domingo, 11 de setembro de 2011

34ª Semana da Temporada 2011


Crítica/ Você Precisa Saber de Mim
Em busca da naturalidade narrativa
A história de cada um, própria, particular, única, se acumula através das lembranças, da passagem do tempo, e dos traços deixados pela ascendência. Os que vieram antes, aqueles que chegam, os que ficam pelo caminho, espalham vestígios para aqueles que seguem vivendo. De certo modo, é o que a montagem de Você Precisa Saber de Mim, em cartaz no Galpão do Espaço Tom Jobim, ambiciona percorrer, através da interposição de tempos narrativos e do modo de contar histórias. Referências a árvores genealógicas, cartas e parentes mortos apresentam o que se contará, com alternância de momentos e com ilustrações periféricas que comentam existências banais, corriqueiras, absurdas, como são todas elas. Seis autores (Pedro Brício, Jô Bilac, Rodrigo Nogueira, Vitor Paiva, Henrique Tavares e Emanuel Aragão) se enredam nessa teia de lembranças, não exatamente como construtores de uma dramaturgia, mas como expositores de sensibilidades. O papel de dramaturgo é assumido pelo diretor Jefferson Miranda que construiu o texto como cena, artífice de uma narrativa, adotada como eixo central da montagem. O desenvolvimento das cenas, distribuídas por praticáveis, que se alternam como palcos, física e dramaticamente colocados diante de dezenas de espectadores-testemunhas, é desenhado para que o diretor experimente o naturalismo dos diálogos e a tonalidade “natural” da interpretação do elenco. Ainda que o estilo de atuação procure  se fixar nesta linha, o naturalismo  parece um tanto empostado e artificial. Da mesma maneira que a densidade dramática sofre considerável perda na intensidade interior das cenas. Há um deliberado desprezo pelo adensamento dos quadros, em favor do modo de encenar, prevalecendo um relativo formalismo sobre códigos mais dramáticos. Você Precisa Saber de Mim, no entanto, é um projeto provocante, que confirma a persistência da pesquisa de Jefferson Miranda, além de demonstrar através dos três atores – Giselle Fróes, intensamente integrada ao ritmo da encenação; Alexandre Nero, com boas intervenções; e Luiza Mariani, um tanto elegante demais – as técnicas do diretor de desarmar as convenções da narrativa cênica.      


Festivais

Tempo - Uma das mostras mais instigantes do país, apesar das evidentes limitações orçamentárias - se inicia no dia 13 e se estende até o dia 18 - a Tempo apresenta programação com linha múltipla em estilos, gêneros e linguagens. Para esta segunda fase – a primeira aconteceu há pouco mais de um mês – estão previstas montagens internacionais como a da companhia francesa Houdart & Heuclin, de grupos argentinos como o Timbre4, e da artista multidisciplinar alemã Antonia Baehr. Entre os espetáculos nacionais, destacam-se Luís Antônio-Gabriela, da companhia paulista Mungunzá, dirigida por Nelson Baskerville, e a estréia de Como Cavalgar um Dragão, do grupo carioca Teatro Inominável. Estão anunciadas também apresentações de Sua Incelença, Ricardo III, a versão de Gabriel Villela para a tragédia de Shakespeare, no Complexo do Alemão.

Porto Alegre Em Cena – Festival, que vai até o dia 25 de setembro,  com programação vasta e consistente, chega à 18ª edição com a participação de nomes internacionais de indiscutível prestígio. Além de Arianne Monouchkine, que  volta à capital gaúcha, depois de Les Ephermères, com o seu último trabalho, Les Naufragés du Fol Espoir , também retorna à mostra Robert Wilson, como ator e diretor de A Última Gravação de Krapp, sua versão assepticamente plástica para o texto de Samuel Beckett. Da França e África do Sul se apresenta Médée , adaptação da tragédia de Eurípedes ao som de ritmos e canções tribais africanas. Do Mercosul, pelo menos dois espetáculos prometem: Dolor Exquisito, Argentina, e Neva, do Uruguai.
 
8° Festival Internacional de Buenos Aires - De 24 de setembro a 8 de outubro acontece a mostra bienal de artes cênicas da capital argentina, com Hamlet, direção de Thomas Ostermeier para a poderosa Schaubühne am Lehniner Platz alemã. E ainda O Grande Inquisidor - Fragmentos dos Irmãos Karamazov, de Dostoiévski, leitura dramática arrebatadora do francês Patrice Chéreau. A Flauta Mágica, de Peter Brook, que a plateia carioca acaba de assistir, compõe a lista dos espetáculos internacionais. A grade se completa com mostra paralela com a produção independente da Argentina, reunindo autores e diretores que estão filiados ao novo teatro do país, que já é exportado para o exterior, pelo menos no circuito latino-americano e europeu dos festivais de teatro. E o documentário Pina, de Wim Wenders, em formato 3D, será exibido apenas no dia 26, em estréia sul-americana.


                                                                     macksenr@gmail.com