Vencedores do Prêmio Shell de Teatro 2011
Julia deu o Shell à diretora Christiane Jatahy |
Em festa que reuniu a classe teatral foram anunciados os vencedores da 24ª edição do Prêmio Shell de Teatro da temporada 2011. A homenageada da noite, a crítica Barbara Heliodora, pelos seus 54 anos de atividades, foi saudada por Fernanda Montenegro que escreveu um texto sobre a amiga e, em alguns momentos, a algoz, ao longo de mais 50 anos de convivência. Fernanda destacou, com acurada sensibilidade, as características de Bárbara como critica e seu prolongado e atuante amor ao teatro. A premiação contemplou espetáculos variados, sem que houvesse qualquer acúmulo de mais de um vencedor por montagem. O que indica, a qualidade da temporada e a multiplicidade de bons trabalhos em cada categoria. Levaram troféus:
Autor: Felipe Rocha (Ninguém Falou que Seria Fácil)
Diretor: Christiane Jatahy (Julia)
Ator: Charles Fricks (O Filho Eterno)
Atriz: Dani Barros (Estamira)
Cenógrafo: Fernando Mello da Costa (Um Coração Fraco)
Figurinista: Gabriel Villela (Crônica da Casa Assassinada)
Iluminação: Maneco Quinderé (Palácio do Fim)
Música: Marcelo Castro (Um Violinista no Telhado)
Categoria Especial: Márcia Rubin pela direção de movimento de Escola de Escândalo, O Filho Eterno, A Lua Vem da Ásia e Outside: Um Musical Noir e 60 Anos de O Tablado
Argentina x Brasil
Crítica/ Modéstia
Vaudeville de encaixes contrastantes de humor |
O argentino Rafael Spregelburd manipula gêneros neste texto em cartaz no Centro Cultural dos Correios. Depurando estilos, constrói numa dualidade de tempos, unidade narrativa que deixa à mostra domínio de vertentes dramatúrgicas. Em dois planos temporais – na Buenos Aires atual, e na Rússia do século 19 – tramas independentes se misturam, interpretadas pelo mesmo elenco, em que são lançados truques de teatro nos quais saltam elementos improváveis. Do presente, delírios de irrealidade. Do passado, identidades camufladas. Os entrechos se interpenetram num único fluxo, em mecanismo cênico, em que o gênero determina a integração dos planos. O que ressalta deste movimentado jogo de importação de nacionalidades tão distintas e escalas de humor tão contrastadas (é possível até lembrar-se do humor tchecoviano) é um ar de vaudeville que faz o encaixe do puzzle. O diretor Pedro Brício se aproximou deste material com o espírito de sua dramaturgia. Como autor, Brício recria o passado (como referências, Confeitaria do Sr. Pelica e Cine-Teatro Limite, dois de seus textos) como Spregelburd o faz, utilizando-se de técnicas dramáticas como recursos narrativos. A montagem tem agilidade vaudevilesca, capaz de agitar a cena com entradas e saídas, investiduras de personagens que desaparecem e surgem transformados. Para tanto, o cenário de Bia Junqueira interpreta muito apropriadamente a linguagem de que se serve o vaudeville. A ambientação realista, de início, com suas portas construídas para o entra e sai, vai progressivamente se desfazendo, com paredes que mudam de posição, até que desabem como os mundos delirantes daqueles que se estranham com suas existências. A iluminação de Tomás Ribas e a trilha sonora de Domenico Lancelloti se destacam. O quarteto de atores está tão integrado ao ritmo da encenação, que cada um deles tem momentos de destaque individual, sem perder a perspectiva do conjunto. Gilberto Gawronski demonstra, em relação a seus pares, menor integração por se mostrar um pouco tenso. Fernando Alves Pinto, em que pese relativa aceleração vocal, empresta, adequadamente, um ar, ora perplexo, ora fatalizado, aos dois personagens. Isabel Cavalcanti imprime, nas cenas em que as personagens exigem destempero e nervosidade, exata medida de como projetá-los. Bel Garcia explora com inteligência e sagacidade interpretativa o humor irônico do texto, numa atuação de incontestável brilho.
Crítica/ Os Mamutes
A procura pós-adolecescente de ver o mundo |
Jô Bilac acumula carreira meteórica. Com menos de 30 anos, já teve várias de suas peças montadas, numa produção intensa, e sempre pronta a atender à demanda. Os Mamutes, em cartaz no Espaço Sesc, é uma delas, e a mais antiga. Escrita, pouco depois do autor ter saído da adolescência, reflete a juventude de Bilac. Repleta de influências múltiplas (de Nelson Rodrigues a Agatha Christie, de quadrinhos a flashes da cultura pop), a sua dramaturgia nesta primeira obra libera a vontade de dizer muito de tudo que implica a fricção pós-adolescente: do protesto sem alvo definido à investida contra o consumismo. Pouco mais do que uma curiosidade curricular, o texto oferece nas suas limitadas dimensões, alguns poucos indícios do que Bilac desenvolveria no futuro. A diretora Inez Viana ajustou a cena ao tom de brincadeira, o que parece a única possibilidade de tornar viável a sequência de quadros descompassados. Inez organiza com alguma habilidade formal (movimentos que compõem desenho do conjunto, às vezes, divertido) e razoável velocidade narrativa, atenuando a imaturidade técnica e a juventude temática da escrita. Mesmo com esse relativo dinamismo e formalização, a montagem se arrasta com dificuldades de ganhar vôo de cruzeiro. O elenco se mostra como um grupo de jovens disposto a entrar na brincadeira. Ninguém é excluído, ou posto à parte neste palyground cênico. Débora Lamm é quem conduz com perversidade infantil as jogadas, enquanto Cristina Flores entra na roda, evocando uma rainha de um país das maravilhas qualquer, com ferramentas lúdicas bem afinadas.
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