Crítica
do Segundo Caderno de O Globo (21/1/2015)
Crítica/ Sim! Eu aceito! – O musical do casamento
Sim! Eu Aceito! – O musical do casamento é baseado em texto de Jan de
Hartog, escrito no início da década de 1950, roteirizado para o cinema e
encenado fartamente pelo mundo. No Brasil, ganhou a primeira versão no Teatro
Brasileiro de Comédia (TBC), em 1954, com Cacilda Becker e Jardel Filho, e foi
submetido ao rolo compressor de cacos e
irreverência por Dercy Gonçalves. Adaptado como musical em meados da década de 1960,
“Leito nupcial”, título da tradução brasileira no formato de comédia, mantém
alguma durabilidade, apesar da utilização excessiva, e discreta maleabilidade no
encaixe a um gênero diferente do original. A dupla de adaptadores, os
americanos Tom Jones (texto e letras) e Harvey Schmidt (música), procurou com
empenho e relativo êxito integrar as canções ao fluxo da trama, buscando
acrescentar sonoridade musical a diálogos entre casal em cinquenta anos de
convivência. O casamento de Michael e Agnes é revivido, desde a noite de
núpcias à saída, na velhice, da casa onde viveram por tanto tempo. O nascimento
de filhos, as crises, os desgastes e ajustes e o inevitável envelhecimento são
acompanhados em torno de uma cama, móvel-símbolo a partir do qual se
impulsionam as emoções e se discute a relação. Convencional e um tanto
ultrapassada, a narrativa, ainda assim, demonstra a habilidade de Hartog em
sustentar dramaturgia sem muito brilho, mas com acabamento e comprometida com
seu alcance honestamente restrito. A transposição para a comédia musical
acrescenta um elemento algo perturbador à fluência da ação e um tanto
reiterativo na estrutura narrativa. Esse acréscimo seria até contornável, se a
trilha sonora não fosse tão anódina e indistinta, sem qualquer canção com maior
destaque na sequência de músicas que parece uniforme e ajustada somente para
conter letras que perseguem as cenas. O diretor e coreógrafo Cláudio Figueira segue,
em estrito desenho cênico, os condicionantes desta comédia a moda antiga e
música de tonalidade única. A constante movimentação do casal, que exige a
permanência dos dois intérpretes no palco durante quase toda a duração do
espetáculo, imprime ritmo um pouco mais ágil à ação, que nem mesmo os cortes
musicais e o esgarçamento do entrecho conseguem comprometer inteiramente. Há
momentos de quebra de intensidade e de interesse por vivências rotineiras e
distantes dos casais da atualidade, que a direção tem dificuldade em preencher
e ativar. O cenário com um arranjo sugestivo de móveis e objetos, alguns de efeito,
como os brinquedos, e o figurino de boa confecção e marcando bem as diversas
épocas, são assinados por Clívia Cohen. Sylvia Massari, com educado e inconfundível
timbre vocal, explora melhor as suas características de cantora. Diogo Vilela
enfrenta como um bom ator de comédia as exigências da partitura musical.