sábado, 7 de janeiro de 2017

Temporada 2017

Crítica do Segundo Caderno de O Globo (7/1/2017)

Crítica/ “A invenção do amor”
O amor nos tempos das cavernas

A comédia com assinatura dupla de Alessandro Marson e Thereza Falcão se frustra por não encontrar o verdadeiro tom de seu humor. Ao localizar na Idade da Pedra os primórdios da relação amorosa, o casal de Homo Sapiens (Croc) e Mulher de Neandertal (Nhaca) estabelece um criacionismo às avessas, introduzindo as bases do amor romântico tal como perduram até hoje. Ao contestar a monogamia masculina, a mulher presa às funções de dona de casa e mãe, interdita a entrada do homem na caverna, até que ambos se jogam no divã do doutor Freud Flinstone para uma DR básica. Em meio a essa discussão desgastada por milênios, o tempo é subvertido por idas ao harém do Rei Salomão e ao balcão de Romeu e Julieta, estacionando na guerra de sexo comandada por Lisístrata e se descolorindo nas tonalidades cinzas das fantasias sexuais de Croc Grey e Nhaca Anastasia. Com tantas comentários fora de prazo e deslocado de lugar, os autores se dispersam na intenção de acomodar uma comicidade de citações a um humor de situação, ralo. As projeções com a atualidade são pouco mais do que simuladores de celulares em ossos e embalos de música brega e românticas. O diretor Marcelo Valle  não vai além de dar um aspecto correto à sequência de cenas nas quais a ideia original de inventar o amor no escuro das cavernas se mostra tão apagada quanto as fagulhas de piadas distribuídas pela extensa duração do espetáculo. Maria Clara Gueiros e Guilherme Piva perseguem o humor que o texto oferece em doses mínimas, mas que defendem com espírito de tradicionais comediantes. A melhor e única piada desta pouco inventiva gênese do sentimento do acasalamento é o figurino de Marcelo Olinto. Com elementos que se incorporam aos trajes de pele do casal, Olinto comenta de maneira crítica e bem humorada as mudanças por que passam ao longo da trama. O truque de teatro da roupa e concentra no desnudamento do torso. É quando o humor acontece.