Crítica do
Segundo Caderno de O Globo (13/7/2016)
Crítica/ “Urgente”
A ideia é mixar tempos e metáfora em narrativa
com diálogos pretensiosos e dramaturgia desequilibrada. Prédio, em permanente
ameaça de ruir, abriga desgarrados do presente, que voltados ao passado perderam
o futuro. A chegada de um novo morador e a sua passagem pelas vidas dos demais,
anuncia a iminência do desabamento. Os problemas do texto, que avançam para a
construção da cena, derivam do descompasso da ação dramática (realista) com a montagem
(conceitual). A direção desequilibrou ainda mais a relação desses planos,
restando presunções que não se sustentam para além de seu próprio artifício. O
espetáculo está, constantemente, a se dissociar da plateia, e não apenas pelo
tom sombrio da luz e ritmo claudicante. “Urgente” projeta a imagem de que foi
concebida para o público interno, aqueles que o criaram, incapaz de atingir quaisquer
outros, que não os manipuladores de seus códigos. Quem assiste é levado a se
distanciar de histórias de repressão emocional, embrulhadas em inventiva ambientação
sonora, perdida pela banalidade da utilização. O elenco parece compartimentado
em uma única forma interpretativa, submetido ao papel de autores e atores,
tarefa dupla que se demonstrou irreconciliável.