quarta-feira, 9 de maio de 2018

Temporada 2018


Crítica do Segundo Caderno de O Globo (9/5/2018)

Crítica/ “Nara – A menina disse coisas”
Imagem roteirizada da cantora de "Carcará"

O espetáculo “Nara – A menina disse coisas” indica com esse título, retirado de crônica de Carlos Drummond de Andrade, que a lembrança de Nara Leão ganhará em cena a voz da cantora, relembrando seu ativismo discreto em movimentos musicais e na vida política das últimas décadas do século passado. É o que se assiste a partir do roteiro de Hugo Sukman e Marcos França, uma pesquisa biográfica-jornalística, musicada pelo repertório da “pobre menina rica”. Mas não há definição muito clara na forma como a trajetória da jovem tímida na história da MPB é projetada no palco. Como musical de bolso acomoda muita informação em estilo telegráfico para apoiar a sequência de canções. Como recital, valoriza a direção musical de Guilherme Borges e a participação vocal e instrumental de Marcos França. E destas variantes de estilo, surge o show roteirizado, que reproduz, factualmente, mais do que projeta teatralmente. A direção de Priscila Vidca segue a seriação entre texto e música, obedecendo ao caráter introdutório e ao paralelismo dos fatos, trazendo comentários, e dimensionado, parcialmente, a imagem da biografada. Nara não é exaltada ou homenageada na trilha dos musicais de reverência. Contradições, insegurança, força criadora aparecem na avaliação investigativa, mas sem a  iluminação que capture a luz própria da personagem, que se projete com luminosidade. O show-recital-musical-quase monólogo se distribui por tantos formatos que, agravados pela flacidez da encenação, sobrevivem ao tentar a padronização no reacender a memória e recordar outros tempos. A simplicidade da cenografia de Pati Faedo, a iluminação expandida de Paulo César Medeiros e o figurino sugestivo de Paula Stroher compõem o quadro de ambientação agradável. Os músicos – Ralphen Rocca, Nelson Freitas, Erick Soares, David Nascimento e Leo Bandeira – revivem sonoridades da bossa nova, samba tradicional à jovem guarda, gêneros visitados pela voz da primeira intérprete de “Carcará” no show “Opinião”. Marcos França tem participação mais destacada como músico do que com as suas pequenas intervenções como ator. Aline Carrocino, caracterizada com o mesmo cabelo, camisa social e calça jeans da cantora, retira de alguns de seus gestos e timbre vocal a inspiração para uma Nara que canta mais do que diz coisas.