Cia. Dos
Atores no Sesc
Crítica/ Conselho
de Classe
Quadro educacional para além de projeções atuais |
Jô Bilac se reconcilia com a dramaturgia nesta
investida realista na qual fotografa com aguda observação e pertinente sentido
crítico o estado agônico da educação. Depois de alguns textos pretensiosamente
inovadores, Bilac demonstra em Conselho
de Classe a capacidade de escrita escorreita, com domínio da ação e desenho
dos personagens que flagra em individualidades, precariedade coletiva. Ao
concentrar na quadra de esporte de escola pública de subúrbio, num dia
calorento durante as férias, grupo de professores para encontro com enviado da
Secretaria de Educação para discutir problemas, muito além dos pedagógicos, o
autor captura através dessa pequena humanidade, quadro político-social mais
amplo do que os de referências circunstanciais ou de projeções de atualidade. As
professoras, das veteranas em fim de carreira às que estimulam e confrontam os
alunos, dialogam com o quadro educacional deteriorado como peças vivas, com
movimento restritos e perspectivas desiludidas, em terreno arrasado. A
narrativa é capaz de refletir a realidade, sem tentar reproduzi-la como
ideologia fotográfica e resenha de mazelas. As questões da educação ganham
dimensão no individual, refletindo de como situação profissional desvenda o
entrechoque de cada uma com o que lhe é dado viver na sala de aula. As
personagens são apoiadas por anotações verídicas
do autor, como a da professora que complementa o baixo salário com a venda de
roupas e cosméticos. Ou da mais velha, esquecida na biblioteca, sobrevivente em
quadro que se perpetua há décadas. O cenário humano, tão bem caracterizado por
Jô Bilac, se estende à cenografia de Aurora dos Campos, que transforma o espaço
cênico num verdadeiro ginásio, com colorido grafite nos tapumes. A direção de
Bel Garcia e Susana Ribeiro tira o melhor partido ao dispor do elenco masculino
para interpretar papéis femininos. A segurança e rigor com que a dupla
equilibra humor e tensão são determinantes para que façam da inversão de gêneros
vigoroso elemento da cena. A forma como conduzem o elenco, coeso e intenso,
demonstra como o fato das diretoras também serem atrizes pode ter contribuído
para que os atores, em conjunto, tivessem desempenhos destacáveis. Leonardo
Netto, Paulo Verlings e Thierry Trémouroux estabelecem intensa contracena, ao
lado de César Augusto, em atuação extremamente bem construída, e Marcelo
Olinto, num dramatismo cuidadoso e equilibrado.
Crítica/ Laboratorial
LaborAtorial
é um experimento atraente e
aliciante. O ator Marcelo Valle se debruça sobre as possibilidades de criar
autonomia no modo de se inventar artisticamente, num laboratório de formas e de
instrumentos que se utilizam do corpo como ponto de convergência da cena.
Vídeo, performance, dramaturgia se misturam como linguagem múltipla, centrada
no ator como eixo em torno do qual circulam linguagens com a ordenação determinada
por instantes teatrais. O espectador é confrontado com a construção do diálogo
do intérprete com a sua biografia de criador, com a busca de encontrar meios de
estabelecer relações entre linguagens e nas especulações para investigar percursos.
A montagem com vídeos de Simon Will e Cesar Augusto, que também dividem a
direção e que tem dramaturgia de Diogo Liberano, torna secundárias quaisquer
observações sobre questões técnicas (aliás, bem resolvidas na sua artesania) ou interpretativa (Marcelo está de tal
modo vinculado à concepção, que sua participação pode ser considerada
simbiótica). LaborAtorial mede forças
com a arquitetura de conexões (entre linguagens, com a plateia e nas dúvidas que expõe ao longo de menos de
uma hora). Projeto previsto para dois desdobramentos, esse princípio promete para
o furuto maior adensamento e vislumbra instigante linha investigativa de provocantes
pulsões teatrais.
Crítica/ Como
Estou Hoje
Alinhavando a nudez dos códigos de vestir |
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