Crítica/ “Justa”
Newton Moreno, autor de “Justa”, busca com
abrangência temática, duplicidade estilística e narrativa alegórica, metáfora
cênica para o que define como peça-manifesto. A corrupção, endêmica nos
plenários legislativos, se confunde com a prostituição, símbolo da hipocrisia
dos costumes, impulsionada por assassinatos justiceiros. Fábula de tantas
morais e crítica de faltas éticas, ambiciona o palanque indignado com a sedução
da crônica policial. São tantas as intenções, que resta muito pouco de
consistência. O texto é narrado, e a ação discursiva, com os diversos pontos
referenciais dispersivos (mistério, notícia, protesto) em trama sem ritmo
evolutivo e peso provocador. O entrecho
converge para o discurso final, alvo da aversão que se imagina ter sido
provocada pela exposição descritiva das misérias da política e violência da
redenção. Como o caminho até ao exaltado manifesto é pouco calçado, a chegada é
inexpressiva, longe do impacto pretendido e esvaziado por falsa eloquência. A
cenografia de André Cortez aponta para direção bem diferente daquela adotada
por Carlos Gradim. A proposta do cenógrafo é de jogar com o tom discursivo do
texto, projetando uma bancada, com vários microfones e telas para exibição de vídeos
de conotação dramaticamente explícita. A ambientação sugere uma palestra cênica,
tirando partido da frontalidade da ampla mesa e da interferência das exibições.
O diretor ignora o cenário, com marcações em torno do móvel de movimentação
aleatória e gestos de significação intrigante. O desenho do diretor acentua o
caráter palavroso de rede expositiva que quer capturar indignação social e causar
resposta ativa. Patina nos bons propósitos, e escorrega na inflexão. A luz de
Telma Fernandes compensa a subutilização do cenário, e a trilha sonora original
do Dr Morris pontua a cena. Rodolfo Vaz assume, na integralidade, o papel de
narrador, proposto pelo texto. Segue, com modulação informativa e certa
linearidade vocal, o roteiro de descrever. A Yara de Novaes é imposta atuação
que, mais ilustra do que interpreta.