Está Aberta a Corrida dos Musicais
Crítica/ As Mimosas da Praça Tiradentes
Briguinhas de camarim pelas luzes do palco |
Há uma intenção, pequena e frustrada, de reverter o convencionalismo no musical que pretende contar a história da vida teatral e boêmia da Praça Tiradentes. Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche, os autores de Mimosas da Praça Tirandentes, em cartaz no Teatro Carlos Gomes, uma das casas de espetáculos remanescente da época áurea deste logradouro do Centro, procuram, timidamente, usar o exagero expressivo e a exuberância visual dos travestis para estabelecer contraste crítico e manipular o gênero cabaré como síntese do show bussines. Mas se houve, efetivamente, tais intenções, já a meio do primeiro ato, se percebe que não se levou muito adiante quaisquer delas. O que poderia ser crítico se transforma em exibição de um certo universo de plumas, paetês, de iconografia e música brega. O que se insinua como diversão popular por décadas, se revela somente briguinhas de camarim. Gasparani e Rieche sucumbem à convenção cronológica e à sucessão dos fatos como num manual de registro de datas. A própria trama – um cabaré prestes a fechar as portas, precisa montar show de sucesso para se salvar da falência - não consegue escapar da rotineira evolução e previsível desfecho. A concepção, por identificar-se sem filtros com o mundo dos travestis, reduz a cena à caricatura e a competição pelas luzes do palco. A montagem de Gasparani e Sérgio Módena se enquadra, à perfeição, no espírito feérico e superficial do texto. São muitos quadros, alguns bastante longos, dois atos (o segundo, apenas repetitivo), e incansável busca de brilho e efeitos (dos reluzentes figurinos à queda de balões ao final). A cenografia de Ronald Teixeira soluciona o espaço, e o figurino de Marcelo Olinto consegue um bom momento cômico, surpreendendo com a entrada do professor com fantasia de concurso de carnaval. Jonas Hammar não demonstra muita intimidade com o gênero musical. Milton Filho conduz o saltitante camareiro com comicidade popularesca. Claudio Tovar, pelo menos na noite de estréia, se mostrava pouco à vontade em cena. Marya Bravo sustenta bem melhor a Divina Rubia como cantora do que como atriz. César Augusto não encontra o tom para equilibrar-se em saltos altos. Gustavo Gasparani, na mesma chave de seus companheiros de palco, se destaca por interpretação que recorre aos mesmos maneirismos, trejeitos e vozes afetadas dos demais, mas exibe bom trabalho de ator, nítido e detalhado.
Crítica/ Xanadu
De como o besteirol dá algum fôlego a musical |
A produção do musical Xanadu, em cartaz no Oi Casa Grande, identifica esse descartável exemplar da Broadway, baseado no medíocre filme dos anos 80, como “um besteirol”. O rótulo, serve bem mais como justificativa para a montagem, do que propriamente como julgamento de valor. A opção de associar esse estilo tão carioca de teatro, que na mesma época da exibição do filme com a insossa Olivia Newton–John, espanava os ares pesados da censura e o peso das metáforas dos textos então em cena, é o que torna possível a aclimatação e a sobrevida deste desinteressante musical. A versão brasileira de Artur Xexéo insuflou algum fôlego a este impensável divertissiment, com pequenas piadas, citações locais, e referências a programas de televisão e a atribulações da produção teatral. Foi a melhor, e, sem dúvida, única alternativa para que o absurdo se tornasse, minimamente, digerível, e a banalidade, um pouco mais reconhecível. Administrando esse truque de importação, o diretor Miguel Falabella seguiu com habilidade, e um olho no espetáculo original da Broadway, e outro nas suas lembranças como um dos inventores do besteirol, as restritas possibilidades de encenação de material tão inconsistente. Apesar da tradução, sonoramente vertida para nossos ouvidos, das canções medíocres e do aparato cenográfico e figurino colorido, que revisitam a estética disco e patinam nos efeitos, o espetáculo avança sem maiores deslizes, a não ser aquele que lembra o largo tempo para contar historieta tão boba. Daniele Winits se mostra mais vivaz como atriz do que como cantora. Thiago Fragoso ultrapassa, com interpretação digna, seu abobalhado personagem. Sidney Magal, integrando-se à adaptação nacional, reproduz a sua imagem de cantor. Sabrina Korgut, com maior desenvoltura, e Gottsha compõem com dupla bem humorada, que poderia fazer parte do elenco de programa humorístico de televisão.
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