terça-feira, 4 de setembro de 2012

31ª Semana da Temporada 2012


Crítica/ Gozados
Amy Winehouse em versão ainda mais politicamente incorreta
O trocadilho e a sugestão do título apontam para  o tipo de humor deste show de comédia em cartaz no Teatro dos Quatro. Gozados é sequência de Subversões, que desde 1990 vem cativando platéias com versões nada reverentes de canções populares. A última temporada de Subversões aconteceu meses antes da estréia de Gozados, o que demonstra o poder de atração dessa brincadeira longeva. Em temporadas intermitentes, o original permaneceu em cena, conquistando públicos de gerações diferentes, formando cultores de suas letras-paródias de variadas músicas. Provavelmente é para atrair essa platéia seguidora que Luiz Salem, ator, e Stella Miranda, diretora, da primeira versão retomam a mesma trilha, agora com ambos no palco, na tentativa de repetir a fórmula. Se a intenção terá sido esta, talvez consigam sucesso pela fidelidade, ainda que, por precaução, apresentem um número retirado de  Subversões. Mas se, ao contrário, a dupla pretendeu ampliar a brincadeira, Gozados perde na comparação, em vigor e espírito, já que músicas e esquetes pesam na excessiva insistência em ambuiguidades sexuais e no linguajar vulgar. Quadros longos e pouco comunicativos, como os dos musicais e da cantora Amy Winehouse, desequilibram e quebram a voltagem do humor, que se mostra bem mais interessante quando recorre à crítica mais depurada e a citações oportunas ao politicamente correto. Quando esse cacoete hipócrita da vida social é exposto em seu ridículo, Gozados ganha outra embocadura na comicidade. Luiz Salem, bem mais à vontade e com inteiro domínio da cena, tem participação solta e identificada com o material cômico. Stella Miranda está mais contida e menos próxima ao estilo do humor que interpreta .    

Crítica/ O Filho da Mãe
Diálogo entre mãe e filho travestido em lugar comum 
Regiana Antonini mantém o registro de comediógrafa em O Filho da Mãe,  cartaz no Teatro Vanucci, confirmando pelo humor o desejo de exaltar a maternidade como vocação feminina incondicional. A mulher que é abandonada pelo marido transfere frustrações, ciúmes e desejos reprimidos ao amor maternal. A convivência de mãe e filho, do início da adolescência até a idade adulta do garoto, que está de partida para o exterior, é exposta em tempos paralelos que se misturam para apresentar o painel doméstico do relacionamento. A autora nem sempre domina a técnica de flashback, e sua complacência para com a comicidade fácil faz com que os diálogos, alguns até com observações bem sacadas, se percam no lugar-comum. Mãe e filho são tipos, não exatamente personagens, e estão, especialmente ela, a procura do riso como um fim em si mesmo. Os monólogos sobre a “nobreza” da maternidade ficam deslocados em meio a tantas piadas e reiteração da trama. O diretor e ator Eduardo Martini toma a si a  responsabilidade de encenar e atuar, tentando fugir à montagem original de há três anos. Em travesti interpreta a mãe em composição que traça o humor, exatamente pelo fato de ser um homem vivendo uma mulher. O ator não exagera ou apela, fica no limite das possibilidades de comicidade oferecida pelo texto. Bruno Lopes é o filho.

Crítica/ Na Sobremesa da Vida
Conversa de um ator sobre sua carreira 
Baseado no perfil de Emiliano Queiroz, publicado na Coleção Aplauso, o espetáculo que tem o mesmo título do livro e a mesma autora, Maria Letícia, está em cena no Teatro dos Quatro. Tanto livro quanto espetáculo revelam o desejo do ator de contar sua história no teatro, cinema e televisão como balanço profissional de 60 anos de atividades. Emiliano tem boas histórias a contar, desde o começo em Fortaleza até as pitorescas vivências como autor de novelas, a criação de Veludo em Navalha na Carne e da Geni na Ópera do Malandro. A montagem, assinada por Ernesto Piccolo, arruma com bastante modéstia a versão teatral do perfil escrito. Com a participação de Ivone Hoffmann, Antônio dos Santos e Ana Queiroz, coadjuvantes do personagem principal e único, a montagem é arrastada, artesanalmente pobre, que tem na vontade de Emiliano Queiroz compartilhar com o público uma trajetória de tantos anos. É dele o palco. 

Crítica/ Michael e Eu

Não basta ter uma idéia, ou se encantar por um desejo para fazer deles uma criação artística. Por mais que o autor desta sucessão de vídeos e de mal alinhavada costura de arremedo de trama se lance em temporada no Teatro do Leblon, as razões para encená-los, quaisquer que sejam, se mostram insuficientes para levantar tão banal empreendimento. Marcelo Pedreira baseou-se na história real de um fã fanático de Michael Jackson, colecionador de todo tipo de memorabilia sobre o cantor, capaz de atitudes cotidianas, ou ausência delas, que se regulam por esta idolatria. Para tanto, criou um psicanalista nada ortodoxo, um fanfarrão quase tão fora do ar quanto o paciente, este, o fã sem rumo, os dois, personagens-pretexto para exibição de cenas de shows de Michael Jackson. Não há nada que se assemelhe a um eixo dramatúrgico, muito menos a roteiro de show oportunista. A trama é tão pífia que pouco avança para além de descosturado arranjo cênico. O diretor Ivan Sugahara coordena com mão solta esse material inconsistente, com um único momento mais vivo, que pode ser considerado um golpe de teatro: a aparição da figura de Jackson. No mais, uma abertura ao som de Carmina Burana, imagens inexpressivas e atores rotineiros. Pedro Henrique Monteiro parece um fã sem paixão. Bruno Garcia, um psicanalista caricato.   

                                                            macksenr@gmail.com