Tempo
Mostra Multiuso do Rio
Destreza em exercitar códigos e convenções |
O mais jovem e arejado festival de artes cênicas do país, não se restringe às manifestações de palco. Abrindo as portas das salas de espetáculos, vai em busca de espaços livres, urbanos, sociais, de zonas improváveis como expressões artísticas para explorar linguagens, propor intersecções de vozes, deixando entrar outros ares e conexões. Desde a primeira edição - esta, que termina no domingo, é a segunda -, que a idéia de permanente co-participação de tendências, algumas até excludentes, é explorada nos limites dos contrastes. Há uma evidente restrição orçamentária, que torna curta a duração da mostra, mas ao mesmo tempo, há uma petulância curatorial que permite que tantas variantes e múltiplos processos deságüem em programação enxuta e provocativa. E a seleção não pretende polemizar, pelo menos num sentido rumoroso, mas como forma de sugerir correspondências e ressonâncias. Em 2011, o Tempo estabelece ligações com outras áreas da cidade, na sua linha de intervenção urbana, ocupando o Morro do Adeus com a apresentação da imagística de Gabriel Villela para Ricardo III com Sua Incelença, Ricardo III do grupo Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte, com a montagem francesa Padox na Cidade, e com a residência da artista gaúcha Roberta Savian do projeto Migrações Temporárias. Paralelamente à sofisticação artística que sobe o Complexo do Alemão, na zona sul o festival é aberto com duas formas “tradicionais”: a dança da Cia. Provisional Danza da Espanha, com Ni Ogros, Ni Pricesas, e o teatro da Cia. Timbre 4 da Argentina com El Viento en un Violin.
Pelos padrões da seleção do Tempo, a montagem de Cláudio Tolcachir, que assume o titulo poético de O Vento em um Violino, como enunciado de suas ambições, pode ser considerando um espetáculo sem ousadia. Seja como dramaturgia, seja como encenação, esse texto assinado pelo próprio diretor, propõe de início imagem verbal que, apenas parcialmente, se concretiza. Uma atriz entra em cena, e buscando um frente-a-frente com a platéia diz: “tudo que eu vejo, está nos seus olhos”. Essa promessa de condução do olhar do espectador para a cena, fica a meio do caminho. Os conflitos que se criam entre uma mãe histérica e possessiva, um filho frágil emocionalmente, e uma empregada, cuja filha é induzida pela namorada a buscar um homem para que possa gerar um filho, circulam por sentimentos disfuncionais. A direção parece querer deixar tudo no lugar, sem arranhar o que o autor talvez em algum momento, pretendesse que fosse menos ameno. Na envolvência poetizada e em meio a diálogos curtos e rascantes, ressalta o elenco afinado, que é o que melhor que se pode assistir em O Vento em um Violino, que demonstra, somente, destreza em exercitar códigos e convenções.