Serrador Sob Nova Direção
Movimentada estreia nos anos 40 no teatro da Senador Dantas |
A falta de casas de espetáculos no Rio está determinando o formato das últimas temporadas. O tempo de ocupação dos espetáculos vem diminuindo pela necessidade de renovar os cartazes pela ausência de palcos que os acolham por mais semanas. Os editais das secretarias de cultura e das empresas, que estão ampliando, ano a ano as dotações para o teatro, selecionam projetos, que devem chegar às platéias no prazo de um ano, o que evidencia e pressiona a carência de espaços. Ainda que sejam apenas promessas, já se fala na possibilidade de reabertura do Teatro Copacabana, em provável substituição do Teatro Glória, na finalização da reforma do Teatro Villa-Lobos e na reativação do Teatro Manchete. Mas há boas notícias e mais concretas. O Tereza Rachel será reaberto. O Sesi deve incorporar, ainda este ano, mais um teatro à cidade, com a inauguração de unidade na Rua Mariz e Barros, na Tijuca. E o Teatro Serrador, um dos mais tradicionais do centro, depois de anos de decadência, volta ao circuito, com a ocupação da Cia. Alfândega 18, dirigida por Moacir Chaves. Nos planos da companhia, uma pequena reforma e a apresentação das encenações de Chaves em repertório, além de estréias e convite a outros grupos.
O Serrador abriu a cortina em 1940, integrando o circuito de teatros da Cinelândia e adjacências, próximo ao Dulcina, Glória, Ginástico, Rival, João Caetano, Carlos Gomes, Recreio, Fênix, Alhambra e República). Abrigo do teatro comercial da época, foi ocupado por companhias que recebiam o nome do primeiro ator/atriz, criando público quase cativo. Ia-se a certas casas de espetáculos para assistir àquela estrela e confirmar o seu estilo. O Serrador foi a casa, por longos anos, de Eva, que se apresentava com Seus Artistas, em comédias que estabeleceram a sua inconfundível verve interpretativa. Na maioria, eram montagens de boulevard franceses, ou versões brasileiras assinadas por Luis Iglesias e Paulo Magalhães, que eram recompensadas por bilheterias, quase sempre, generosas. A inauguração foi com a Companhia de Procópio Ferreira, com Maria Cachucha, de Joracy Camargo. Procópio foi o primeiro arrendatário do Serrador, e com sua companhia fez longa temporada na sala da Senador Dantas. Deus Lhe Pague, o seu cavalo de batalha por décadas, esteve em cartaz por lá, mais de uma vez. Bibi Ferreira escreveu Bendito Entre as Mulheres, especialmente para que o pai atuasse no período do arrendamento. Com pouco mais de 350 lugares, o Serrador foi pouso também para a estréia de alguns textos de Nelson Rodrigues. Em 1951, com Valsa N°6, escrita por Nelson para sua irmã Dulce, e que foi dirigida por Henriette Morineau. Seis anos depois, iniciaria temporada no mesmo teatro, A Mulher Sem Pecado, com direção de Rodolfo Mayer, e ainda com Dulce no elenco, ao lado de Jece Valadão. Nelson Rodrigues voltaria a ocupar o palco do Serrador, em 1965, com Toda Nudez Será Castigada, em excelente encenação de Ziembinski, com Fregolente no elenco, ao lado de Cleyde Yáconis, em interpretação memorável. A partir de 1966, o Serrador, em paralelo com a emigração da cena teatral para a zona sul da cidade, entra em decadência irremediável, pelo menos até agora, quando a revitalização do entorno e a ocupação da Alfândega 18 podem reverter esse quadro.
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