Inspiração no livro para descobrir do que rir |
Como se fazer estúpido para se provar inteligente
e escapar das pressões que assolam o cotidiano. Experimentar-se como tolo para
superar o que se oferece como valor tão inconsistente quanto a necessidade de
adotá-lo é uma tática para não sucumbir às tantas e falsas exigências
contemporâneas. Deste modo, o personagem central do livro do francês Martin
Page, adaptado para o teatro por Pedro Kosovski, faz tentativas de se alinhar
com a maioria para se sentir como integrante e participante do todo. Vale tudo
para não ficar de fora, numa escalada radical de tornar-se alcoólatra ou mesmo
investir no suicídio. A ironia e o ceticismo que marcam o impulso do solitário
num mundo de vulgarização, que está na base do livro, fica em plano secundário
na versão cênica. As referências ao consumismo, seja em citações de publicidade,
a cantores e pintores populares, e ainda ao mundo digital, antes de acrescentar
bônus cômico, paga pedágio à facilidade da banalização. Não que o humor de Page
seja especialmente sofisticado, mas se estrutura em outro plano, o do humor
verbal e não da comédia de situações. No palco, mesmo que seja necessário criar
uma cena com autonomia e características próprias, a ausência de equalização com a
comicidade original, leva à perda da eficácia do translado. Fica-se sem saber
do que rir, se das simplificações das brincadeiras ou dos aforismos do autor.
Sérgio Módena escolheu ampliar as indicações menos sutis da adaptação,
acentuando a tonalidade mais popularesca e diluindo as cores acentuadas da sátira.
O diretor ativa a cena com intenso movimento e acelerada troca de quadros, numa
velocidade que atrapalha, igualmente, o resultado da equação humorística. O
quarteto do elenco – Alexandre Barros, Gustavo Wabner, Marino Rocha e Rodrigo
Fagundes – se empenha em manter o ritmo agitado e o jogo cômico. Como
demonstram alguma identidade com o humor de comunicabilidade direta, mantêm
suas interpretações em sintonia com a proposta do adaptador, traduzida,
regradamente, pelo diretor.