Crítica/ A Vingança do Espelho
Reconstituição teatral de uma imagem |
Pode-se imaginar a dificuldade de Flávio Marinho para encontrar a forma de biografar a vida da atriz Zezé Macedo em A Vingança do Espelho. Como acontece, cada vez com mais frequência, a escolha de personagens populares, seja através do cinema (chanchadas) ou da televisão (humorísticos), para ter suas vidas, pessoais e profissionais, contadas no teatro, há que se inventar artifícios dramatúrgicos para não se cair na sequência de fatos ou na mera reprodução da imagem midiática. Neste gênero biográfico, o escolhido, por mais importância e sucesso que tenha obtido em suas carreiras, a construíram, praticamente, sob um único tipo. No caso de Zezé, sob a caricatura de características físicas, marcadamente acentuadas por trejeitos, voz e figurino. E é da transposição dessa imagem e da aceitação do público a tal tipologia que se imagina estabelecer a cena, ainda que os acontecimentos vividos pela personagem sejam apenas curiosidades desconhecidas da platéia. Marinho tentou escapar da armadilha do retrato falado, criando arcabouço narrativo no qual relaciona a própria encenação com o vai e vem da existência da humorista. Recorreu ao truque dramático de transformar o aspecto físico da atriz (ponto central do seu temperamento de intérprete) em material que alimenta a cena. Subterfúgio para fugir à mesmice deste gênero já banal na origem. O ambiente de ensaio teatral, que corre paralelo aos fatos ralos da biografada (os aspectos pessoais como a morte de um filho, a sua escrita poética e a insegurança na velhice não são suficientes para criar autonomia dramática), acaba por sustentar o elemento essencial destacado pelo autor: a imagem. O espelho, uma obsessão de Zezé, e as plásticas, um desejo de se reconstituir, compõem a estrutura do texto, procurando escapar do convencionalismo. Consegue, em parte, não somente pelas restrições que o material de pesquisa oferece, como também pela pouco inventiva direção. Amir Haddad conduz a montagem em cartaz no Teatro Laura Alvim alongando as cenas e impondo tom entre o melodramático e o humor festivo, evidenciando as fraturas básicas do projeto. Betty Gofman, sem fazer caricatura explícita de Zezé, carrega na voz e dribla a imitação. Marta Paret e Mouhamed Harfouch, em que pese os papéis esquemáticos, mostram boa presença. Tadeu Mello tem interpretação desmedida, enquanto Anrtonio Fragoso, vai em sentido contrário. Está apagado.
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