sábado, 6 de dezembro de 2025

Temporada 2025

 


Há um ano, lançava algumas perguntas sobre o que a temporada teatral carioca de 2024 deixava como dúvidas para os próximos tempos. Algumas delas perderam a urgência, como as condicionantes do “novo normal” (a convivência com o digital, as formas de publicização). Outras, se tornaram mais agudas e menos próximas de respostas (pautas identitárias e ativismo agit-prop têm fôlego para se manter vivo com expressão cênica? / o teatro, dito comercial, tem encontrado ressonância  em “seu” público? / os meios de produção estão mais restritivos?). Indagações permanecem e acomodações acontecem em ritmo vagaroso, num processo de desconfiança em relação às próprias forças de regeneração e aos reais desejos e verdadeiras ambições. Não há escassez de espetáculos (cerca de 300 no total). A ocupação das salas, ainda que em temporadas curtas, e com apenas três sessões semanais (sexta, sábado, domingo), tem essa acelerada rotatividade bem preenchida. A reação das plateias é bastante razoável, frente às questões de violência urbana e de mudanças no perfil de consumo. Duração curta de apresentações e reativação da lembrança e interesse na conquista de outras platéias, trazem de volta montagens: das longevas (2009) “In on it” e “Simplesmente eu: Clarice Lispector”,  às mais recentes (2017) “Tom na Fazenda”, (2022) “Ficções”. (2024) ”Lady Tempestade” e “Prima Facie”. A oferta se revela ampla em estilos e gêneros, mas demonstra uma certa sedimentação de cada uma das linguagens. Espaços para arriscar são tímidos, quase inexistentes, ameaçados pelos limites de produção e por vacuidade criativa. Esses fatores – acomodação e pouco recurso -  condicionam repetitiva dramaturgia de dupla/casais (“Fica Comigo esta Noite”), de produtos embalados em problemas domésticos (“A Sabedoria dos Pais”), administrados com maior ou menor tom de comédia (“Férias”). A derrama de musicais, biográficos (“Tom Jobim Musical”/”Pérola negra do samba”), de uns poucos importados (“Hair”, “Mamma Mia”), e de algum híbrido (“Chatô e os Diários Associados – ­­­­­­100 anos de paixão”), compete com proliferação de  monólogos  (“Céu da Língua”, “O Motociclista no Globo da Morte“) Onipresentes em qualquer temporada, seja em textos originais ou adaptados, Nelson Rodrigues (“Perdoa-me  por me traíres”) e Clarice Lispector (“Silêncios Claros”) se mostraram imbatíveis como aposta, em encenações, algumas vezes, distantes e exteriores às características de suas obras. Diretores com linhas de trabalho mais delineadas por estética em busca de afirmação autoral, mantiveram-se coerentes com suas propostas cênicas. Registre-se a fidelidade de Márcio Abreu (“Ao vivo {dentro da cabeça de alguém}”) na captura de ressonâncias de tempos fragmentados. A circulação de Luiz Felipe Reis (“Eddy – Violência & Metamorfose”) em torno de questões de comportamento e violência. A transposição de Rodrigo Portella (“Um Ensaio sobre a Cegueira”) de material literário. E a sequência Daquela Cia/ Marco André Nunes e Pedro Kosovski (“Veias Aberta 60 30 15 seg”)  em montagens de interseções expressivas. O ano teatral sugere o uso do termo “movimento estático”, paradoxo/oximoro para figurar imagem de tantas contradições. A temporada caminhou por trilhas já muito pavimentadas, enfrentadas com meios enfraquecidos, percorridas no silêncio de sobrevivência acuada. A cena carioca (sobre)vive, mantem as forças a todo custo, em movimentos lentos e hesitantes, que às vezes parecem querer se deixar abandonar.