Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (27/7/2016)
Crítica/ “Vaidades
& tolices”
Tchekhov considerava comédias seus melancólicos
dramas e sensíveis contos. A avaliação do autor russo tem um toque de ironia e de
constatação amarga, que colaboram para reafirmar os sentimentos contraditórios
e a melancolia inseparável de personagens declinantes. Mas o conceito se
aplica, sem qualquer necessidade de outras definições, em suas comédias em um
ato, como em “O urso” e “O pedido de casamento”, que a Cia Limite 51 reuniu em
única montagem, dirigida por Sidnei Cruz. São peças curtas, vinhetas teatrais,
que em tramas ingênuas e situações simples brincam com emoções provocadas por vaidades,
dissimulações, fúria e tolices. Os códigos cênicos, tão bem costurados e
explorados como um jogo exposto de aparências, estão a serviço da agilidade dos
diálogos, da ingenuidade da ação, e da superficialidade da narrativa. A direção
investiu em cada um dessas característica, partindo da junção dos dois textos
como se um fosse extensão do outro. As cenas se interpõem em continuidade
fluente, mantendo a sua individuação, mas integrando corrente expressiva que ganha
assinatura autônoma. Da mistura das partes, surge a integridade de um universo
vaudevilesco de humor lúdico e efeito brincalhão. Singela, direta e envolvente,
a comicidade techcoviana encontra mecânica de palco numa tradução brejeiramente
caricatural. A montagem adquire ampla comunicabilidade com a plateia, não avançando
para além do que esse brinquedo teatral propõe como diversão. A cenografia de
Colmar Diniz incorpora, nas várias cadeiras da ambientação, a dança frenética dos
movimentos, carregadamente sugestivos, e das palavras, vertiginosamente proferidas.
Os atores em sintonia com a frequência do diretor, estilizam as interpretações
como um balé de corpos e vozes em acelerado ritmo cômico. Marcelo Escorel como
o Urso, de voz vigorosa e atos tresloucadas, joga para a plateia sem medir os meios
de sedução para conquistar a assistência. Edmundo Lippi transita com facilidade
entre o pai e o criado. Rafael Canedo assume com eficácia os maneirismos do
jovem pretendente à mão da amada. Flávia Fafiães é uma viúva de fogosidade
reprimida e Isabella Dionísio uma mocinha cheia de opinião.