domingo, 17 de junho de 2018

Temporada 2018


Crítica do Segundo Caderno de O Globo (17/6/2018)

Crítica/ “O Homem de la Mancha
Quixote na figura de musical clássico

O musical de Dale Wasserman, com música de Mitch Leigh e letras de Joe Darion, que estreou na Broadway em 1965, ganhou a etiqueta de “clássico”, não só pelo sucesso popular, como pela canção “Um sonho impossível”, que foi ampliada para além do palco. Chegou a cinema, com direção de Arthur Hiller, em 1972, mesmo ano em que começou temporada no Brasil, com encenação de Flávio Rangel e versão das canções por Chico Buarque e Ruy Guerra. Nos papéis centrais, Bibi Ferreira, Paulo Autran e Grande Otelo. O histórico de durabilidade dessa adaptação aos cânones dos musicais da obra de Miguel de Cervantes permite que, depois de tantas montagens no mercado mundial, permaneça íntegra na sua concepção. Na direção e adaptação de Miguel Falabella, nada se perdeu e muito se ganhou. A transposição da trama para um manicômio, acrescentou comentário cênico aos delírios do Cavalheiro de Triste Figura e ao ambiente inquisitorial de origem. Seguindo a trilha tradicional do binômio emoção-drama, em que o gênero se equilibra, Falabella integrou uma suavidade, quase enternecedora, a ação que busca arrebatar. Há um tratamento abrasileirado na maneira como expõe, trabalhando a procura da emotividade em compasso com a exaltação. O critério e cuidado do adaptador e a generosidade do tempo com o viço da obra, mantêm nesta montagem o prazer de assistir a um espetáculo que estabelece comunicabilidade fluente com a plateia. Os efeitos de cenário, iluminação, coreografia, figurino e canto, centrais nos protocolos das comédias musicais, estão todos administrados por direção que os projeta em semitons. O cenário, de grandiosidade funcional, é iluminado com misto de sombreado colorido e luminosidade feérica. O figurino de Claudio Tovar se inspira, com alto padrão de criatividade, nas telas e roupas de Bispo do Rosário. A direção musical de Carlos Bauzys é precisa e vibrante, com sensibilidade às modulações das sonoridades. A coreografia de Kátia Barros acompanha a circularidade do cenário com as rodas formadas pelo  conjunto dos atores-bailarinos. As atuações do trio – Cleto Baccic (Quixote), Sara Sarres (Aldonza) e Jorge Maya (Sancho) – valorizam e garantem a vitalidade de um musical que ainda pulsa.