sexta-feira, 20 de maio de 2011

21ª Semana da Temporada 2011


Palcos do Espaço Sesc Abrigam Tendências


Crítica/ Oxigênio

Perfis ofegantes de dispersões existenciais
Como vaga lembrança de decálogo bíblico, repleto de dogmas virtuais e citações tautológicas, a peça do russo Ivan Viripaev captura uma certa dispersão existencial. A falta de oxigenação perambula pelos atalhos sombrios da contemporaneidade, com seu séquito de incertezas, vacuidades, prazeres químicos, crimes banalizados e jogos teatrais ressoando sentidos múltiplos. As dez cenas de Oxigênio, em cartaz no Mezanino, se desmentem para se afirmarem em respiração ofegante e tensa e na velocidade da urgência que não corresponde aos tempos interiores. Na sequência de sensações, desmentidas a cada frustração, os personagens, tipos, arquétipos ou acólitos, como se queira interpretá-los, deste ritual de incompletudes não rompem seus limites, estabelecidos em vivências condicionadas. O texto não aponta  caminhos. Registra a busca do ar para dançar conforme a música, não uma e de um só ritmo, mas tantas e de incontáveis sonoridades dissonantes. Marcio Abreu, diretor da Companhia Brasileira de Teatro de Curitiba, uma vez mais, constrói montagem a partir das dúvidas em que o teatro se enreda para dar conta da necessidade de se perguntar sobre seus meios e modos. O diretor lança com a frontalidade de show de música e o distanciamento de narrativa expositiva, surdas implicações reflexivas. Montagem áspera, rascante e desconcertante na alternância de atmosferas, Oxigênio tem nos atores Rodrigo Balzan (mais integrado à proposta da encenação) e Patrícia Kamis (buscando interpretação mais dramatizada) uma dupla integrada. Completa o elenco, o músico Gabriel Schwartz.       


Crítica/ Autopeças 2 – Peças de Encaixar

Cenário de encaixe para vitrine de possibilidades
Resultado de oficina de dramaturgia, a segunda montagem do projeto Autopeças, que atores da Cia. dos Atores, em seu permanente desejo de se experimentar como criadores, desenvolvem há dois anos. Desta vez, são autores, todos novos, inéditos e de formações bem diversas, que chegam à Arena. Na seleta de textos de iniciantes e de linhas díspares de escrita e de universos dramáticos ainda em construção, há tentativas empenhadas. É previsível a instabilidade estilística em sete ensaios de dramaturgia, reunidos como peças de encaixe em espetáculo coletivo. Não há intenção de fazer ligações entre diferenças e individualidades autorais, tão somente armar painel de primeiras investidas. Os diretores César Augusto e Susana Ribeiro estruturam o espetáculo como um jogo de armar (ou de desarmar), em que cada peça se sucede em interseções cênicas. Nem todas têm condições de integrar, com fluência, essa engenharia teatral. Faltam ainda alguns ingredientes para que a mistura fique menos rala e alcance algo mais do que  de uma vitrine de possibilidades. A brincadeira verbal de Papo de Mineiro é tão circunstancial como Primeiro Eu, e as tentações poetizantes de Tem Um Trem Atrás de Mim e de Biziu: Eu Quase Te Amei de Verdade são tão ingênuas quanto Marcel e Marceau, Tatu e Aquilo Que Fica. A vinda desses autores – Suzana Nascimento, Raquel Alvarenga, Diogo Liberano, Monica Sólon, Jaderson Fialho, João Rodrigo Ostrower, Alexandre Rudáh e José Caminha -  é uma primeira aproximação, ponto de partida para alguma outra chegada ou para abandonar o barco antes mesmo de tentar atracar, cm mais segurança, nos portos nebulosos da escrita teatral. Os diretores  de Autopeças 2 têm na cenografia hábil e inventiva de Bia Junqueira apoio essencial para preencher, com volume de invenção, a interpretação do elenco, e de imprimir com seus gadgets (a janela de onde surgem os matutos mineiros, o tatu e os desdobramentos do piso) agilidade à mistura dos textos. A iluminação de Paulo César Medeiros é decisiva para que se retirem os melhores efeitos do cenário.    


