Musicais Cantam a Cultura Carioca
Crítica/ Na Rotina dos Bares
Boemia passadista em rotineiro jogo de cena |
A pretensão de Na Rotina dos Bares, em cena no Teatro Sesc-Ginástico pelo menos aquela expressa no subtítulo, é de ser “um musical sobre a história da boemia carioca”. Para contá-la, o autor Marcos França recorreu a seleção de músicas populares ligadas ao tema, estabelecendo pequena trama com personagem que viveu os diversos momentos da vida noturna carioca. A seleção musical ilustra as fases da noite carioca, e os quase esquetes que introduzem as músicas buscam justificar as vivências do boêmio longevo e inveterado. Passadista, a montagem, que é assinada por Ana Paula Abreu, que se define como diretora artística, fica distante do espírito, que se imagina retratar com a música. Fala-se de um Rio mais ameno, da malandragem e das noitadas, do avanço do tempo como impulsionador da destruição urbana. Para tanto, toma-se como símbolo a demolição do restaurante Lamas, no sobrado em que foi fundado no Largo do Machado, para decretar o fim da boemia na cidade. Ou ao menos, de determinado tipo de boemia. Essa exposição saudosista, em que o espírito de cada época, ou as vivências numa cidade idealizada não estão concretizadas no palco, não esconde o frágil arcabouço cênico. Mesmo não possuindo voz para o canto – os demais atores (Marcos França, Édio Nunes, Letícia Medella e Sheila Mattos) percorrem com boas vozes o repertório de 25 músicas –, Antônio Pedro Borges compensa essa limitação, com jogo de cena, improviso e humor.
Crítica/ Zé Keti: Eu Sou o Samba
Biografia engessada de um repertório |
Os musicais biográficos se transformaram em fórmula, engessados numa mesma e repetida embalagem, para contar a história pessoal e profissional de compositores e cantores, intercalada por canções de seus repertórios, e que se inicia pela morte para descrever, cronologicamente, a vida. Muito já se utilizou deste recurso, até banalizá-lo como um protocolo a ser seguido sem qualquer criatividade e alguma, ainda que tímida, tentativa de renovação. É o que acontece com o roteiro de Maria Helena Kühner para Zé Keti : Eu Sou o Samba, em cartaz no Teatro R. Magalhães Jr. da Academia Brasileira de Letras. A autora teve o seu texto original condensado para servir como roteiro para a introdução das músicas, e é esta versão que é dada a assistir. Há uma pesquisa visível sobre Zé Keti, mas que não consegue ser diluída e ganhar formato dramático que alcance autonomia expressiva. Os dados se sucedem como preâmbulos e sugestões para que se cante, sem que nos intervalos se corporifique mais do que a roteirização das informações. O diretor Sérgio Fonta administra cenicamente essa sucessão musical, com a mesma modesta contribuição do texto, e sem invenção ou desvio do sequencial rol de músicas. A direção musical de Josimar Monteiro é o que o espetáculo tem de melhor. Os atores se distribuem entre a maior capacidade de cantar, como é o caso de Sanny Alves, e a dificuldade de interpretar o repertório musical de Zé Kéti, como Sérgio Menezes. Rodrigo Candelot se reveste de improvisado narrador.
Musicais em Cenas Curtas
A Aurora da Minha Vida, peça de Naum Alves de Souza, escrita em 1981, se transformou em Um Musical Brasileiro , estreando dia 13 de outubro no Teatro Sesc Ginástico. O texto e a encenação, assinadas por Naum também na versão musicada, retoma as partituras de Marcos Leite, finalizadas por Roberto Gnatalli, depois da morte do compositor na década de 90. As letras inéditas são de Naum, e oito atores estão em cena, entre eles, Ana Velloso, Vera Novello, André Dias, José Mauro Brant e Thelmo Fernandes.
Charles Möeller e Claudio Botelho, que recém enceraram a carreira exitosa de Um Violinista no Telhado, no Rio, e acabam de estrear, em São Paulo, As Bruxas de Eastwick, já anunciam, para novembro, no Teatro Fashion Mall, mais um musical: Judy, biografia da cantora e atriz Judy Garland. E no dia 13 de outubro reestréia um dos maiores sucessos da dupla, Beatles Num Céu de Diamantes, no Teatro Clara Nunes, com o elenco original da bem sucedida montagem, já assistida por 200 mil espectadores, desde sua estréia em 2008, na Arena do Espaço Sesc.
Atualmente em cartaz nos teatros cariocas, cinco musicais, todos com libreto e músicas brasileiros, disputam a preferência do público, depois de muitos anos de preconceito, o que transforma Rio e São Paulo juntos, no terceiro mercado para o gênero, depois de Nova Iorque e Londres. Podem ser vistos na cidade, além de Na Rotina dos Bares e Zé Ketti: Eu Sou o Samba, Tim Mais – Vale Tudo, O Musical, agora no Oi Casa Grande; Emilinha e Marlene – As Rainhas do Rádio, no Teatro Maison de France e a opereta Flôr Tapuya no Teatro Carlos Gomes.
Com direção de José Possi Neto, que acaba de encenar New York, New York, musical que encerrou temporada em São Paulo no mês passado, estréia dia 27 de outubro, no Teatro Procópio Ferreira, Cabaret, de Bob Fosse, com Claudia Raia no elenco. E continuam em cena na capital paulista Mamma Mia! e as produções importadas do Rio, Hedwig e o Centímetro Enfurecido, musical pop, adaptado e dirigido por Evandro Mesquita, e o clássico Hair. Para o próximo ano, estão previstas as montagens de O Mágico de Oz, A Família Addams e Priscila, A Rainha do Deserto.
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