Minas Gerais/ Outro Lado
Desesperança na procura de um lugar |
O Quatroloscinco, grupo de Belo Horizonte, surgido há apenas cinco anos, traz ao Rio, no projeto Mambembão, dois espetáculos – É Só Uma Formalidade e Outro Lado, apresentados no Teatro Cacilda Becker – que refletem a dramaturgia cênica que o sustenta desde o início. Alunos do curso de teatro da Universidade Federal de Minas Gerais, em 2008 participaram da Cena Curta, no Cine Horto, sede do grupo Galpão, com fragmento do que viria a ser um espetáculo no ano seguinte. Assim, montam É Só Uma Formalidade que roteiriza duas situações – um homem diante da morte do pai, e casal enfrentando relação desgastada –, antecipadas por luta de boxe. Os atores – Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta e Rejane Faria - armaram jogo simples e atraente, sutilmentte mineiro e algumas vezes previsível, com diálogos ágeis, e intensa movimentação. Uma montagem que apontava para futuras e renovadas possibilidades. Três anos depois, em outubro de 2011, o Quatroloscinco estréia na capital mineira, Outro Lado, que cumpre, em parte, o que o espetáculo anterior insinuava. Mantendo o mesmo espírito de criação coletiva, em que a dramaturgia se amolda à dinâmica de palco como linguagem textual, Outro Lado se situa em época que “é sempre outono” e na qual “já ninguém se preocupa mais com moda”. O ponto de partida dessa história desesperançada, em que ameaças exteriores eliminam, gradativamente, o cotidiano, é o cubo mágico. Aquele brinquedinho, “inventado nos anos 80 por um húngaro”, que precisa ser resolvido , desde que cada lado de mesmas cores, se igualem. Registros sobre os movimentos aleatórios, que cada vez mais nos conduzem, procuram nos encaixar neste “lugar ordinário” em que estamos: “a única solução que a gente tem é estar aqui, agora”. À montagem falta tensionamento que projete as ameaças, presa a uma verbosidade que atira em muitas e dispersas direções. Ainda que mais esta experiência do Quatroloscinco de um teatro autoral com autonomia expressiva não se concretize integralmente, demonstra que o processo investigativo prossegue neste grupo empenhado em encontrar a sua assinatura identitária. Está no caminho.
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