Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (9/8/2017)
Crítica/ “Minha
vida em Marte”
Fernanda, uma mesma personagem em várias mídias |
Há 12 anos, quando Mônica Martelli lançou o monólogo “Os homens são de Marte...e é pra lá que eu vou”, não poderia imaginar que a personagem Fernanda encontraria adesão irrestrita das plateias. Muito menos, que se distribuiria, mantendo as suas características, por seriado de televisão e tela de cinema. Sem ter mudado qualquer das suas preocupações, Fernanda sempre visou a sua relação com os homens, em incansável busca por aceitação e por assegurar convivência idílica. Obsessiva na procura, esbarrava no primeiro texto, nas inseguranças e em inatingíveis modelos masculinos que construiu como objetos de desejo para si. Nesta nova tentativa, agora casada e mais madura, em anos, e não emocionalmente, expõe as frustrações para sustentar a convivência conjugal. O humor, que sustenta a ambos, se move por observações espertas que captam o senso comum e comportamentos circulantes, que provocam reações identitárias, como o riso como carapuça muito usada. Não se cogita, nesses tempos de papéis familiares trocados e redefinições de expectativas de gênero, que se toque em qualquer desses temas. Fernanda se conserva a mesma, sem outra razão, senão aquela de cultivar a sua peregrinação pela miniatura dos sentimentos. É o que a autora e atriz já delimitou, e o que o público não quer ver ultrapassado. A diferença entre o espetáculo de 2005, que estreou, sem maiores pretensões no exíguo Teatro Cândido Mendes, e que agora ocupa a amplitude do Teatro das Artes, é o volume de produção. Cenário, figurino, iluminação, direção musical e de movimento, além da direção geral, tudo ganhou acabamento e sofisticação para que tudo permanecesse igual. Mônica Martelli não mostra qualquer nova faceta na interpretação, já que a durabilidade da personagem, resiste ao tempo e agrada, sem restrições dos espectadores, em qualquer mídia. Com o sucesso não se brinca, e é perigoso confrontá-lo, especialmente nestes tempos de crise e de plateias vazias. A persistência de um êxito, pode ser explicada pela capacidade de comunicação que a obra estabelece com quem a consome. Buscar o que se quer, em períodos em que as escolhas ficam restritas a questões fora dos teatros, valoriza quem oferece um produto que estabelece diálogo direto com o consumidor. E “Minha vida em Marte” é certeiro ao cortejar o previsível para continuar a falar a muitos.