segunda-feira, 2 de maio de 2011

18ª Semana da Temporada 2011


Crítica/ O Pacto das 3 Meninas 

Humor como contraponto ao melodrama
É uma questão de equalizar os tempos. A história de três mulheres idosas, que se encontram numa casa no interior para cumprir um pacto de há 50 anos, quando prometeram rever suas vidas e exercer a liberdade na velhice, não consegue se situar em nenhum momento da existências destas senhoras. A montagem, em cartaz no Teatro Clara Nunes, em horários vespertinos para atrair público de idades semelhantes às das personagens, é baseada em texto escrito a quatro mãos por Lulu Silva Telles e Rosane Svartman. E pelo que as autoras evidenciam no palco, sem muita certeza sobre de que, efetivamente, pretendiam falar. Se foi da distinção de modos de encarar a velhice, perderam-se nos estereótipos. Se foi de lançar esperança sobre as possibilidades de viver, mais do que reviver, caíram na pieguice. Se foram buscar no humor contraponto ao melodrama, restou apenas caricatura. A dupla se apóia numa trama pouco inventiva, com ganchos dramáticos frágeis e rarefeito domínio narrativo, recorrendo a escrita antiga, pesada, sem viço. O diretor Ernesto Piccolo transmite a impressão de que administrou o temperamento das atrizes, procurando marcar as cenas com ritmo que a agilidade emperrada do humor do texto não absorve. A encenação, com sonoplastia ruidosa e mudanças de cenas claudicantes, se alonga com passos hesitantes por duração bem maior do que os  seus 75 minutos. Lafayette Galvão interpreta um implausível cortejador. Rosamaria Murtinho, Camilla Amado e Marly Bueno defendem as suas personagens, tentando extrair-lhes uma seiva de veracidade, emoção e humor que os três tipos estão distantes de possuir, e que as intérpretes estão pouco à vontade para consegui-lo.        


Crítica/ A Olho Nu

Palavras soltas de vontades suspensas
A experiência intentada por este A Olho Nu, que se apresenta em horário alternativo no Teatro dos Quatro, parece ser um daqueles atos de voluntarismo dos intérpretes que têm a urgência de se expressar, de chegar ao público, de se localizar na carreira, de dar seu depoimento sobre suas emoções, de abranger o mundo que o cerca. Neste texto de Duda Gorter, também responsável pela direção, a atriz Rose Abdallah assumiu integralmente esse papel de dar voz a tantos desejos e sentimentos e torná-los credíveis em cena. Essa coletânea de boas intenções, quase sempre escorada em imagens de “entrega” e “adesão”, corre o risco que ficar no plano da vontade. É o que acontece neste monólogo maquiado em espetáculo com dois atores e muitos adereços. A gama de rumos que, tanto o texto quanto a montagem prenunciam, se desfaz na inconsistência do incontável palavreado da personagem Ela. Seria Ela um arquétipo? Ou apenas um substantivo impessoal para camuflar a falta de identidade de quem quer se tornar reclusa do mundo por razões que não se justificam e se esclarecem na exposição que faz do “ser humano com suas contradições e complexidades”, como descreve o programa do espetáculo. O texto é bastante superficial e não há qualquer conflito que o faça avançar, e muito menos alcançar uma reflexão verdadeira sobre “ as possibilidades de afeto, do calor humano e da delicadeza”, citando uma vez mais o programa. O diretor, ao que parece consciente das lacunas de seu texto para preencher os vácuos dramáticos, sobrecarregou a cena de berloques. Como a contracena nula com bonecos, as circunferências suspensas para sustentar a atriz na sua estendida preleção acrobática e a precária mistura de coreografia e performance, que não substituem a pouca força das palavras e a dificuldade de encontrar um desfecho. Rose Abdallah é uma atriz de recursos, com um timbre vocal encorpado e disciplina corporal, que se apagam nesta frustrada tentativa de moldar a individualidade criativa.                


Crítica/ A Dona do Fusca Laranja

Imagens roubadas de uma biografia de sentimentos motorizados
É inútil tentar circunscrever com definições fechadas algumas manifestações artísticas que, originalmente e por critérios mais convencionais, poderiam ser  teatrais. A Dona do Fusca Laranja  está neste caso. O evento artístico que acontece no hall do Oi Futuro do Flamengo, se parece com um espetáculo teatral. Afinal, existe um texto, escrito por Jô Bilac, uma atriz, Camila Rhodi, que forneceu ao autor o mote biográfico para fosse levado à cena, e uma platéia, que assiste a tudo como um espectador tradicional. Mas a ambientação não é inteiramente cenográfica, está mais próxima da instalação de artes plásticas. O uso de técnicas de projeção e de atuação performática, contrabalançam essa gênese, supostamente, teatral. Distribuída em três momentos, a performance (a definição é do diretor Fábio Ferreira e da atriz Camila Rhodi) se inicia três horas antes do horário oficial, com três espectadores circulando com a motorista Camila, em um fusca laranja, pelas ruas da cidade. Esta primeira etapa, à qual não me integrei e que é mostrada sem maiores conseqüências na longa sequência de imagens ao lado de vários fuscas em anúncios publicitários, se transforma no segundo momento. O terceiro, anunciado por uma performer, que prepara a entrada da atriz no seu fusca cubo transparente, lança os 50 espectadores à ego trip de alguém que decidiu falar de si, a partir do roubo de seu carro. Sem ser teatro tout court, somente uma meia performance, talvez uma instalação plástica, ampliando bastante o conceito, A Dona do Fusca Laranja se junta àquele núcleo de espetáculos em que a vontade de um intérprete de chegar ao palco, se utiliza de recursos múltiplos. Quase sempre com efeito contrário ao desejado.