Crítica/ A Esposa e a Noiva

Presença delicada de uma leitura tchecoviana
Dois contos de Anton Tchecov, reunidos na montagem de Antonio Gilberto,  são pequenas jóias literárias, como tantas outras do autor russo. A sua obra teatral, absolutamente arrebatadora na sua preciosa e cruel delicadeza sobre meandros dos sentimentos, amplia o que as suas narrativas curtas contêm em diversa escala expressiva, mas com a mesma intensidade e refinamento. Nesta escolha entre a sua produção contista estão, igualmente, a indecisão sobre as possibilidades abortadas e a existência tangenciada pela hesitação e infelicidade. E ainda a luta para tentar ir além das angústias, atravessar fronteiras para chegar a uma moscou inalcançável, fincar inquietações em território de ilusões. As personagens destes contos, ultrapassam os confinamentos emocionais ao peso de várias perdas e da consciência de ter deixado atrás de si um campo devastado, mas ao menos atingem uma moscou demarcada fora de seus limites. Antonio Gilberto condiciona a encenação em contorno literário, retirando da leitura de livro a primeira imagem da atriz, logo que os espectadores entram na Sala Multiuso. Esse primeiro quadro e as projeções ao fundo marcam e definem o estilo da direção. Narrado como numa leitura dramatizada, os textos ganham vida cênica, basicamente, pela forma como Luciana Fróes impõe ritmo à leitura. Tanto em A Esposa, quanto em A Noiva, a intérprete encadeia a narrativa à procura da voz interior dos contos. Luciana Fróes, uma bela figura em cena, permeia a delicadeza da escrita e a revelação sutil dos sentimentos, ainda que escape à intérprete, em alguns momentos, a fricção tensionada de algumas passagens. A cenografia de Flávio Graff não consegue criar atmosfera que sugira algo mais consistente do que ilustração pouco inspirada de citações visuais óbvias.      


Cenas Curtas

Maquete do cenário
O Teatro Maison de France anuncia para 3 de junho a estréia de Crônica da Casa Assassinada, adaptação de Dib Carneiro Neto para o romance de Lúcio Cardoso. O mineiro Gabriel Villela, como o autor do livro, é quem assina a direção, que tem no elenco, entre outros, Xuxa Lopes e Helio Souto Jr. A temporada será de oito semanas.

Estante de lançamentos: Rogéria Gomes reuniu no livro As Grandes Damas – E Um Perfil do Teatro Brasileiro (Tinta Negra Bazar Editoral) depoimentos das atrizes Bibi Ferreira, Ruth de Souza, Eva Todor, Beatriz Lyra, Beatriz Segall, Laura Cardoso, Eva Wilma, Nicette Bruno e Norma Blum. * Samir Yazbek edita sua peça As Folhas do Cedro, premiada pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte)  como melhor texto de 2010, com fotografias da montagem paulista. * Foi lançado o número 523 da Revista da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores), que traz nesta edição, entrevista com Ítalo Rossi, encontro entre os atores Paulo José e Selton Mello, reportagem sobre teatro de bonecos, revelando a identidade do olheiro da TV Globo que garimpa, pelos festivais de teatro, nomes para o elenco da emissora.
Para setembro, no Teatro Sesc Ginástico, está prevista a estréia da versão musical de Aurora da Minha Vida. O texto premiado de Naum Alves de Souza, recebeu nos primeiros anos da década de 2000 partitura original de Marcos Leite, que, no entanto, viria a morrer, interrompendo o trabalho e engavetando o projeto. Agora retomado, o musical, que será dirigido pelo autor do texto, está concluindo a escolha do elenco. A versão original, de 1981, tinha no elenco Marieta Severo, Analu Prestes, Cidinha Milan, Mário Borges, Roberto Arduim, Pedro Paulo Rangel, Stella Freitas e Carlos Gregório.


Palco na TV

A participação do teatro na televisão ainda é modesta, mas vem aumentando, gradativamente, em especial na TV segmentada. É inesquecível a exibição do Grande Teatro Tupi, com seu elenco de sonho e repertório com o melhor da dramaturgia internacional, há 40 anos. Mas os tempos são outros, como o também são outros o teatro e a televisão. O pouco do que se vê na tela pequena sobre teatro, divulga a cena brasileira, entrevista alguns dos seus personagens e, em menor escala, discute propostas e dificuldades da cena contemporânea. O inteligente programa Starte, da Globo News, exibe a série Grandes Damas, às terças-feiras, às 23h30, e já conversou com Beatriz Segall e Nathalia Timberg. Na próxima edição será a vez de Bibi Ferreira e na seguinte, Fernanda Montenegro. O Canal Brasil, que ao longo dos anos mantém, quase que continuamente, programas dedicados ao teatro, apresenta todas as segundas-feiras, às 21h, a série Palco e Platéia. Com o ator José Wilker como entrevistador, nos 13 programas previstos foram ouvidos os diretores Aderbal Freire-Filho, Eduardo Moreira, Rodolfo Garcia Vásquez, Bia Lessa, Amir Haddad, Chica Carelli e Marcio Meirelles, todos já exibidos. As próximas conversas serão com Guti Fraga (30/5), Miguel Falabella (6/6), Gabriel Villela (13/6), Hamilton Vaz Pereira (20/6) e Antunes Filho (27/6). A Sesc TV também mantém, sem interrupções, programas dedicados ao palco, como Poética e Tecnologia (terça, às 22h), em que as novas tecnologias são mostradas como linguagens possíveis para a cena. O documentário Ariane Monouchkine e o Teatro de Soleil poderá ser visto, ou revisto, na terça, às 20h, e o quarto capítulo da minissérie Trago Comigo (segunda, às 23h) apresenta o diretor de teatro e ex-guerrilheiro Telmo Marinicov.  O Não Lugar (horários variados), mostra diferentes formas de encenação em locais mais acessíveis à população.    
  
                                                        
                                                         macksenr@gmail.com