quarta-feira, 13 de julho de 2016

Temporada 2016

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (13/7/2016)

Crítica“Urgente”
Grupo mineiro Luna Lunera conceitua o realismo

A ideia é mixar tempos e metáfora em narrativa com diálogos pretensiosos e dramaturgia desequilibrada. Prédio, em permanente ameaça de ruir, abriga desgarrados do presente, que voltados ao passado perderam o futuro. A chegada de um novo morador e a sua passagem pelas vidas dos demais, anuncia a iminência do desabamento. Os problemas do texto, que avançam para a construção da cena, derivam do descompasso da ação dramática (realista) com a montagem (conceitual). A direção desequilibrou ainda mais a relação desses planos, restando presunções que não se sustentam para além de seu próprio artifício. O espetáculo está, constantemente, a se dissociar da plateia, e não apenas pelo tom sombrio da luz e ritmo claudicante. “Urgente” projeta a imagem de que foi concebida para o público interno, aqueles que o criaram, incapaz de atingir quaisquer outros, que não os manipuladores de seus códigos. Quem assiste é levado a se distanciar de histórias de repressão emocional, embrulhadas em inventiva ambientação sonora, perdida pela banalidade da utilização. O elenco parece compartimentado em uma única forma interpretativa, submetido ao papel de autores e atores, tarefa dupla que se demonstrou irreconciliável.