Visual das Artes Cênicas Marca Encontro em Praga

Cenário de Sérgio Marimba para Mistério Bufo vai à Quadrienal
A Quadrienal de Cenografia e Arquitetura Teatral de Praga, que se realiza desde 1967, reunindo a produção mundial nestas áreas da criação cênica, este ano, na sua 12ª edição e que acontece na capital tcheca de 16 a 26 de junho, reúne em 10 mil metros quadrados cerca de 60 países, num panorama amplo e diversificado da produção dos vários continentes. Ao longo dos anos, a Quadrienal se modificou, ampliando a sua abrangência para acompanhar o espectro das mudanças, com as novas tecnologias das artes visuais aplicadas ao teatro. Tanto que em nova nomenclatura se desgina, atualmente, como Quadrienal de Praga: Espaço e Design Cênico, procurando reproduzir as manifestações contemporâneas do design das artes cênicas. Na busca de abranger as diversas e, algumas vezes, fluídas expressões da visualidade nos palcos e vizinhanças, a Quadrienal se segmenta em:
- Mostra Internacional Competitiva com os stands nacionais dos países participantes
- Interseção: Intimidade e Espetáculo – exibições performáticas durante a mostra, como as já definidas participações de Claudi Bosse, Árpád Schilling e Alice Nellis 
- Arquitetura – exposição de projetos, maquetes e fotografias, além de palestras sobre o futuro da arquitetura teatral
- Figurinos Radicais – exibição de figurinos de montagens por todo o mundo com materiais pouco convencionais e com meios inusuais de vestí-los
- Scenofest  - Dedicada a projetos de escolas de teatro e de artes em geral com a participação de 2000 estudantes dos cinco continentes
- Luz e Som – O desenho de luz e de sonoplastia nas artes cênicas e a sua importância nas artes contemporâneas em geral
- Palestras – Centenas de participações de artistas em conversas com o público. Entre os nomes confirmados: Es Devlin, Olaf Winter, Richard Sennet, Mark Friedberg e Kirsten Dehlholm.
 O Brasil, que participa desde a primeira edição – só esteve ausente em 1983 -, este ano leva para a exposição mundial uma representacão bastante expressiva:
- Na Mostra Internacional, 24 trabalhos, divididos em quarto eixos (Memória, Lugares, Ação, Transposição), com 37 artistas diretamente indicados e mais de 130 na ficha técnica. Analú Prestes com o cenário de Sonhos para Vestir, participa do Memória, além  dos cenários de As centenárias (Rostand Albuquerque e Fernando Mello da Costa), Memória da cana (Marcelo Andrade e Newton Moreno), Hoje é dia de Maria, A farsa da Boa Preguiça, A Chegada de Lampião no Inferno, Fábulas Dançadas de Leonardo da Vinci, e Retratos Pintados por Artistas Anônimos no Nordeste  Brasileiro.
No eixo Lugares, temos BR-3, Barafonda, O Santo Guerreiro e o Herói Desajustado, Arrufos, O Perfeito Cozinheiro das Almas Desse Mundo.
No eixo Ação: Projeto Coleções, Formas breves, Mistério-Bufo (Sérgio Marimba), Vale 1 real e Enquadro.
No eixo Transposições: osgemeos, Romeu e Julieta, de Hélio Leites, Caixa de Imagens, Coletivo Laporg.
Radicalismo do Cena 11
No de Arquitetura: O projeto Teatro Oficina + Universidade Popular + Oficina de Floresta + Teatro Estádio, concebido por José Celso Martinez Corrêa.
 No das Escolas: 30 trabalhos, envolvendo mais de 150 alunos de 12 escolas de seis estados.
 Em Figurinos Radicais – Participa com quatro figurinos, que na  exposição, que terá apenas 30 no total. O Brasil é o país com maior participação nesta seção. Os figurinos escolhidos foram os de Marina Reis, de São Paulo; Desirée Bastos, do Rio; Leo Fressato, do Paraná e do grupo  Cena 11, de Santa Catarina.
A representação brasileira já foi premiada na QuadrienaL de Praga com a Triga de Ouro, como se designa a láurea máxima da exposição. Hélio Eichbauer ficou com o prêmio na segunda edição, em 1971. Em 1995, a Golden Triga pelo conjunto de trabalhos  foi dividida entre J.C. Serroni, Daniela Thomas e José de Anchieta, que na edição seguinte, em 1999, ficou com a medalha de ouro pelo  conjunto de projetos na seção Arquitetura Cênica. 


                                                 macksenr@gmail.com