Crítica do Segundo Caderno de O Globo (27/9/2017)
Crítica/ “A Sala
Laranja: no Jardim de Infância”
“A Sala Laranja: no Jardim da Infância” é uma
comédia que estabelece sua comunicabilidade no paralelismo entre o mundo adulto
e o infantil. O texto da argentina Victoria Hladilo descreve reunião de pais para
decidir o melhor funcionamento das atividades da escolinha, reproduzindo
atitudes que transformam os filhos em representações mirins de competitividade,
poder e frustrações. As relações entre eles, que se revelam mais íntimas do que
seria suposto existir, desvendam inoportuna convivência com preconceitos e
agressividade mútuas, em diferenças lúdicas de sentimentos. Na sala de
recreação, cenário infantilizado para psicodrama de jogos perigosos, os
contrastes com a ambientação tornam ainda mais agudos os diálogos ríspidos
sobre a construção de elefante de papelão e preparativos de festas de
aniversário. O eixo narrativo, à volta do qual se fazem as correspondências dos
dois universos, está fixado em situações cômicas, que sem perseguir o riso como
fim em si mesmo, provocam com humor inteligente, encontro agradável com a
comédia. O diretor Victor Garcia Peralta distendeu a comicidade, com traços
levemente dramáticos da autora, ao limite dessas fronteiras, demarcando o
território de gags humorísticas com o
da comédia de costumes. O ponto de convergência está no equilíbrio com que a
montagem chega à plateia, fluente, envolvente, divertida. Eventual sobrecarga na
trama, e pequenas fraturas na relevância de personagens, são dribladas pelo
diretor pela manutenção de ritmo constante e capacidade de sustentar o
interesse, mesmo quando ameaça cair. A proximidade da cena com o público, pelas
dimensões do palco do Teatro Cândido Mendes, permite intimidade com a ação,
capaz de preencher com o corpo a corpo das interpretações , os relativos vazios
e repetições do entrecho. O cenário de Dina Salem Levy, simples, mas que
ambienta, apropriadamente, uma salinha de brincadeiras infantis, acrescenta com
esse visual atraente, mais envolvência à montagem. Os atores, alinhados com a
cadência das falas e ao compasso dos temperamentos, trazem os personagens ao
melhor foco. O elenco feminino – Renata Castro Barbosa, Isabel Cavalcanti,
Priscilla Baer e Daniela Porfírio – em harmoniosa contracena com o masculino –
Rafael Sieg e Robson Torinni – formam conjunto de boas performances.