domingo, 29 de abril de 2012

Outros Palcos


São Paulo

Musicais Domimam o Mercado

Tanto no Rio quanto em São Paulo, os musicais são os produtos teatrais da vez. Com indiscutível sucesso de bilheteria, tornaram fiel o público brasileiro, até há algumas décadas refratário ao gênero, que apenas o consumia em viagens a Nova Iorque e a Londres. Com a profissionalização dos elencos, a capacitação dos técnicos e o depuramento das traduções, os musicais se aclimataram por aqui, consolidando empresas de produção que lançam mais de uma montagem por ano em cada uma duas cidades. Além da importação crescente, o número de musicais nacionais cresce quase no mesmo ritmo, tanto os de viés biográfico, quanto os de outras temáticas. Essa avalanche, não só corresponde à procura do público, como reflete a necessidade de manter o mercado abastecido. Atualmente em São Paulo estão em cartaz quatro, dois levados do Rio, e já se anunciam para os próximos meses e temporadas, O Mágico de Oz, Fame, O Rei Leão, Shreek, A Pequena Sereia e Mary Poppins. Com maior público, a capital paulista dispõe de casas de espetáculos adequadas para receber comédias musicais, com pelo menos três teatros com ótimas condições para os atores e a platéia: Teatro Abril, com 1530 lugares; Teatro Bradesco, com 1457 lugares e Teatro Alfa, com 1100 lugares.


Crítica/ A Família Addams
Planejamento familiar enquadra o politicamente correto
Essa comédia musical, baseada em seriado de televisão dos anos 60, que sobreviveu por três décadas, guarda dessa origem os elementos que fixaram o sucesso duradouro desta família bizarra. Na transcrição para a Broadway, os personagens centrais são mantidos e os bordões que a série divulgou (o ritmo com o estalar de dedos, A Coisa ) ganham trilha, que ainda não seja brilhante, pelo menos segue convenção musical, ajustada ao espírito do texto. O convencionalismo também é o que marca a trama, na qual a historieta familiar entre estranhos e caretas, converge para a constatação de que as diferenças são de forma, e não de conteúdo. No primeiro ato, quando se expõem as características incomuns dos Addams e se brinca com  humor um pouco mais crítico ao politicamente correto, o musical se torna divertido. Já no segundo, quando esse humor fica em plano secundário e quase desaparece (os autores não deixam esquecer que o musical é dirigido a toda a família), a brincadeira perde a graça. A versão brasileira de Claudio Botelho, em cartaz no Teatro Abril, mantém a competência de suas traduções e adaptações anteriores de material mais ambicioso. Os seus achados verbais e as referências nacionais são sempre bem transpostas. A competência de Botelho se transmite a toda a montagem, que como não se pretende original ou avançar para além do que efetivamente é, reproduz o caderno de encargos original. A parte técnica, a cenografia, os bonecos, os efeitos especiais, o desenho das perucas, a maquiagem, a orquestração, o figurino e o elenco, correspondem àquilo que foi planejado e executado no teatro da Broadway. O mérito está em que se faz por aqui, tão bem como se faz lá. Canta-se bem, compõem-se as figuras com precisão, o espetáculo decorre sem qualquer falha técnica, atendendo ao que se propõe: divertir a família. O planejamento comercial enquadra o artístico. O circuito virtuoso se completa.      


Crítica/ Priscilla – Rainha do Deserto
Decoração festiva ao som de dance music
O musical Priscilla é uma reprodução cênica do filme australiano com o mesmo titulo, de 1995, sem maiores acréscimos e bastante fiel ao roteiro do cinema. Com trilha de hits da dance music dos anos 80 e sucessão de quadros de figurinos e cenários delirantes, Priscilla se constrói como um show em que prevalece o clima disco e sua discutível estética. Não há qualquer preocupação em criar uma trama, a não ser aquela que atenda a esses aspectos decorativos, levados, propositadamente, ao paroxismo do mau gosto. Exatamente como foi concebido em 2006, na mesma Austrália do filme, o musical é repetido em São Paulo, no Teatro Bradesco, como cópia sem possibilidade de quaisquer reinvenções nativas. Tudo se faz segundo os preceitos importados. É contratual. Se confirma, nessa realização engessada,  a capacitação de atores brasileiros às exigências do gênero, que se mostram tão hábeis quanto elencos nova-iorquinos e londrinos há muito preparados para o desempenho em musicais. Mas dos mais de 20 atores e bailarinos, que interpretam, cantam e dançam com precisa funcionalidade, integrando-se, sem deslizes, ao que pede a montagem original, o destaque é Ruben Gabira, que se faz notar em meio à correção geral. Como não há muito compromisso com a história, as músicas são tão circunstanciais quanto a sua banalidade, ao ponto de sequer merecerem tradução no espetáculo brasileiro, pela certeza dos produtores de que só completam sonoramente o visual. E este é tão absurdamente delirante, que se torna bizarro em sua cafonice e exagero, o que se demonstra bem adequado ao espírito desta cena- show de uma festa gay. O clima festivo é confirmado pelo quadro final, quando na única contribuição nacional, o palco se transforma numa discoteca, com direito a globo de espelhos, queda de balões e música das Frenéticas.                   

                                                            macksenr@gmail.com