segunda-feira, 18 de março de 2019

Temporada 2019/ São Paulo


Crítica/ “A Repetição. História(s) do Teatro (1)
O dramático sob o foco do documental 

Como em um ensaio, “A Repetição. História(s) do teatro (1)”, que abriu a sexta edição da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, o prólogo desta encenação do suíço Milo Rau, indica que se procura uma relação da cena como o real. No foco, o assassinato, em 2012,  de um jovem homossexual de origem árabe, na cidade de Liège, deprimida pelo desemprego: um fato verdadeiro e em circunstância social definida. Na mediação teatral, a busca de formas de apreender como atores exteriores, personagens reais: uma reconstituição documental com meios convergentes. Não é exatamente o que se observa ao longo de uma exposição maior de técnica do que efetivo diálogo entre representação contestadora e o descarnamento da violência. Nos diversos apontamentos sobre o acontecimento central, expõem-se mais os mecanismos de elaboração do que intermediação dos tempos narrativos. As fracionadas e simultâneas imagens de palco e vídeo criam um olhar de justaposição. A escolha dos atores, que fazem de suas entrevistas um simulacro de mentira, antecipa a imersão no documento da verdade. O aparente jogo inicial de intervenção, modular, combativa, desafiadora, do ato teatral com a contextualização, desveladora, demonstrativa, crítica, reduz-se a um aparato construtivo, quase arquitetônico. Desta engenharia preliminar, não resulta a interposição pretendida, apenas a construção, habilidosa e tecnicamente bem elaborada, de uma montagem que se configura dramática. A cena do espancamento e a presença física de um carro, reproduz o ambiente da brutalidade, com sua carga de virulência, mas de recursos e efeitos dramatizantes. O final, remetido à igual cena do início, mostra-se um adendo dispensável, antecedido por canto musicalidade épica que sela a predominância do drama sobre os pretendidos fundamentos construtivos da encenação.