quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Temporada 2018


Crítica/ “Heisenberg – A teoria da incerteza”
Metáforas para drama psicológico

A teoria da incerteza, que acompanha o Heisenberg do título, revela menos sobre a física quântica  na qual se inspira, e se mostra mais intrigante pelo sobrenome de seu criador, que o inglês Simon Stephens adotou para o texto que assina, que o diretor Guilherme Piva dirigiu e está em cena no Teatro Poeira. Por quaisquer das aproximações que o autor tenha pretendido com questões suscitadas pela física, é bastante discutível que tenha sequer se avizinhado do proposto. A imprevisibilidade das reações quando substâncias se encontram, como analisa a ciência, não a torna autônoma na transferência à representação dramatúrgica. A mulher que aborda um velho homem solitário  numa estação de trem, desdobra esse primeiro contato em outros em que o mistério das vidas e motivações de cada um estão inversamente proporcionais ao desvendamento parcial do passado e dos desejos do momento. Secretos nos sentimentos, improváveis no afeto, vulgares nas histórias, ela, ex-garçonete, recepcionista de escola, ele, açougueiro, são feitos dessa matéria que junta sem fundir. Soltos, desgarrados, dispersos, os personagens estabelecem um jogo de dissimulações que se apoia num drama psicológico de viés tradicional. A estranheza nos comportamentos e a metáfora nas atitudes desequilibram a narrativa que, de base realista, mantém o caráter evolutivo e trama que se “resolve” no final. A direção acentua esse descompasso com projeções inúteis que se imagina ajudariam a situar a ação no tempo. Dispensáveis como apoio para o que parece obscuro, as projeções excessivas contrastam com o franciscano cenário e a  fragilidade da tensão na contracena do elenco. Guilherme Piva demonstra dificuldade em sustentar, com meios tão enxutos, linha interpretativa que conduza ao desfecho que, aparentemente, deveria atingir a contundência. De tão débil, encerra a montagem com indiferença. Everaldo Pontes estende ao físico o desenho da atuação. Barbara Paz empresta intensidade impostada ao seu natural registro de atriz.