Crítica/ “Morte
acidental de um anarquista”
O diretor Hugo Coelho propõe uma revisão na
dramaturgia de Dario Fo para estabelecer maior comunicabilidade com a plateia.
Procura nacionalizar referências e enxugar a trama para deixa-la solta ao
improviso e leve para refazer o tom de sua crítica. Desde o prólogo, quando os
atores recebem, cantando, os espectadores e um músico anuncia com curiosos
sinais sonoros o início do espetáculo, não ficam dúvidas de que a narrativa do
autor italiano terá tratamento menos convencional. O entrecho é apresentado em poucos
minutos, sem muito detalhamento. A história verídica do homem acusado no final
da década de 1960 de lançar bombas em atentado em Milão, é interrogado pelo
polícia e teria, supostamente, se atirado da janela da delegacia. Em conversa
direta com o público, Dan Stulbach, que interpreta um louco que assume vários
papéis, segundo as conveniências da investigação, recolhe sugestões dos
espectadores que vai incorporar à ação. Com fidelidade às avessas ao espírito
anárquico de bufonaria social e de comédia política do teatro de Dario Fo, esta
versão abrasileirada valoriza a brincadeira estilística de vaudeville-chanchada
com a commedia dell’arte-stand-up. Neste caudal de estilos, as intenções do
autor permanecem na superfície do efeito cômico, se distanciando da exposição
original do humor corrosivo. A direção
leva a montagem ao limite do puro entretenimento, alcançando a quem assiste por
se sentir integrado, participando da ação e identificando-se pelo riso
descompromissado. A sonoplastia de Rodrigo Geribello contribui com imitações
vocais para o clima brincalhão. A
simplicidade da cenografia de Marco Lima e do figurino de Fause Haten
confirma o despojamento visual de espetáculo, centrado em um único ator. Por
mais que Henrique Stroeter participe, no início, de um papo com o público, e
que faça do delegado uma figura próxima do clown, sua participação acaba por se
diluir. Riba Carlovich e Marcelo Castro respondem com maior soltura do que
Maira Chasseraux, às provocações e
improvisos do louco. E está na exploração irrequieta da loucura farsesca que
Dan Stulbach ganha a cena, com múltiplas máscaras, piscadelas irônicas e gestos
largos.