em que os hits do festival se acomodam a história de jovens universitários que curtiram as primeiras edições. Na trama em que o casalzinho central vive traumas familiares, tendo como pano de fundo o Brasil de 1985, os cantores e as músicas que fizeram parte do repertório do Rock in Rio se distribuem pelos dois atos e pelas três horas de espetáculo. O autor teve o cuidado de utilizar os mecanismos dos musicais – entrecho relativamente ingênuo, tipos que circulam em torno dos protagonistas, encaixe das músicas em contraponto à ação – e enquadrá-los no propósito de reforçar o selo. Dramaturgia de encomenda para tratar do evento, de certo modo, se distorce no primeiro ato quando a história do casal ameaça ganhar ares mais adensados. Já no segundo, os desdobramentos do quadro inicial se enquadra melhor na encomenda, para chegar ao encontro final da dupla, no inevitável happy end. No último e mais curto ato, o festival ocupa espaço maior, reproduzindo as participações de nomes reconhecidos e até mesmo a cenografia da área dos shows. Nogueira dá verniz ao pacote, sem maiores arroubos (o texto evita ser soterrado pela avantajada produção) e inventivas (conserva-se no estrito modelo de atender às normas do gênero). O diretor João Fonseca segue, cuidadosamente, a proposta, dosando a trama e o show esfuziante. Seu espetáculo é generoso no uso dos recursos disponíveis. O largo palco, a frenética mudança de cenas, a movimentação intensa dos atores-cantores, o colorido dos figurinos e a explosão de luzes, além do forte apoio da direção musical e da banda, refletem a bem administrada relação texto-montagem. Do casal protagonista (Hugo Bonemer e Yasmin Gomlevsky) ao paterno (Lucinha Lins e Guilherme Leme), dos amigos (Ícaro Silva e Bruno Sigrist) aos demais intérpretes de personagens, deliberadamente esquemáticos, todos cantam e dançam com evidente entusiasmo.
A ação de marketing da marca Rock in Rio se estende ao carnaval. A escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel leva à avenida o enredo Eu Vou de Mocidade com Samba e Rock in Rio – Por um Mundo Melhor.       

Crítica/ Ary Barroso – Do Princípio ao Fim
Ao estilo dos originais dos anos 90
Para os nostálgicos. Diogo Vilela, autor e diretor deste musical em cartaz no Teatro Carlos Gomes tentou encontrar um atalho para a biografia-padrão, comum em encenações que homenageiam nomes da música popular brasileira. Em profusão nos anos 90, o musical-biográfico tentava celebrar, mais do que encontrar forma dramatúrgica que o caracterizasse autoralmente, preferindo seguir fórmula na qual carreira e morte eram vistas em série e apresentadas sequencialmente. O compositor Ary Barroso é focalizado neste musical, mas é invertida a mão narrativa, apesar de o título anunciar o contrário. O autor de Aquarela do Brasil é mostrado no leito de hospital no dia de sua morte, o mesmo em que o desfile do Império Serrano o exaltava. Cercado de sambistas, a sua história evolui em paralelo ao estímulo para que participe da homenagem. O tênue pretexto se reproduz sem maiores nuances, tornando-se introdução para desfiar o repertório de Ary, alternado com os momentos em que as composições se incluem na sua vida. A entrada e saída da cama, onipresente em todo o espetáculo, reflete a acanhada estrutura dramática que apoia, mecanicamente, a biografia. O autor não ultrapassa o limite da pesquisa factual, ainda que o faça no sentido contrário. A trajetória pessoal e musical de Ary se iguala, em tratamento, a dos musicais dos anos 90. A montagem se condiciona à estrutura do texto, sem romper a fixidez da narrativa, reduzida a ser ilustrativa. O espetáculo se estende demais em detalhes, voltando para a situação inicial, o que o torna monótono e sem possibilidades de que a música insufle algum vigor. A cenografia, o figurino e a coreografia, molduras essências para a visualidade dos musicais, são por demais convencionais. A direção musical e arranjos de Josimar Carneiro e os músicos, no entanto, reforçam a montagem com sonoridade competente. Diogo Vilela desenha a figura de Ary Barroso através do mimetismo, seja na tonalidade de voz ou na máscara, o que condiciona e limita a sua interpretação. Os demais atores – Alan Rocha, Esdras de Lucia, Reynaldo Machado, Carlos Leça e Marcos Sacramento – se empenham para equilibrar voz e atuação. As atrizes – Ana Baird, Mariana Baltar e Tânia Alves – têm intervenções mais vivazes.

