domingo, 24 de setembro de 2017

Temporada 2017

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (23/9/2017)

Crítica/ “A última sessão”
Elenco maduro em texto imaturo


Não basta investir em temática sensível a emoções que a passagem dos anos provoca nos bons sentimentos, para que se tenha um texto comunicativo. Muito menos, se a narrativa fica indecisa entre comédia sobre velhinhos e psicodrama com citações a Shakespeare. A reunião de grupo de idosos em restaurante, aparentemente para um encontro social, tem início com a apresentação de seus participantes. Alguns simpáticos, outros mal humorados, todos com características, mais ou menos peculiares, para que se acompanhe os desdobramentos da convivência, que em suposto golpe de teatro, revelam os verdadeiros papéis de cada um na encenação de seus problemas. Odilon Wagner, autor e diretor de “A última sessão”, remenda colcha de retalhos de situações com fios desencapados de personagens estereotipados pela idade e convertidos à pantomina de rabugices. Em meio a pequenas provocações e frases shakespearianas, os idosos parecem estar mais confortáveis na sala de recreação de um asilo, do que interpretando a senilidade em um palco. A dramaturgia fraca demonstra as limitações do autor em sustentar ideia clara de envelhecimento, e de acomodar, com reverência e homenagem, elenco veterano. O diretor tem dificuldades em estabelecer a dimensão da montagem, projetando amplitude cenográfica e movimentação de atores e atrizes na contramão do espaço vivencial e do ritmo das evocações passadistas. O cenário de Chris Aizner e Nilton Aizner, pela área expandida a ser ocupada, e a iluminação de Marisa Bentivegna, pela luminosidade estourada, eliminam a possibilidade de interpretações mais intimistas e de ação concentrada. O figurino de Beth Filipecki que veste com coerência etária a maioria do elenco, é menos feliz na caracterização caricatural da personagem de Suely Franco. O elenco maduro – Suzana Faini, Miriam Mehler, Antônio Pitanga, Tânia Bondezan, Daisy Lúcidi, Rubens Araújo, Suely Franco, Odilon Wagner e Regina Sampaio – procura defender tipologia de figuras triviais.