Crítica/ Música Para Cortar os Pulsos
Como iluminar o discurso amoroso de jovens amantes |
O grupo se intitula Empório de Teatro Sortido. É de São Paulo, e chega ao Rio sem informação prévia que nos faça saber de sua origem, formação ou qualquer outra característica. Traz apenas Música Para Cortar os Pulsos ao Mezzanino do Espaço Sesc, em curtíssima temporada, como cartão de apresentação, o que é suficiente para surpreender, agradavelmente, como um coletivo de sagacidade cênica e sopro de juventude. O texto assinado pelo diretor Rafael Gomes é uma pequena caixa de surpresas pela forma como fala do amor entre os que o descobrem nos seus 20 anos, embalado por trilha sonora sem compromisso com o pernóstico bom-gosto, e que se ilumina com inteligência dramatúrgica. A encenação dosa esses elementos vividos no palco como sensações amorosas, renovadas por movimentos de reverência ao clichê e ao melodrama, como exigem e se expressam as relações sentimentais. Entre os sentimentos genuínos e os pulsos cortados de amores frustrados, existem nomes, gestos, palavras, surpresas, decepções, e tantas outras cenas, além das dez do espetáculo no interminável jogo da atração e desencontro. Ele ama o outro, que fica com ela, que por sua vez vive o conforto da amizade por aquele que é apaixonado por quem ela não ama. Na ciranda das emoções que rondam os três personagens, cada um aponta o que os demais representam para si. E são as dúvidas e inseguranças que regulam a escalada das emoções. O despojamento com que o diretor aciona esse carrossel adquire ritmo, levado por palavras que circulam por citações de Shakespeare e por musicalidade que evoca a ópera Manon Lescaut, a canção Três da Madrugada, e os compositores Cazuza e Roberto Carlos. O cenário de André Cortez reproduz, em imagens, a triplicidade do tabuleiro afetivo. A utilização luminosa dos microfones é mais um dos achados bem humorados de montagem na qual o trio de atores – Fábio Lucindo, Mayara Constantino e Victor Gomes – se comporta como porta-voz de impressões vividas como perplexidade da iniciação. Mayara Constatino tem saborosa cena como a apresentadora de televisão, enquanto Fábio Lucindo interpreta com sinceridade juvenil as dores de descobrir um lugar emocional. Victor Mendes desfia com frontalidade até onde uma paixão pode levar. Num diálogo em que os três atores não se confrontam, somente expõem, e em que a música faz dueto com as palavras, emerge um concerto teatral, de vigor jovem e surpreendentes meios expressivos.
Cenas Curtas
O projeto Mambembão, que nas décadas de 70 e 80 trazia ao público carioca produções de outros Estados, está de volta. Atualizado como Mostra Nacional Funarte de Dança e Teatro – Mambembão 2012, ocupará a partir do dia 23 e até 1˚de abril os teatros Cacilda Becker, Dulcina e Glauce Rocha. São 10 espetáculos teatrais, cada um com quatro apresentações, sempre às 19h e aos preços de R$ 5 e R$ 2,50. Da Bahia virá Pólvora e Poesia, direção de Fernando Guerreiro; do Paraná serão duas montagens: Isso Te Interessa?, da Companhia Brasileira de Teatro, direção de Márcio Abreu, e Árvores Abatidas ou Para Luís Mello, encenação de Marcos Damasceno; de Mato Grosso, Anjo Negro, versão de Sandro Lucose para o texto de Nelson Rodrigues; do Rio Grande do Sul, Dentro Fora, interpretação cênica de texto de Paul Auster; de Minas, o grupo Quatroloscinco apresenta duas montagens: Outro Lado e É Só Uma Formalidade, dois dias cada uma; de Brasília, também virão dois espetáculos: Cabaré das Donzelas Inocentes e Herós, O Caminho do Vento; e de Pernambuco, o grupo Coletivo Angu de Teatro apresenta Essa Febre Que Não Passa.
Festival de Teatro de Curitiba , que acontece de 27 de março a 8 de abril, definiu a programação da mostra principal desta 21ª edição. Buscando um equilíbrio entre gêneros e origens, a mostra reúne musical (Judy Garland – O Fim do Arco-Íris), teatrão (O Libertino, Equus), pesquisa (O Idiota, Gargólios, Licht+ Licht), cariocas (Estamira, Palácio do Fim, A Peça do Casamento, Escravas do Amor, Obituário Ideal), paulistas (Hécuba, O Jardim, Luís Antônio Gabriela, Fausto ComPacto), pernambucano (Essa Febre Que Não Passa), curitibano ( De Verdade), entre outras, completando 29 espetáculos no total. Acrescente-se o farto Fringe – este ano serão 368 espetáculos do Brasil e do exterior – e inclua-se ainda exibições paralelas, como a de Grupos de BH – Teatro Para Ver de Perto, com a produção recente de grupos da capital mineira, e se poderá ter a medida da ambição do festival. E há ainda mais, como a Mostra Novos Repertórios, que reúne o quadro contemporâneo das produções curitibanas, e a estréia da Mostra XXX
, que selecionou montagens de conteúdo erótico, como Satyricon Delírio, do grupo curitibano Delírio Cia baseado em obra de Petrônio, a mesma inspiração para o Satyros paulista encenar o mesmo texto com direção de Rodolfo Garcia Vázquez. Gilberto Gawronski participa do XXX com Ato de Comunhão.
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