Crítica/ “O
teatro de sombras de Ofélia”
De uma caixa de ponto, a voz de Ofélia instruiu
os atores a agir em cena, até que não há mais teatro e somente lembranças nas
falas de Shakespeare e Tchecov. Sombras caem sobre o palco vazio e vida sem figura
própria da agora velha sai emudecida de cena. Fábula infantil do alemão Michel
Ende, a história da solitária Ofélia se confunde com a projeção de imagens
movimentadas em contraluz que ilumina contrastes. A adaptação teatral de Jonas
Klabin, que traduz em várias linguagens (manipulação, música, palavra, gesto)
narrativa onírica, está centrada na técnica do teatro de sombras e no manejo da
luz. É necessário dar existência ao escuro, penetrar no mistério do teatro e nas
trevas do abandono. Ampliar sentimentos em miniatura com luminosidade ilusionista
é o desafio de montagem para sustentar o
espírito artesanal de origem. A direção de Jonas Klabin procura unir tantos e
tão variados elementos em espetáculo que se integre a variedade de seus meios, e
crie envolvência de melodrama lírico e de tributo às artes cênicas. A tentativa
é parcialmente alcançada pela equipe empenhada em encontrar unidade expressiva na
diversidade das exigências. A direção musical, composição e arranjos de Thiago
Trajano insuflam sonoridade poética e sublinham o desenho harmônico da direção
de arte e cenografia de Bia Junqueira. As projeções de Barbara Castro e Luiz
Ludwig e manipulação de Carolina Garcia se destacam na luz de Luiz Paulo Nenen.
E as interpretações dos atores e músicos – Carolina Garcia, Frederico
Cavaliere, Grasiela Muller, Maria Clara Valle, Pedro Gracindo, Rafaela Amado e
Zé Azul – fazem coro para o andamento delicado. Apesar de todo esse arcabouço
criativo e dos destaques da equipe, “O teatro de sombras de Ofélia” não alcança
o impalpável da fantasia e volatilidade do sonho.