terça-feira, 7 de agosto de 2018

Temporada 2018


Crítica/ “Pippin”
Imagem fixada à criação de Bob Fosse

O musical da dupla Stephen Schwartz e Roger O. Hirson nasceu em 1967 como produção amadora para explodir na Broadway, cinco anos depois, com a direção e coreografia de Bob Fosse. Essa passagem do amadorismo ao brilho no distrito dos teatros de Nova Iorque deve a Fosse muito, ou quase tudo, de seu sucesso. Na história de Pepino, o jovem filho do imperador Carlos Magno experimenta da guerra a vida doméstica na tentativa de encontrar o sentido para sua vida. É conduzido nesta saga por mestre de cerimônias, que comanda trupe de comediantes e convida a plateia a segui-la no percurso de autoajuda de quem está à procura de descobrir-se. A mágica da representação e a ilusão do palco se revelam insuficientes para Pippin ser protagonista do “grand finale” existencial, decidindo, ao final, buscar-se em si mesmo. Meio histórico, algo pretensioso, aparentemente renovador, o musical deve ao diretor e coreógrafo original o traço definitivo nas posteriores encenações. Seja na brasileira de 1974, ou na americana de 2013, o toque irretocável dos movimentos quebrados dos corpos e das mãos, e os contrastes do ilusionismo do libreto com o tradicionalismo das canções, Fosse continua a determinar o padrão cênico que se impõe às remontagens. Não é diferente na direção de Charles Moeller, que segue na estrutura e essência os parâmetros estabelecidos e os paradigmas apontados, com desvios inspiradores na versão circense de há cinco anos. A dobradinha Moeller-Claudio Botelho (responsável da versão das letras) continua afiada no acabamento técnico e artístico de um gênero exigente nos detalhes e feérico no conjunto. A montagem corre, sem atropelos,  sob o trilho da competência, com grupo de profissionais que dominam seu métier. Ainda que o cenário de Rogério Falcão demonstre criteriosa execução, que se estende aos adereços, ganhe algum peso com o ar sombrio, mas  que a iluminação de Rogério Wiltgen amenize em momentos certeiros. Mesmo que os figurinos de Luciana Buarque imprimam colorido e brilho em vestes com bom acabamento, resvalem em excessos. A direção musical de Jules Vandystadt e a orquestra de dez músicos transpõem com minúcia sonora e execução límpida a partitura. A trupe de atores-bailarinos cumpre com vigor os desafios coreográficos. O restante do elenco dispõe de boas oportunidades para solos, que a maioria aproveita bem. Nicette Bruno tem participação, além de envolvente e quase afetuosa, com pede a descolada velhinha, canta com potência e interpreta com vivacidade. Jonas Bloch lança sua voz robusta na majestade de Carlos Magno. Adriana Garambone empresta a sua bela figura à madrasta e encontra o tom de humor, tanto corporalmente, quanto na voz. Cristiana Pompeo, a quem ficou reservada atuação no longo segundo ato, procura desempenhar a função da mineirinha. Luiz Felipe Mello, o menino que surge em pequenas participações, brilha em cada uma delas, em especial na última cena. Guilherme Logullo sucumbe ao implausível Lewis. Totia Meirelles conduz como a mestre de cerimônias o andamento do show, com voz poderosa e corpo flexível. Falta a Felipe de Carolis segurança na atuação e técnica vocal. Um Pippin sem qualquer empatia.