Mostra Sesc São Paulo 2012
O-Z: experiência em torno da linguagem |
Pela 15ª vez o Sesc paulista realiza mostra de
arte que reúne várias manifestações – artes plásticas, música, cinema,
literatura e teatro – com participação de produções nacionais e internacionais.
São mais de 70 intervenções nas unidades da instituição espalhadas pela capital
paulista, sob a perspectiva de “estimular indefinições e suspensões em relação
às gavetas em que costumamos encaixar nossos costumes, nossa convivência e
nossa percepção sobre a arte”. Na área teatral, essa visão se estende para
grupos e companhias, daqui e de fora, que até o dia 29 de julho percorrem campos
exploratórios da linguagem cênica contemporânea. Segundo a curadoria da mostra
de teatral, “as escolhas foram pautadas por obras que revisam
procedimentos e/ou convenções pré-estabelecidas, em que as matrizes
tradicionais são revisitadas sob novas perspectivas ou que tenham como
principal característica a apropriação e releitura estética, colocando em
debate a ressignificação ou reestruturação do jogo teatral e a exposição
ou implosão das estruturas (ou "regras do jogo") que compõem a cena.
Algumas das produções presentes também são marcadas pelo hibridismo de
linguagens ou pelo uso criativo de novas tecnologias e o que notamos na relação
final é a abrangência de temas de interesse e o
diálogo com modelos consagrados na composição de novas proposições estilísticas”.
Em edições anteriores, a mostra exibiu nomes significativos da cena atual como Kazuo
Ohno, Christoph Schlingensief, Patrice Chereau,
Olivier Py, Bob Wilson, Ariane Mnouchkine, Enrique Diaz, Felipe Hirsch, Gerald Thomas, Michel Melamed. Na atual, os curadores levaram aos limites da radicalidade
as suas fundamentações teóricas, com a importação de grupos internacionais
e a fixação de companhias brasileiras. Alguns exemplares de um novo jogo
teatral proposto pela Mostra Sesc 2012 de teatro:
O Poder da Loucura Teatral
Jan Fabre e Cia Troubleyb (Bélgica)
Experiência de performance cênica de Jan Fabre |
O
espetáculo, originalmente criado na década de 80, com atores, bailarinos e cantores de diferentes países, propõe
nesta encenação performática de 4h20 de duração, a subversão e inversão das convenções
e formas artísticas clássicas e tradicionais, acrescentando fatos e reflexões
sobre o desenvolvimento do teatro nos últimos 20 anos. Apresentada em quatro
idiomas, como forma de afirmar seu potencial de tecer uma apologia e
simultaneamente uma crítica à globalização e uniformização do mundo, a obra de Jan Fabre
investiga as possibilidades do
poder transformador do teatro, mesclando linguagens e referências - como as de Hans
Christian Andersen, Richard Wagner, Michel Foucault. A trilha sonora é assinada
por Wim Mertens.
O-Z
Cia Fanny & Alexander (Itália)
Versão cabeça de O Mágico de Oz |
Três
espetáculos distintos fazem parte de ciclo cênico dedicado ao Mágico de
Oz, baseado no livro de Lyman Frank Baum e no filme de Victor Fleming. Em Ele, um ditador-ator, obcecado pelo
filme, dubla ininterruptamente, assumindo todos os personagens que vê na tela que,
ao fundo do palco, exibe o filme com Judy Garland. Em Cidade Esmeralda, a segunda parte da trilogia, é explorada a idéia
de miragem e utopia através de entrevistas com quatro dezenas de pessoas, de
línguas e culturas diversas, em que o Mágico coordena esse arquivo sonoro de
emoções e desejos. Cada espectador recebe fones de
ouvido, que criam uma espécie de relação direta com a mente do Mágico de Oz.
Na terceira, o público é “aprisionado”
junto com Dorothy por misterioso tipo de encantamento, uma brincadeira com a
linguagem capaz de interferir em nossa capacidade de expressar opiniões, de
tomar decisões, de dizer sim ou não às coisas que são propostas. Direção, cenário
e luz de Luigi de Angelis.
Herói Neutro
New York City Players e
Richard Maxwell (Estados Unidos)
Versão minimalista dos Estados Unidos profundo |
Apoiado
por estética cirurgicamente precisa, o anti-teatro intimista de Richard Maxwell
expõe mitos antigos latentes sob a vida moderna americana. Essa ópera country revela-se um épico
desconcertante sobre a vida na América mais profunda, através de um tom de
neutralidade alienante. No palco vazio, que remete à vastidão do céu do oeste
dos Estados Unidos, pessoas comuns relatam passagens de seu cotidiano. Cantam
com desnorteante ingenuidade, até que algo misterioso começa a se revelar para
além de suas existências, como a violência de heróis trágicos da mitologia,
como Ulisses, Gilgamesh ou Enéas.
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