Memória de Flávio Império
Livro/ Flávio Império
Artesão da estética da escassez |
Da Coleção Artistas Brasileiros, Flávio Império, livro organizado por Renina Katz e Amélia Hambúrguer (Edusp) é uma boa oportunidade, ao lado da exposição no Itaú Cultural sobre o cenógrafo e artista plástico, morto em 1985, para rever a obra e os conceitos desse criador paulista. Reunindo a produção para o teatro e artes plásticas de Flávio, a publicação perpassa três décadas de uma “energia especial”, como o denominou Gianni Ratto na introdução-homenagem a Império na edição de Antitratado de Cenografia: Variações Sobre o Mesmo Tempo (Editora Senac): “Ele nos faz pensar nos grandes artífices da Renascença: homens-artistas-artesãos que dominavam um leque de atividades complexas e cuja dimensão era a resultante de um esplêndido instinto criador aliado a uma intuitiva postura crítica”. Império buscava a sintonia com os meios de produção de uma arte exercida no precário. O artesanal na cenografia de Flávio Império foi exercitado menos pela necessidade de contornar a limitação de recursos, e mais como linguagem com valor intrínseco. A escassez, como observa a crítica Mariângela Alves de Lima no ensaio contido no livro é, em si, “um problema expressivo”. A consciência de Império de que não inovou nada no plano internacional, é uma constatação, que antes de servir à modéstia, demonstra que atualizou “vários conceitos aqui na província”. Para concluir que conseguiu, “com produções paupérrimas, um nível de realização extremamente sofisticado”. Para alguém que trabalhava com tão parcos meios, Flávio Império aprendeu a considerar essencial “haver, no palco, um respeito pela ótica da fantasia, que é exigida pelo espectador, e isso eu aprendi com o cenógrafo Svoboda.” Nos depoimentos reunidos por Maria Thereza Vargas, a invenção cenográfica de Império se delineia o alcance da visualidade na gênese do espetáculo. “Aprendemos que o teatro é o que se quiser que ele seja. Ele não preexiste.” Flávio Império toca, deste modo, na profunda zona da criação, no espaço do papel em branco, no palco nu, no ator construindo a interpretação. “Além da ribalta não há separação entre ficção e realidade, sonho ou fantasia e verdade.”
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