domingo, 16 de outubro de 2016

Temporada 2016

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (16/10/2016)

Crítica/ “5X Comédia”
Fabiula Nascimento dá vida à inconsistência 
A ordem dos fatores, como determina a operação de multiplicar, não altera o produto. Na apresentação dos esquetes de “5 X Comédia” a lei matemática fica arranhada pela sequência de como cada um deles se arruma para atingir o resultado final. Talvez se a ordenação fosse outra, pudesse equilibrar a dosagem do humor e evitar o decrescente estímulo ao riso. Mas será que o problema está, somente, nas prioridades em cena? O ponto de partida dos autores foi castigar a hipocrisia de moralismos e fotografar atitudes que banalizam os vazios sociais. As intenções ficam a meio do caminho, ao tornar piada a boa ideia inicial, que se alonga em ação discursiva de humor esfacelado pela reiteração e dificuldade de sustentar o mote. Júlia Spadaccini, autora de “Branca de Neve” é quem leva mais adiante e com melhor resultado cômico, as agruras da personagem, desbancada na preferência das festas infantis e nas perdas em papéis femininos. Antônio Prata embala em “Nana, nenê”, a maratona para enfrentar o choro dos bebês. Jô Bilac transfere em “Arara vermelha”, a luta de poder para uma pet shop. Pedro Kosovski registra, em “Milho aos pombos”, o patético na busca de celebridade. E Gregório Duvivier brinca em “Regras de convivência” com processos de criação teatral. Apresentados nesta sequência, os quadros na direção de Monique Gardenberg e Hamilton Vaz Pereira ganham melhor ressonância na cenografia de Daniela Thomas e Camila Schmidt, figurino de  Cássio Brasil, nas projeções de Radiogáfica e iluminação de Maneco Quinderé. O visual comenta os textos com imagens divertidas. Mas no centro das comédias, e para além das hesitações dos autores, está no quinteto de atores que agarra o humor com empenho. Fabiula Nascimento, numa composição de corpo e voz para uma arara sem graça, dá vida à  inconsistência. Débora Lamm é impiedosa com a perplexidade da Branca de Neve. Lúcio Mauro Filho se desdobra como o marido que assiste à orgia criativa, e Bruno Mazzeo é o pai acossado na busca do silêncio do filho. Apenas Thalita Carauta se mostra um tanto dissonante como a figurante.