São Paulo
Musicais Domimam o Mercado
Tanto no Rio quanto em São Paulo, os musicais são
os produtos teatrais da vez. Com indiscutível sucesso de bilheteria, tornaram
fiel o público brasileiro, até há algumas décadas refratário ao gênero, que
apenas o consumia em viagens a Nova Iorque e a Londres. Com a profissionalização
dos elencos, a capacitação dos técnicos e o depuramento das traduções, os
musicais se aclimataram por aqui, consolidando empresas de produção que lançam
mais de uma montagem por ano em cada uma duas cidades. Além da importação
crescente, o número de musicais nacionais cresce quase no mesmo ritmo, tanto os
de viés biográfico, quanto os de outras temáticas. Essa avalanche, não só corresponde à procura do público, como reflete a
necessidade de manter o mercado abastecido. Atualmente em São Paulo estão em
cartaz quatro, dois levados do Rio, e já se anunciam para os próximos meses e
temporadas, O Mágico de Oz, Fame, O Rei Leão, Shreek, A Pequena Sereia e
Mary Poppins. Com maior público, a capital paulista dispõe de casas de
espetáculos adequadas para receber comédias musicais, com pelo menos três
teatros com ótimas condições para os atores e a platéia: Teatro Abril, com 1530
lugares; Teatro Bradesco, com 1457 lugares e Teatro Alfa, com 1100 lugares.
Crítica/ A
Família Addams
Planejamento familiar enquadra o politicamente correto |
Essa comédia musical, baseada em seriado de
televisão dos anos 60, que sobreviveu por três décadas, guarda dessa origem os
elementos que fixaram o sucesso duradouro desta família bizarra. Na transcrição
para a Broadway, os personagens centrais são mantidos e os bordões que a série divulgou (o ritmo com o estalar de dedos, A Coisa
) ganham trilha, que ainda não
seja brilhante, pelo menos segue convenção musical, ajustada ao espírito do
texto. O convencionalismo também é o que marca a trama, na qual a historieta familiar
entre estranhos e caretas, converge
para a constatação de que as diferenças são de forma, e não de conteúdo. No
primeiro ato, quando se expõem as características incomuns dos Addams e se
brinca com humor um pouco mais
crítico ao politicamente correto, o musical se torna divertido. Já no segundo,
quando esse humor fica em plano secundário e quase desaparece (os autores não deixam
esquecer que o musical é dirigido a toda a família), a brincadeira perde a graça.
A versão brasileira de Claudio Botelho, em cartaz no Teatro Abril, mantém a
competência de suas traduções e adaptações anteriores de material mais
ambicioso. Os seus achados verbais e as referências nacionais são sempre bem transpostas. A competência de Botelho se
transmite a toda a montagem, que como não se pretende original ou avançar para
além do que efetivamente é, reproduz o caderno de encargos original. A parte
técnica, a cenografia, os bonecos, os efeitos especiais, o desenho das perucas,
a maquiagem, a orquestração, o figurino e o elenco, correspondem àquilo que foi
planejado e executado no teatro da Broadway. O mérito está em que se faz por
aqui, tão bem como se faz lá. Canta-se bem, compõem-se as figuras com precisão,
o espetáculo decorre sem qualquer falha técnica, atendendo ao que se propõe:
divertir a família. O
planejamento comercial enquadra o artístico. O circuito virtuoso se
completa.
Crítica/ Priscilla
– Rainha do Deserto
Decoração festiva ao som de dance music |
O musical Priscilla
é uma reprodução cênica do filme australiano com o mesmo titulo, de 1995, sem
maiores acréscimos e bastante fiel ao roteiro do cinema. Com
trilha de hits da dance music dos anos 80 e sucessão de
quadros de figurinos e cenários delirantes, Priscilla
se constrói como um show em que prevalece o clima disco e sua discutível estética. Não há qualquer preocupação em
criar uma trama, a não ser aquela que atenda a esses aspectos decorativos,
levados, propositadamente, ao paroxismo do mau gosto. Exatamente como foi
concebido em 2006, na mesma Austrália do filme, o musical é repetido em São Paulo,
no Teatro Bradesco, como cópia sem possibilidade de quaisquer reinvenções
nativas. Tudo se faz segundo os preceitos importados. É contratual. Se confirma, nessa
realização engessada, a
capacitação de atores brasileiros às exigências do gênero, que se mostram tão
hábeis quanto elencos nova-iorquinos e londrinos há muito preparados para o
desempenho em musicais. Mas dos mais de 20 atores e bailarinos, que
interpretam, cantam e dançam com precisa funcionalidade, integrando-se, sem
deslizes, ao que pede a montagem original, o destaque é Ruben Gabira, que se
faz notar em meio à correção geral.
Como não há muito compromisso com a história, as músicas são tão
circunstanciais quanto a sua banalidade, ao ponto de sequer merecerem tradução
no espetáculo brasileiro, pela certeza dos produtores de que só completam
sonoramente o visual. E este é tão absurdamente delirante, que se torna bizarro
em sua cafonice e exagero, o que se demonstra bem adequado ao espírito desta
cena- show de uma festa gay. O clima festivo é confirmado pelo quadro final,
quando na única contribuição nacional, o palco se transforma numa discoteca,
com direito a globo de espelhos, queda de balões e música das Frenéticas.
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