Crítica/ “Master
class”
Terrence McNally demonstra em “Master class” ser um
artesão que manipula com habilidade os elementos para construir narrativa com
verniz de bom acabamento e pontaria certeira para truques teatrais. A aulas da
cantora Maria Callas na Juilliard School de Nova York para alunos avançados, no
início de década de 1970, se transformam em material dramático para biografar a
artista em fase descendente e a mulher em estado depressivo. Em costura
alinhavada de informações da carreira, de traços de temperamento e de fragilidade
afetiva, o autor condensa os dados factuais, relacionando-os a árias de ópera
que marcaram sua trajetória. Ainda que não seja um monólogo, a atriz que
interpreta Callas domina a cena, tornando circunstancial e acessória a presença
dos alunos, escadas para o brilho da figura
central. McNally demonstra ser cultor da diva, mas que para além da admiração
pela soprano, retrata suas carências e desajustes na vida amorosa e a
competição com cantoras líricas que ameaçavam sua confiança. O texto se
assemelha a reportagem de revista de celebridades, contando detalhes da
intimidade, ao mesmo tempo ressaltando as qualidades artísticas, sem
ultrapassar o limite da exposição cuidadosa. Cada cena adquire a carga bem dosada
que o autor deseja emprestar-lhe. A introdução do trecho de “Medea”, cantada em
gravação da própria Maria Callas, é a trilha da dor da sua separação do armador
grego Aristóteles Onassis. O caráter irascível e irônico de suas observações é
contrabalançado pela exposição das dificuldades da origem e do exercício da
disciplina. O diretor José Possi Neto não acreditou muito na forma didática com
que McNally apresenta a história, recorrendo a vídeo na abertura que conta em
detalhe as passagens da vida da Callas. E para esclarecer dúvidas, o programa
do espetáculo traz glossário que relaciona nomes (de Anna Magnani e Gina
Lollobrigida a Joan Sutherland a Renata Tebaldi) e óperas (“Norma”, “Tosca”). A
montagem se cerca desses apoios como pontos reiterativos de encenação que
desconfia de seu alcance e eco na plateia. A narrativa, um tanto repetitiva e ameaçada
de quebra de ritmo, é conduzida por Possi como depoimento cênico para celebrar
intérprete revivendo diva. E investe neste encontro como o eixo da direção. A
cenografia de Renato Theobaldo cria teia branca que, em posição distorcida,
desenha sugestiva imagem abstrata. A iluminação de Wagner Freire colore esse
painel de fundo. Os figurinos de Fabio Namatame e Claudeteedeca são adequados
para Callas e caricaturais para os demais personagens. Juliana Daud, Bianca
Tadini, Leandro Lacava e Thiago Rodrigues demonstram melhor capacidade como
cantores do que como atores. Com participações restritas a papéis
inexpressivos, o elenco de apoio cumpre com disciplina suas funções. Christiane
Torloni mantém-se integrada e fiel a composição bem delineada de pequenas
modulações para uma Maria Callas de contornos mais acurados e menos
histriônicos. A atuação de Christiane Torloni reveste “Master class” de aula de
entretenimento.