terça-feira, 26 de junho de 2012

23ª Semana da Temporada 2012


Musicais Ocupam o Eixo

Rio/ O Mágico de Oz
Fábula infantil com piscadelas aos adultos
Essa fábula infantil, que o cinema popularizou e a cultura do consumo transformou em ícone com múltiplos cultores, chegaria, inevitavelmente, ao musical. E chegou a vez da platéia brasileira confirmar a aura de encantamento e magia que O Mágico de Oz acumulou ao longo dos anos  através da versão de Charles Möeller e Claudio Botelho em cartaz no Teatro João Caetano. Mas será que esse musical ingênuo corresponde a tudo aquilo que se lhe atribui? Como comédia musical é extensão da narrativa original, bastante referenciada ao filme e com canções, pelo menos duas, com alguma popularidade. E pouco mais. Nesta versão brasileira se confirmam as habilidades dos nacionais no modo de encenação de musicais, no know how da técnica e nas qualificações da equipe artística, demonstrando domínio do gênero e até de alguns acréscimos e sotaques locais inventivos. Em Oz se prova, uma vez mais, a criatividade na maneira de ser fiel às letras em inglês do versionista Claudio Botelho, que as reinventa no nosso idioma. Também se confirma a eficiência no domínio da complexidade técnica e artística exigidos por um tal empreendimento. O elenco cumpre as funções. Então, por que O Mágico de Oz não entusiasma? Como diversão infantil, talvez seja um tanto longa para os padrões dos menores, provocando nas crianças as mesma queixas que no passado a platéia adulta usava para rejeitar os musicais (música interrompe a ação, o entrecho é desinteressante). A aura em torno da fabulação se perde com um certo apelo a tantas significados que a história foi ganhando ao longo do tempo. A atual montagem faz frequentes piscadelas aos adultos (o Leão ganha conotação para além da covardia), ao ponto das melosas indicações moralizantes se deslocarem ao segundo plano. O visual, propositada ou inadvertidamente, tem forte conotação kitsch, em especial nos figurinos de mau gosto e pretensiosos efeitos, e nas projeções pouco elaboradas. O elenco, que teria no cachorro presença fundamental na história, tem atuação indisciplinada, o que compromete as cenas de que participa. Malu Rodrigues, a Dorothy, também fica prejudicada pela pouca intimidade do animal com a disciplina. Pierre Baitelli encontrou uma maneira de, através da dicção, desenvolver a comicidade do Espantalho. Nicole Lama, como o Homem de Lata cumpre o seu papel, enquanto Lúcio Mauro Filho exagera como o Leão Covarde. Maria Clara Gueiros tira partido, com interpretação ajustada à platéia infantil, da figura da Bruxa Má. Luis Carlos Miele, o Mágico de Oz, não aproveita o protagonismo do personagem. Kostyantyn Biriuk como um Ciclone fora de lugar, se restringe a demonstrar suas habilidades de malabarista.             


São Paulo/ Fama
Arquitetura importada para atender à demanda
Atualmente estão em cartaz cinco musicais nos teatros paulistas, dos quais dois são produções cariocas. Para manter esse ritmo de montagens é necessário importar, cada vez mais, originais da Broadway e, em menor escala, do West End, já que musicais nacionais ainda não acompanham as crescentes exigências mercadológicas. Para atender a essa demanda, os critérios de escolha estão ficando um tanto elásticos, capazes de selecionar exemplares de qualidade discutível e que, dificilmente, interessam às nossas platéias. E algumas escolhas inexpressivas têm recebido a rejeição do público, comprometendo a boa onda do gênero nas últimas temporadas. Fama, que pode ser visto no confortável Teatro Frei Caneca, tinha numa sessão de sexta-feira, menos de um terço de espectadores nos seus 600 lugares. O que o público demonstrava, pela ausência e pelas deserções durante a sessão, é o desinteresse por musical inexpressivo, baseado em filme de relativo sucesso dos anos 80 e que foi transferido para o palco com pouco empenho. O musical por origem um gênero reiterativo, com códigos que devem ser obedecidos à risca, tem eventuais ousadias em trilhas sonoras que valorizem entrecho, e que busquem temática que tenha estofo dramático (leia-se dramaturgia). Fama está longe de ambos. As músicas são anódinas, parecem saídas de cartilha de como fazer trilha padrão, e a trama não desperta qualquer fagulha de atenção para acompanhar alunos postulantes a carreira artística. Se Fama é tão pouco estimulante, a sua versão nacional não é mais animadora. As condições de produção e de técnica, vocal e corporal, se não são excepcionais, pelo menos mantêm o nível alcançado por geração de atores, bailarinos e cantores preparados para atender às exigências importadas do caderno de encargos dos musicais. Mesmo que no elenco de mais de 30 componentes não hajam destaques, cada um cumpre a sua participação com profissional eficiência, como de resto os demais elementos da parte artística e técnica. Mas fica a certeza de que Fama serve apenas para confirmar a capacidade nativa de reproduzir musicais estrangeiros, e de como o mercado demanda novas produções com voracidade do modismo. E que é tão somente mais um produto que se oferece ao público, que produtores imaginam cativo ao gênero, mas que desta vez frustrou o planejamento. Aguardam-se as próximas estréias.           

                                                  macksenr@gmail.com