quinta-feira, 12 de abril de 2012

Cena Curta


Bob Wilson Fora do Rio

De sábado até o dia 22, no Sesc Belenzinho, em São Paulo, Bob Wilson apresenta A Última Gravação de Krapp, texto de Samuel Beckett, que no ano passado foi visto no festival Porto Alegre em Cena. Primeiro de uma série de espetáculos de Wilson que o Sesc de São Paulo traz ao Brasil, Krapp inicia mostra do diretor americano, um dos mais fulgurantes nomes do teatro do século 20, criador de linguagem em que a iluminação, o minimalismo interpretativo e a quebra do dramático compõem instigante universo cênico. Em novembro, estréia mundialmente no Brasil a ópera de Verdi, Macbeth, além de duas montagens que assinou para o Berliner Ensemble: A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht, fundador do grupo alemão, e Lulu, de Frank Wedekind, com música de Lou Reed. Em 2013, será a vez de Sonetos de Shakespeare, e em 2014 encena espetáculo original no Brasil. Essa presença extensa nas nossas fronteiras não inclui o Rio, cidade que, uma vez mais, fica de fora do circuito dos visitantes internacionais. Bob Wilson aporta por aqui desde os anos 70, quando criou polêmica com A Vida e a Época de Joseph Stalin, que em 1974 a censura obrigou a mudar de titulo para A Vida e a Época de Dave Clark. Em 1997, os cariocas assistiram a Timerocker, poderosa encenação com música de Lou Reed.  
Mímico niilista de emoções incertas
Com A Última Gravação de Krapp, Wilson retoma Beckett - do autor irlandês já montou Dias Felizes - mostrando-se fisicamente pesado, com aparência que registra marcas do tempo, aproximando-se, aos 71 anos, do velho personagem que interpreta neste monólogo. Há sempre algo de devastador e pessoal nos textos beckettianos, mesmo quando os sentimentos e as lembranças invadem a contínua exploração da palavra como reafirmação de que já não há mais nada a dizer. Até mesmo quando o humor se infiltra por esses despojos, um pouco antes ou logo depois de fins, Beckett não abandona a zona de sombras de vidas que ficaram no passado e sempre foram vividas com a consciência das fintudes e da inescapável incapacidade de transpor a certeza de permanentes impossibilidades. Não há na dramaturgia beckettiana áreas de escape, o mergulho é em direção ao escuro, à exumação de existências perdidas à partida, de volta a um ponto inicial que não tem chegada. Existir só é possível na contínua repetição do ato de viver, as vozes ou o silêncio prolongam o que já se deixou de escutar e a projeção da fala ou da mudez se transforma em pantomima indefinida. É a partir desta pantomina que Bob Wilson lança silêncios e ruídos à assepsia de sua arquitetura cênica fria e de traços secos. Como um Marcel Marceau pós-dramático, o ator-diretor de rosto pintado de branco, luvas cirúrgicas e movimentos e máscara expandidos, se transfigura em mímico niilista, funâmbulo de imagens derrisórias e emoções incertas. Bob Wilson não será o melhor ator do mundo, mas sua encenação é fiel à estética teatral em que o intérprete é a marionete-pertormer da interminável pantomina da vida.

                                                               macksenr@gmail.com