Crítica/ A Família Addams
Fiel obediência ao caderno de encargos
Para a família. Essa comédia musical, baseada em seriado de televisão dos anos 60, que sobreviveu por três décadas, guarda dessa origem os elementos que fixaram o sucesso duradouro desta família bizarra. Na transcrição para a Broadway, os personagens centrais são mantidos e os bordões que a série divulgou (o ritmo com o estalar de dedos, A Coisa ) ganham trilha, que ainda não seja brilhante, pelo menos segue convenção musical, ajustada ao espírito do texto. O convencionalismo também é o que marca a trama, na qual a historieta familiar entre estranhos e caretas, converge para a constatação de que as diferenças são de forma, e não de conteúdo. No primeiro ato, quando se expõem as características incomuns dos Addams e se brinca com  humor um pouco mais crítico ao politicamente correto, o musical se torna divertido. Já no segundo, quando esse humor fica em plano secundário e quase desaparece (os autores não deixam esquecer que o musical é dirigido a toda a família), a brincadeira perde a graça. A versão brasileira de Claudio Botelho, em cartaz no Vivo, mantém a competência de suas traduções e adaptações anteriores de material mais ambicioso. Os seus achados verbais e as referências nacionais são sempre bem transpostas. E a competência de Botelho se transmite a toda a montagem, que como não se pretende original ou avançar para além do que efetivamente é, reproduz o caderno de encargos original. A parte técnica, a cenografia, os bonecos, os efeitos especiais, o desenho das perucas, a maquiagem, a orquestração, o figurino e o elenco, correspondem àquilo que foi planejado e executado no teatro da Broadway. O mérito está em que se faz por aqui, tão bem como se faz lá. Canta-se bem, compõem-se as figuras com precisão, o espetáculo decorre sem qualquer falha técnica, atendendo ao que se propõe: divertir a família. O planejamento comercial enquadra o artístico. O circuito virtuoso se completa.       
                   Reprodução da crítica publicada neste blog em abril de 2012

Crítica/ Tudo Por um Popstar – O Musical
No palco à espera do mesmo sucesso editorial
Para adolescentes. Baseado em livro homônimo de Thalita Rebouças, esse musical adolescente em cartaz no Teatro Clara Nunes, foi produzido para atender às expectativas do público jovem da autora de sucesso. E foi esse sucesso editorial que provocou a extensão da frágil historieta de garotas do interior que viajam ao Rio para assistir a show de grupo musical para o palco. As confusões decorrentes desta vinda são o material ao qual Thalita recorre para tipificar meninas movidas pela tietagem. O sucesso de vendas do livro talvez possa informar bastante sobre o atual mundo adolescente. A transposição para o teatro, por sua vez, talvez possa revelar a necessidade mercadológica de estender o alcance etário do público através de um gênero em moda. O diretor Pedro Vasconcelos organizou a equipe e levou à cena jovens atores que desempenham o papel de uma certa imagem de adolescência. É o que fazem com disciplina e o que, imaginam os produtores, a plateia deseja. Mas só ficaremos sabendo se essa identidade acontecerá no teatro, se Tudo Por Um Popstar prolongar no palco igual êxito do livro.

Crítica/ Shrek – O Musical
O ogro em nova forma de animação
Para as crianças. No palco do Teatro João Caetano se revive, agora ao vivo, o que as crianças assistiram no cinema. A mesma história do ogro com piscadelas para a beleza da diversidade se corporifica na versão cênica amoldada aos cânones do musical. Figurino, caracterização e trama seguem o roteiro da animação e não deixam dúvidas quanto a intenção de fazer igual, de aproveitar a trilha do filme. Com profissional eficiência, cenários adequados e elenco ajustado, o diretor Diego Ramiro demonstrou que nada está fora do previsto. Seguiu o que se planejou. O elenco brasileiro é afiadíssimo, seja no humor de Rodrigo Sant’Anna, na figura bonachona de Diego Luri, na voz de Sara Sarres e na habilidade corporal de Marcel Octavio. Com 130 minutos de duração, Shrek, numa matinê de sábado, foi acompanhado por plateia infantil com interesse e atenção. Será que espectadores foram conquistados para o futuro?

                                                        macksenr@gmail.com