Crítica do Segundo Caderno de O Globo (9/7/2014)
Crítica/ Entrevista com vândalo
Crítica/ Entrevista com vândalo
O primeiro texto teatral do antropólogo e
ex-secretário nacional de Segurança Pública e autor dos livros “Elite da Tropa”
e “Elite da Tropa 2”, Luiz Eduardo Soares, é uma aproximação
política-existencial das manifestações de junho de 2013. Ao manter
equidistância entre a reportagem fotográfica e o agit prop analítico, distendeu
o arco dramático aos dois agentes da explosão urbana do ano passado: um black bloc e um policial. Reunidos por
diretora para encenar espetáculo sobre os acontecimentos, o jovem ativista e o
policial infiltrado se digladiam na construção de uma narrativa que acomode a
fonte dos seus ódios. Não encontram uma linguagem comum, cenicamente, mas o que
cada um traz das ruas são as desigualdades que os lançaram a elas. O ensaio de triângulo
amoroso serve apenas como acessório a uma discussão, que tal como as
polaridades dos choques de comportamento, é mantida em aberto, na mesma voltagem
das incertezas. A ambição do autor em refletir sobre fatos tão recentes e de
complexidade político-social sem maior domínio da técnica dramatúrgica, pode
ter levado a que se pensava ser informação,
resultasse em alusões a dados. A própria estrutura do texto mostra dificuldade
em ordenar as opções estilísticas ao longo da ação. De início, experimenta-se
algum estranhamento, para em seguida fixar-se no realismo e finalmente cair na
comédia, deixando pouco espaço para a clareza expositiva e a condução dos
diálogos. São enquadramentos estanques, que jogam em diversas direções na caracterização dos
personagens como protagonistas sociais e individuais. Ao mesmo tempo em que
surgem como figuras em oposição, aparecem unidos pela consciência difusa de
seus papéis, para se distanciarem ainda mais na pantomima da sua manipulação
pelo poder. O diretor Marcos Vinícius Faustini reforçou esses três planos, como
se cada um deles fosse uma cena independente e se fechasse em si mesma. Um
certo impacto que o primeiro quadro provoca, é substituído por relativa tensão,
logo desfeita pelo humor satírico. É na comicidade que Faustini alcança maior
comunicabilidade com a plateia, demonstrando intimidade com linguagem popular de
efeito direto. Márcio Vito como o policial tem interpretação expansiva, sem
detalhamento, que utiliza com eficiência
como o governador. Ian Capillé está apagado para um manifestante e caricato
como o coronel e seu indescritível bigode. Valquíria Oliveira tem participação
secundária, tanto como a diretora, quanto como a secretária do governador.